"Fuga de cérebros" é maior na América Latina, diz estudo 22/06/2009
- BBC
A América Latina e o Caribe compõem a região com maior proporção de profissionais qualificados vivendo no mundo desenvolvido --um fenômeno que se acentuou nas duas últimas décadas, segundo um relatório do Sistema Econômico Latino-americano e do Caribe, com sede em Caracas.
De acordo com o estudo, o total de latino-americanos qualificados que vivem nos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) passou de 1,92 milhão em 1990 para 4,9 milhões em 2007 -- uma alta de 155%.
Isso equivale a dizer que 11,3% da mão-de-obra qualificada da região vivia em um país rico em 2007.
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No México, país que iniciou um tratado de livre comércio com os Estados Unidos em 1994, esse aumento foi de 270%. O segundo maior aumento percentual foi registrado no Brasil: 242%. Mas, proporcionalmente, as maiores taxas de emigração qualificada da região são registradas nos países pequenos.
O secretário permanente do Sela, José Rivera Banuet, disse à BBC que, como 60% dos migrantes que saem para os países ricos acabam trabalhando em áreas diferentes de sua formação, os conhecimentos desses indivíduos acabam perdidos para os países de origem e desperdiçados nos países de destino.
"Um dos desafios é o de encontrar um equilíbrio entre as necessidades nacionais de reter os especialistas em certas profissões ao mesmo tempo em que se desenvolve a cooperação com os países de destino", afirmou.
Números
Um dos países que mais influenciaram as estatísticas latino-americanos foi o México. O número de mexicanos qualificados nos países ricos era de 366 mil em 1990 e passou para 1,36 milhão em 2007 --16,8% da força de trabalho qualificada.
Sem as estatísticas mexicanas, a taxa de imigração de trabalhadores qualificados latino-americanos não seria de 11,3%, e sim de 8,2%.Os percentuais para África e a Ásia, outras regiões tradicionalmente fornecedoras de imigrantes, são 10,2% e 5,9% respectivamente.
Já o número de brasileiros qualificados trabalhando nos países da OCDE saltou de 63 mil em 1990 para 218 mil em 2007. Mas a situação brasileira preocupa menos os autores do estudo, porque o total de pessoas qualificadas no Brasil ainda é bastante grande.
Em 2007, estima-se que os brasileiros qualificados trabalhando fora correspondiam a 2,3% da força de trabalho qualificada total de 9,4 milhões.
O percentual é bem menor do que o de nações caribenhas como Guiana (88,8%) --cuja dinâmica nesse aspecto a aproxima mais dos vizinhos do Caribe do que da América do Sul--, Haiti (84,9%) e Jamaica (84,4%), entre outros.
"Um dos padrões característicos da migração qualificada contemporânea é a presença de taxas elevadas de emigração em países pequenos ou com baixo nível de diversificação produtiva", destaca o relatório.
"Na América Central, a maioria dos países tem entre um terço e um quarto de sua população qualificada no exterior", afirma o estudo. "Os países da região andina e os sul-americanos são onde o fenômeno tem menor incidência. Contudo, alguns países como Colômbia, Equador e Uruguai têm taxas ao redor de 10%."
Fuga de cérebros
O estudo alerta para o caráter irreversível da chamada "fuga de cérebros" nos países latino-americanos.
O levantamento aponta que, dos anos 1970 para cá, houve uma mudança interessante no comportamento dos países: vários países da região deixaram de promover políticas de contenção da fuga de cérebros, assumindo que a perda de mão-de-obra qualificada é compensada pelo volume de remessas recebidos do exterior.
No entanto, a diretora para a região andina da OIM (Organização Internacional das Migrações), Pilar Norza, disse à BBC que este "conforto" não condiz necessariamente com a realidade.
Segundo Norza, embora não existam números para comprovar isso, existe uma percepção de que os imigrantes que mais enviam remessas não são necessariamente os mais qualificados.
Para Banuet, do Sela, o fenômeno da fuga de cérebros "não pode ser freado nem incentivado, porque depende da decisão individual das pessoas".
Na opinião dele, encontrar o equilíbrio nesta questão significa garantir que os países que formaram os imigrantes qualificados também obtenham benefícios do seu investimento, o que poderia ser alcançado por meio de programas de formação compartilhados e outros acordos bilaterais e multilaterais.