Homem também finge orgasmo 22/09/2007
- Eliane Lobato - revista ISTOÉ:
Acredite: homem também finge orgasmo. Há décadas se discute o prazer sexual (ou a ausência dele) feminino, mas a novidade agora é que os homens, com a ajuda da camisinha, aderiram à prática. Quase metade (48%) dos nove mil entrevistados recentemente para uma pesquisa do site americano de relacionamentos Lavalife admitiu que já simulou prazer sexual alguma vez na vida.
Dois livros lançados recentemente, no Brasil, abordam o assunto – O adorador (Guarda-Chuva), de Zeca Fonseca, e Corrida do membro (Objetiva), de Ubiratan Muarrek – e os autores, depois de amplas consultas, não têm dúvida de que o uso da camisinha, obrigatório após o surgimento da Aids, possibilita a simulação da ejaculação e do orgasmo.
“Com o preservativo é muito mais simples”, diz o pesquisador da Lavalife Ambrose Diaz. Segundo ele, os motivos são similares aos das mulheres que fingem prazer: cansaço, stress, querer acabar logo com o ato, não estar com vontade de fazer sexo. “Alguns também simulam porque pensam que vão perder a ereção”, completa.
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O sexólogo Marcos Ribeiro explica que há diferença entre orgasmo e ejaculação: “As pessoas acham que é a mesma coisa, mas não é. Acontece simultaneamente, mas orgasmo é a sensação de prazer que a ejaculação (a saída do esperma) proporciona.” Segundo ele, coordenador da ONG Cores- Centro de Orientação Educacional, na nossa cultura machista o homem não pode negar fogo, tem de gozar em todas as relações sexuais. “Então, se ele não chegar lá, vai mentir para a parceira”, afirma.
O analista de marketing Alberto, 43 anos, divorciado, concorda: “O que é pior: dizer para a mulher que broxou ou mentir que já chegou ao orgasmo?”, pergunta.
Ribeiro acredita que os jovens estejam perpetuando o velho conceito. “A garotada poderia estar acabando com esse estereótipo do macho que nunca falha, mas o que vemos é o absurdo de gente jovem tomando Viagra para mostrar uma performance sexual que não é real.”
Aos 28 anos, Bruno reproduz este modelo: usa Viagra eventualmente e simula orgasmo. “Meus amigos idem”, garante. “Acho que isso é reflexo das novas atitudes femininas. Hoje a mulher canta o homem de um jeito que intimida. Além do mais, as mulheres não sabem lidar bem com o fato de o homem não gozar no final. Acham que não estão atraentes ou que o cara está com outra”, diz. Solteiro, Bruno não costuma contar para as namoradas que tem ejaculação tardia e prefere dizer que já chegou ao orgasmo “para não transformar uma relação prazerosa em tortura.” E revela: “Com a camisinha, é fácil. Depois, me masturbo.”
A ejaculação retardada é um dos motivos que levam o homem a fingir orgasmo. A ejaculação retardada é uma disfunção sexual da mesma forma que a precoce. Não há controle no processo ejaculatório. “Agora, com muito mais gente usando camisinha, muitos homens fingem orgasmo sim”, diz a psicanalista e sexóloga Regina Navarro Lins, autora do best seller A cama na varanda. O tratamento, segundo ela, pode ser a terapia sexual. Lemok, o personagem do livro O adorador, de Zeca Fonseca, viveu a experiência devido a um bloqueio emocional. Após separar-se, mas ainda ligado à ex-mulher, Lemok não consegue ter prazer em relações com outras mulheres e dissimula.
O autor diz que isso não é ficção. “Acontece sim. Com a camisinha, o esperma não entra em contato com a mulher e ela não tem como saber. Qual o problema, então?”
Fonseca tenta não responder a uma pergunta pessoal, mas arremata: “Não finjo que nunca fingi, só não digo com quem foi.” Na opinião dele, o homem está acuado pela mulher moderna, que é definida pelo sexólogo Marcos Ribeiro como aquela que “quer ser protagonista da festa (sexual)”.
Essa inversão de papéis é o tema central do livro A corrida do membro (Objetiva), de Ubiratan Muarrek. “É a mulher assumindo posições que antes cabiam aos homens. Uma delas é essa questão do orgasmo”, explica. Muarrek diz que pouco se fala sobre as fragilidades masculinas, mas que é bom ressaltar que o homem está inseguro e até assustado porque sua virilidade está à prova. E finaliza: “As mulheres estão mais atiradas e com o controle sexual – e isso deixa os homens em pânico.”