Maioria das pastas branqueadoras não clareia dentes, mostra teste 02/04/2009
- Flávia Mantovani - Folha de S.Paulo
Quase todas as pastas de dentes que se dizem clareadoras ou branqueadoras não cumprem o que prometem. A conclusão é de um estudo realizado pela Pro Teste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) com os sete produtos que têm mais representatividade no mercado nacional. Os resultados mostraram que apenas dois deles possuem efeito clareador nos dentes.
O mais barato de todos, Close-Up Extra Whitening, foi também o que apresentou melhor efeito. Já o mais caro, Sensodyne Branqueador Extra Fresh, foi o que melhor se saiu em testes que medem abrasividade e irritabilidade, mas seu efeito branqueador foi nulo.
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Para avaliar o efeito clareador, foram feitos 3.000 movimentos circulares em amostras de dentes humanos, o que equivale à escovação de um mês. A metodologia, diz a Pro Teste, é padronizada pela American Dental Association.
Usou-se um colorímetro, método que mediu a cor dos dentes antes e depois das escovações, para identificar se houve mudança. Além da pasta da Close-Up, o Colgate Total 12 Whitening foi eficaz. Todos os demais foram reprovados.
Em relação à rotulagem e à quantidade de flúor, não foram encontrados problemas.
Abrasivas
O teste demonstrou que essas pastas são, em geral, mais abrasivas do que as comuns, o que pode gerar desgaste nos dentes. "Todos os cremes dentais têm abrasivos, inclusive os infantis. Mas, nos branqueadores, eles estão em maior quantidade", diz Marina Jakubowski, química da Pro Teste.
Ela recomenda que mesmo os cremes dentais que realmente clareiam não sejam usados sempre nem por muito tempo. "O ideal é utilizá-los por um mês, por exemplo, e depois dar um tempo. Ou usá-los apenas em uma das escovações de cada dia, alternando-o com pastas comuns."
O uso frequente de substâncias abrasivas torna o esmalte dental mais desgastado. "Além do incômodo estético, o desgaste pode levar à exposição da dentina (camada interna do dente), o que pode gerar dor e hipersensibilidade", afirma Cláudia Worschech, diretora científica da Sociedade Brasileira de Odontologia Estética.
Ela afirma que pastas de dente geralmente não têm componentes realmente branqueadores, como peróxido de hidrogênio, usado em clareamentos supervisionados pelos dentistas -que, segundo ela, são mais seguros. "O que ocorre é que, por serem mais abrasivas, essas pastas limpam a sujeira de fora do dente e, por isso, ele parece mais claro. Se o dente estiver sujo ou manchado, então, elas promovem um polimento. Mas isso é limpeza. Clareamento mesmo é quando uma ação química modifica a cor de dentro do dente."
Worschech acredita que fabricantes não utilizem o peróxido de hidrogênio por ele perder a estabilidade misturado a outras substâncias presentes nos cremes dentais.
Segundo Jakubowski, da Pro Teste, em todos os produtos estudados, os princípios ativos são substâncias abrasivas, especialmente sílica.
A Pro Teste analisou ainda a irritabilidade dos produtos, com um teste feito em uma mucosa construída a partir de células humanas com características semelhantes à mucosa da boca -método também padronizado pela American Dental Association.
Foi medida a quantidade de células que continuavam vivas 24 horas após o uso dos produtos. O aceitável, para essas pastas, eram alterações em, no máximo, 50%. Quanto mais células sobrevivessem, melhor.
O resultado mostrou que a maioria dos cremes dentais danifica de 40% a 50% das células. "Esse tipo de produto é moderadamente citotóxico [tóxico às células]. Pode gerar mais problemas para quem já tem retração gengival", diz Jakubowski.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) afirma que cremes dentais clareadores são sujeitos a registro e que exige informações como composição e testes que mostrem eficácia e segurança.
Afirma, ainda, que as empresas sofrem inspeção na linha de produção e que os produtos ficam sujeitos às vigilâncias sanitárias estaduais e municipais após chegar ao mercado.
Outro lado
A GlaxoSmithKline, fabricante do Aquafresh Ultimate White e do Sensodyne Branqueador Extrafresh, afirmou, por meio de nota oficial, que ambos os produtos "são registrados na Anvisa e comercializados no Brasil e em diversos países da América e da Europa".
A empresa acrescenta que, "segundo a Associação Brasileira de Odontologia, não existem testes padronizados e específicos para determinar o branqueamento dos dentes. Várias são as metodologias disponíveis e a GSK (GlaxoSmithKline) possui testes internacionais realizados para comprovação do efeito branqueador".
"Temos cinco estudos clínicos, três deles realizados com mais de 1.500 pacientes ao total, que mostram a ação de branqueamento do Crest Extra Whitening superior à de um creme dental sem branqueador", diz Alexander Froio, gerente da área técnica da Procter & Gamble. "Não sei quanto essa metodologia in vitro [em laboratório, adotada pela Pro Teste] reflete o resultado in vivo."
Segundo a empresa, em um estudo, a intensidade das manchas em dentes de usuários do Crest Extra Whitening diminuiu 24% em seis semanas, em comparação a um grupo controle, e sua área, 36%.
Outro concluiu não haver diferença significativa entre o Crest Extra Whitening e concorrentes da mesma categoria.
Procurada pela reportagem, a Colgate-Palmolive, responsável pelas marcas Sorriso e Colgate, não se posicionou sobre o teste.