Pais devem evitar passeio com crianças no shopping, diz educadora 21/04/2009
- Mariana Garcia - Revista da Hora
Em meio a tanto apelo publicitário, conter o desejo das crianças e dos adolescentes por adquirir novos brinquedos, roupas e acessórios não é nada fácil. No entanto, quanto mais cedo os pais ensinam aos pequenos o valor real do dinheiro, menor o prejuízo -- emocional e financeiro -- para a família.
"É preciso que os pais revejam a forma como educam seus filhos e avaliem se não estão criando pequenos grandes consumidores. Shopping não é um local para passear, pois nos coloca em contato direto com produtos que não são necessários", afirma a educadora Maria Márcia Sigrist Malavasi, da faculdade de pedagogia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
A empresária Anai Mafra Benedykt, 31 anos, aprendeu na prática a importância de colocar limite no precoce consumismo do filho Felipe, sete anos. "Descobri que negar um pedido do meu filho é mais difícil para mim do que para ele. Por comodismo, a gente é tentado a ceder, mas a criança logo se distrai, esquece que não ganhou um brinquedo novo na mesma velocidade com que absorve os valores que passamos", diz.
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Outra dica importante é observar os próprios hábitos. "Se os pais gastam mais do que têm e vivem com a conta bancária no vermelho, não adiantará frear o consumismo dos filhos, que seguem o exemplo dos mais velhos", alerta o psicólogo Bernardo Tanis, da Sociedade Brasileira de Psicanálise.
Para quem precisa cortar gastos, segundo Maria Márcia, abrir o jogo com a garotada é a saída mais adequada. "As crianças e, principalmente, os adolescentes costumam se revelar grandes colaboradores quando a situação financeira da família é colocada para eles de forma clara pelos pais. Negar essa informação é minar qualquer possibilidade de colaboração dos filhos", ensina.
Mãe de Gabriel, 14 anos, e Rafael, 10 anos, a gerente de comércio eletrônico Branca Galdino, 38 anos, concorda com a pedagoga. "No início do ano, meus filhos resolveram fazer aulas de kung fu. Expliquei a eles que estávamos com o dinheiro apertado, e os dois apareceram com a solução: sugeriram trocar o transporte escolar pelo ônibus e pelo metrô."
Dicas para criar um consumidor responsável
Shopping não é local de passeio
Nos momentos de lazer com crianças e adolescentes, prefira um programa ao ar livre ou então uma atividade cultural. Shopping somente quando houver necessidade de comprar algo.
Imponha limites
Crianças e adolescentes precisam de limites, inclusive financeiros. Mais do que um simples castigo, trata-se de uma forma de criar referências, que são fundamentais para os pequenos.
Dê o exemplo
Se os pais não conseguem controlar os seus próprios impulsos consumistas, não têm autoridade para exigir uma postura diferente dos filhos. Crianças e adolescentes imitam as ações dos mais velhos.
Seja sincero
Se o orçamento familiar sofreu um abalo, abra o jogo com todos. Crianças e principalmente adolescentes gostam de colaborar quando requisitados, pois se sentem úteis para o funcionamento familiar.
Mesada somente para maiores de nove anos
Antes dessa idade, as crianças não estão aptas a lidar com dinheiro sozinhas. Mesmo para os mais crescidinhos, a orientação e o acompanhamento de perto são práticas fundamentais.
Cumpra o prometido
Se o pequeno gastou toda a mesada de uma vez e ainda falta muito para o próximo mês, não dê mais nem um centavo. Obedecer regras faz parte do aprendizado. Dar valor ao dinheiro também.
Não dê recompensas financeiras
Dar dinheiro ou brinquedos para que uma criança aceite estudar, por exemplo, não a incentivará a gostar de ir à escola. Pelo contrário: esvaziará todo o prazer da atividade.
Diga não
Dizer não para os filhos dá mais trabalho e é mais cansativo do que dizer sim para todos os pedidos feitos por eles, mas faz parte da tarefa de educar.
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*Fontes: Bernardo Tanis, professor do curso de psicanálise da criança do Instituto Sedes Sapientiae; e Maria Márcia Sigrist Malavasi, coordenadora do curso de pedagogia da Faculdade de Educação da Unicamp.