Hidrogênio Verde – mais uma
porta que se abre para o agro
O hidrogênio verde, como é chamado a versão menos poluente do combustível, tem um importante papel no processo de transição energética mundial, de modo que estimula a disseminação de energias renováveis.
O hidrogênio é o elemento químico mais leve e possui alto valor energético: sua queima libera três vezes mais energia do que a gasolina.
Diferentemente dela, no entanto, caso seja obtido por meio de fontes renováveis, como água, biomassa e biogás, não emite substâncias nocivas para o ambiente; ou se emite, a liberação ocorre em menor quantidade.
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É considerado o combustível do futuro, podendo contribuir para um mundo sem emissões de carbono (gás responsável pelo aumento do efeito estufa).
Este ano, Bill Gates, fundador da Microsoft e um dos homens mais ricos do mundo, lançou um livro chamado "Como evitar um desastre climático", no que o bilionário classificou o hidrogênio verde como sendo a melhor inovação dos últimos tempos para combater a elevação da temperatura média do planeta.
Em relação aos níveis pré-industriais, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), a Terra já está 1,1°C mais quente.
Conforme relatório da Swiss Re, empresa de seguros da Suíça, um aumento de 2ºC na temperatura média da Terra até 2050 pode acarretar perdas de 10% do PIB mundial.
Segundo Tomaz Nunes, doutor e professor de engenharia elétrica da Universidade Federal do Ceará, é possível afirmar que o uso do hidrogênio como combustível é uma das fortes alternativas que a sociedade possui para minimizar os impactos ambientais e, consequentemente, econômicos.
Para ele os únicos lados negativos do hidrogênio verde não tem a ver com o combustível em si, mas as atuais barreiras para a implementação dessa alternativa energética, como custo de produção alto pela falta de escala econômica, rede de logística de transporte eficiente e disponível e políticas públicas bem definidas e um marco regulatório bem delineado visando a sua implementação definitiva.
O que é o hidrogênio verde?
“No sentido da sustentabilidade e da preservação do meio ambiente, hidrogênio verde é um termo utilizado para se referir ao hidrogênio obtido a partir de fontes de geração de energia elétrica renováveis, as mais usadas são as eólicas e as fotovoltaicas, em um processo no qual não haja a emissão de carbono”, diz Nunes.
Embora seja uma substância abundante na atmosfera, é um gás que não encontramos naturalmente disponível para a geração de eletricidade e, por isso, deve-se utilizar de processos tecnológicos para a sua obtenção, sendo o mais usual a eletrólise da água (hidrólise), processo em que a molécula H2O é transformada em hidrogênio e oxigênio.
Equação Química: 2H2O = 2H2 + O2
A eletrólise para a obtenção do hidrogênio verde, todavia, é ainda muito cara em relação à produção do hidrogênio tradicional (obtido por meio de fontes não-renováveis).
O hidrogênio verde também pode ser obtido a partir da utilização de biomassa ou biogás. Essas fontes representam uma ótima oportunidade para setores produtivos brasileiros que podem fornecer matéria-prima para a produção do combustível, como o setor sucroalcooleiro.
Ceará larga na frente
O Estado do Ceará receberá a primeira usina de hidrogênio verde do Brasil com operação já em 2022.
Instalada no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) e terá capacidade de 3 MW e um módulo eletrolisador de última geração para produção do combustível com garantia de origem renovável.
A unidade modular terá capacidade de produzir 250 Nm3/h do gás. O projeto da usina de H2 foi apresentado pelo CEO da EDP no Brasil, João Marques da Cruz.
O projeto do Governo do Estado do Ceará visa analisar a cadeia de produção e armazenamento do gás; modelos de negócios; parcerias estratégicas com indústrias, empresas de serviços e empresas automotivas; e adaptações em mobilidade utilizando o hidrogênio verde como combustível em transportes rodoviário, ferroviário, aéreo e marítimo.
Além disso, mais quatro protocolos de entendimento para construção de usinas de hidrogênio verde no Ceará foram assinados na quarta-feira, 13 de outubro, pelo governador Camilo Santana.
Representantes das empresas Eneva, Diferencial Energia, Hytron e H2helium Energia assinaram o documento no Palácio da Abolição, sede do governo estadual.
"Esse é mais um passo importante para o futuro. Vamos, agora, trabalhar para que o Ceará se torne um grande hub do hidrogênio verde", declarou Camilo ao término das assinaturas na companhia de secretários de Estado, Federação das Indústrias do Ceará e Universidade Federal do Ceará.
Uma aposta para o futuro
As pressões para "descarbonizar" o planeta e reduzir a poluição ambiental têm levado empresas a apostar no hidrogênio verde. Companhias de petróleo como Repsol, BP e Shell estão entre as marcas que lançaram projetos nesse sentido.
Além disso, muitos países apresentaram intenção de produzir este combustível.
A União Europeia (UE), por exemplo, em 2020, disse que iria investir US$ 430 bilhões em hidrogênio verde até 2030. A ideia é implantar eletrolisadores de hidrogênio renovável de 40 gigawatts (GW) para alcançar a meta de reduzir as emissões de carbono até 2050.
Por sua vez, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu que garantirá, dentro de dez anos, que o mercado tenha acesso ao hidrogênio verde ao mesmo preço do hidrogênio convencional, proporcionando uma nova fonte de combustível limpo para algumas centrais elétricas existentes no país.
Além disso, a Enel Green Power, empresa alemã de energia, planeja se tornar uma empresa com zero emissão de carbono até 2050 e trabalha para criar instalações híbridas que consistem de usinas de energias renováveis combinadas com eletrolisadores para produzir hidrogênio verde. O combustível será vendido aos clientes da Enel para a descarbonização de seus processos.