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TEMA LIVRE : Valéria Del Cueto
Cine Ópera
27/09/2015
Belém do Pará estava na mira fazia tempo. Só faltava o motivo inadiável para uma nova aventura amazônica. Que tal a estreia do cineasta Fernando Meirelles, indicado ao Oscar por “Cidade de Deus” e “O Jardineiro Fiel”, na direção de uma ópera?
No caso, Os Pescadores de Pérolas, de Georges Bizet, destaque do XIV Festival de Ópera do Theatro da Paz.
Antigamente chamaríamos de combo ou “três em um”, o que hoje é multimídia mesmo. Inclusive geográfica. A exótica ilha do Ceilão onde se passa a narrativa é representada no palco, nas finas telas transparentes de cinema que compõem a cenografia assinada por Cássio Amarante, por planos rodados no Jardim Botânico Amazônico de Belém, o Bosque Rodrigues Alves.
A cena abre com uma imensa projeção remetendo ao fundo do mar e o trabalho dos mergulhadores que exploram as profundezas em busca das valiosas pérolas. As soluções pesquisadas na medida em que o livreto de Eugene Cormon e a música de Michel Carré foram sendo decupadas, segundo Meirelles, servem para aproximar o público da trama que envolve os amigos Nadir (Fernando Portari, tenor), Zurga (Leonardo Neiva, barítono) e as consequências de suas paixões pela mesma mulher, a sacerdotisa Leila (Camila Titinger, soprano).
Extrapolando o espaço cênico e “ocupando” a plateia é criada a sensação de que os assistentes fazem parte da comunidade de pescadores de pérolas que, ao descobrir que a sacerdotisa e Nadir haviam traído os votos necessários para proteger a aldeia e favorecer a pesca, comandada pelo sacerdote Nourabad (Andrey Mira, baixo), exige o sacrifício dos amantes.
Caberá a Zurga que se sente traído pelo amigo num antigo pacto, condenar os amantes: morte, ao raiar o dia, logo que o sol se levante. Mas, ao reconhecer no colar entregue por Leila para ser levado para sua família, como o que ele deu a menina que anos antes salvara sua vida, o líder dos pescadores toca fogo na aldeia e facilita a fuga dos amantes, antes de reconhecer para os aldeões ser o autor do fogo que consumiu seus lares e enfrentar as terríveis consequências de seu ato.
O Coro Lírico, conduzido pelo maestro Vanildo Monteiro, tem papel de destaque assim como a Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, regida pelo jovem Maestro Miguel Campos Neto. A apresentação, mesclando nomes conhecidos no cenário de ópera nacional e valorizando os talentos do canto lírico local, foi inesquecível. Aplaudida de pé nas três récitas lotadas por um público exigente e ávido de boa música.
O XIV Festival se encerrou no dia 19 de setembro com um concerto ao ar livre, na frente do espetacular Theatro da Paz, com a apresentação peças do repertório lírico. Para fechar a edição que antecede as comemorações dos 400 anos de Belém, na execução do hino do Estado do Pará, uma imensa bandeira paraense foi desfraldada, cobrindo a fachada de arquitetura neoclássica, inspirada no Theatro Scalla de Milão, na Itália. Lindas as expressões de orgulho nos semblantes dos que aplaudiam a performance.
Tanto as récitas de “Os Pescadores de Pérolas”, de Bizet e “A Ceia dos Cardeais”, de Iberê de Lemos, como o Concerto de Encerramento que compuseram a programação entre o dia 7 de agosto e 19 de setembro de 2015, deram a dimensão do trabalho de excelência que vem sendo desenvolvido nas 14 edições do Festival de Ópera do Theatro da Paz, promovido pelo governo do Estado do Pará, através da Secretaria do Estado de Cultura, sob a batuta do arquiteto Paulo Chaves Fernandes.
Ano que vem, nas comemorações dos 400 anos de fundação da surpreendente e pujante Belém do Pará, podem ter certeza: estarei novamente na plateia aplaudindo a uma nova e, certamente, empolgante aventura lírica no maravilhoso espaço concebido pelo engenheiro militar, José Tibúrcio de Magalhães, no auge do Ciclo da Borracha.
A César o que é de César...
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*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Crônica da série “No Rumo” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com
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