Mortalidade da gripe suína é 'impossível de prever', diz estudo britânico 15/07/2009
- BBC
Cientistas do Imperial College, em Londres, alertaram nesta quarta-feira para a precariedade das estatísticas sobre os casos e fatalidades da gripe suína nos diferentes países do mundo, e afirmaram que só com dados precisos será possível planejar adequadamente o combate à doença.
Eles listaram os principais fatores que contribuem tanto para subestimar quanto para superestimar a gravidade dos casos da influenza A (H1N1), que chegam a quase 100 mil no mundo, segundo a OMS, com quase 500 mortes.
Na maioria dos países, "à primeira vista, os dados parecem indicar que este novo vírus é relativamente brando, com taxas de fatalidade por volta de 0,5%, similares aos da faixa superior daquela causada pela gripe sazonal", eles afirmaram.
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Porém, os números podem estar sendo influenciados pela precariedade nos métodos de diagnose dos casos.
Por outro lado, disseram os cientistas, em regiões fortemente afetadas pela doença, a atenção concentrada em casos hospitalares pode acabar inflando as estatísticas.
"Sem uma estimativa precisa da gravidade (da gripe suína), não estaremos provendo aos formuladores de políticas de saúde, médicos e enfermeiras a informação de que eles precisam para combater a pandemia."
Estatísticas divergentes
O artigo foi coordenado pela doutora Tini Garske e publicado na revista científica "British Medical Journal". A pesquisa listou os fatores que lançam uma sombra sobre as estatísticas de fatalidade da gripe suína.
Um boletim da OMS divulgado no último dia 10 indicava que os casos da doença já chegavam a quase 100 mil no mundo, com 492 mortes registradas.
Nos Estados Unidos, o país com maior número de casos (mais de 37 mil), as 211 mortes significaram uma taxa de fatalidade - a divisão do número de mortes pelo número total de casos - de 0,57%.
No México, país com 11,7 mil casos e onde a doença se manifestou, as mortes chegaram a 121 e a taxa de mortalidade, a 1,03%.
No Canadá, 39 pessoas morreram em 9,7 mil casos, o que indica uma taxa de mortalidade de 0,4%.
Mais baixas, as taxas para a Grã-Bretanha e União Européia são, respectivamente, 0,14% e 0,12%.
De acordo com o último balanço do Ministério da Saúde brasileiro, divulgado na semana passada, o número de casos da gripe suína no Brasil chega a 1.027, com quatro mortes registradas até aqui.
Precariedade
Para os cientistas, a explicação para a variação nas estatísticas sobre a gripe suína passa pela precariedade dos cálculos.
Por um lado, as estatísticas são distorcidas pela falta de registro dos casos "brandos" ou "assintomáticos" - ou seja, quando o paciente não externa sintomas, eles disseram.
Por outro lado, também há precariedade de registro de mortes que não são atribuídas à gripe suína.
"Comprovou-se que as infecções de gripe sazonal podem temporariamente elevar os riscos de eventos vasculares, o que pode levar a um excesso de mortalidade que não é atribuída à influenza", eles afirmaram. "O mesmo efeito provavelmente também está presente na gripe pandêmica."
Outro fator que poderia elevar a gravidade da gripe suína seria o lapso de tempo entre o diagnóstico da gripe suína em um paciente e a sua morte e mortes que não são atribuídas à gripe suína.
"Entre os casos registrados em qualquer ponto do tempo, pode haver pessoas que morrerão, mas que estão vivas no momento da análise."
De acordo com o artigo, fenômeno semelhante ocorreu com a gripe SARS, levantando suspeitas de que o vírus estava em mutação e se tornando mais fatal.
Diferenças regionais
Outros fatores, como diferentes abordagens para tratar a gripe e a concentração em casos mais graves, também colaboram para lançar uma sombra sobre os números da pandemia. A comparação entre a região das Américas e a Europa seria um exemplo.
"Embora a alta taxa de fatalidade no México possa ser atribuída a uma versão mais virulenta do vírus, é mais provável que a identificação dos casos seja mais fortemente focada nos casos mais graves, e que o número total de casos seja maior", escreveram os pesquisadores.
"Em menor extensão, o mesmo fenômeno poderia estar ocorrendo agora nos EUA, pela tendência de que os testes se concentrem em casos graves e hospitalizações."
Isto explicaria por que as taxas são mais baixas na Grã-Bretanha, onde as taxas de hospitalizações são menores que nas Américas.
Para resolver o problema estatístico, eles sugerem maneiras de tentar padronizar a identificação dos casos de gripe suína e pedem um acompanhamento mais detalhado da pandemia.
"Estimar com precisão a gripe suína é um trabalho capcioso, e nossa pesquisa mostra que isto só pode ser realizado com dados colhidos de acordo com protocolos bem desenhados, e analisados de forma mais sofisticada que a prática atual."