Centenário de Nelson Rodrigues 1912/2012 23/08/2012
- Hélio Consolaro - blogdoconsa.blogspot.com
"Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico(desde menino)." - Nelson Rodrigues
Neste ano estamos comemorando o Centenário de nascimento de Nelson Rodrigues (Recife, 23 de agosto de 1912 — Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 1980).
O maior dramaturgo brasileiro, criativo, revolucionário, suas peças teatrais eram romanceadas, fortes, contundentes. Mas Nelson Rodrigues brilhou também como cronista esportivo, sendo que só Armando Nogueira, tempos depois, fez trabalho jornalístico do mesmo nível.
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Seu irmão, Mário Filho teve seu nome dado ao Maracanã: Estádio Mário Filho! Apaixonado pelo Fluminense, sabia ser imparcial em seus comentários. Produziu romances, crônicas e, na política, foi um vencedor ao tratar com coragem temas difíceis e ao dar o perfil – sem maquiagem! - de políticos e religiosos famosos. Vamos ver um pequeno trecho de Nelson Rodrigues:
“A partir do momento em que uma imagem aparece e desaparece, ela perde para a linguagem escrita que perdura. Esse é um aspecto fundamental do problema, que deveria colaborar para tornar os dois gêneros coexistentes. Fazendo um jogo de palavras, diria que a leitura é sobretudo a releitura. Reli muitas vezes “Crime e Castigo”, “Os irmãos Karamazov”, “Ana Karerina”, Machado de Assis, porque apenas a leitura não basta. É preciso a releitura, para que haja uma relação mais profunda entre o leitor e o que ele lê. Com a televisão, com a imagem, isso não é possível. A leitura é mais inteligente, porque estabelece não só uma relação mais profunda, como também uma intimidade maior entre o leitor e o livro.
O texto literário continuará existindo daqui a 1.200 anos. Ele não morre, porque se ele morrer o mundo começará a morrer junto.”
Criticado por seus textos fortes, chamados de pornográficos, ele reagia dando à sua coluna no jornal o título de “A VIDA COMO ELA É...” Mostrando, assim, a seus críticos que apenas descrevia os fatos com sua própria e cruel realidade. Famoso pela frase “O ÓBVIO ULULANTE”, Nelson repetia e repetia e repetia que era o óbvio ululante a realidade da vida e da ação das pessoas o que muita gente procurava não ver...ou esconder!
Recentemente foi encontrado um vídeo nos Estados Unidos sobre Nelson Rodrigues que merece ser visto. Em uma parte, aparece Nelson fazendo palestra e embevecido, um jovem intelectual fazia perguntas: era o escritor Paulo Coelho, à época, de cabelos pretos, sem barba e de bigode...É Registro Histórico!
Particularmente, para mim, Nelson Rodrigues, sempre foi um norte, em termos de jornalismo dinâmico, objetivo, sempre indo ao cerne dos problemas e, sempre, dando a sua opinião corajosa e contundente. Em 1970, ao lançar o meu primeiro livro dedicado à participação do jovem na política e no exercício da cidadania, “A JUVENTUDE: PARTICIPAÇÃO OU OMISSÃO”, fazia de um trecho de artigo de Nelson Rodrigues, a página de abertura. Olhem que texto inteligente e, já àquela época, corajoso e contundente:
O escritor e biógrafo Ruy Castro é o autor do livro “O ANJO PORNOGRÁFICO”, que mostra toda a trajetória de Nelson Rodrigues, sua família, seus sonhos e suas frustrações:
“Em 'O Anjo Pornográfico', Ruy Castro deixa claro que não quer analisar a obra do escritor, dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues. Ele irá, sim, contar histórias.
Banido qualquer julgamento ou descrição de lugares ou personagens, ele se prestou a destrinchar, detalhar, esquadrinhar, relatar fatos com precisão e riqueza de detalhes.
O maior tesão do livro fica por conta da localização de cada caso e de cada pessoa, no contexto histórico e cultural, por onde ia passando Nelson Rodrigues, seja no caminho intelectual ou artístico, político ou econômico. Ruy Castro envolve as histórias particulares de Nelson com os fatos da época e nos proporciona a inusitada experiência de aprender o escritor incompreendido e conhecido, apenas, como tarado ou reacionário.
O ponto alto do livro é a família Rodrigues. É possível conhecê-la desde o casamento dos pais de Nelson Rodrigues. Pura e apaixonante novela mexicana.
A leitura de “O Anjo Pornográfico” é prazerosa, derrete na boca, se não pela história, pela fluidez da narrativa de Ruy Castro, fácil, leve e cheia de suspense devido à estratégia que o autor tirou da manga, a cereja do bolo: o ponto final de cada capítulo é colocado num trecho meticulosamente escolhido pra segurar o leitor cheio de curiosidade, e ansioso pelo início da próxima narração.
Entrelaçada, a narrativa vai e volta pelos capítulos que vão sendo substituídos por outros para voltarem logo ali adiante, quebra da ordem cronológica, num recurso dinâmico, rápido, compassado.
Devo ter enchido a paciência de muita gente, pois lia em voz alta, em qualquer lugar, na presença de qualquer um, trechos que tinham acabado de me encantar, repetia frases marcantes ... coisas de tiete.” - Requeri -
Esta é uma homenagem singela a esse grande jornalista, escritor, cronista esportivo e dramaturgo brasileiro. Que se reeditem seus livros e que encenem suas peças teatrais que marcaram definitivamente a História do Teatro Brasileiro.