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O laser venceu
04/10/2009 - Cilene Pereira e Mônica Tarantino - ISTOÉ

Entre todos os tratamentos não cirúrgicos conhecidos para conquistar uma aparência jovem - um dos grandes desejos de homens e mulheres atualmente -, um já alcançou o primeiro lugar em eficiência: o laser.

Hoje, o método é considerado o principal meio de rejuvenescimento facial disponível por seu poder impressionante de apagar rugas, manchas, marcas de expressão e cicatrizes de acne, além de devolver ao rosto boa parte do viço e do tônus que vão se perdendo com o passar dos anos.

Por seus resultados, é apontado pelos especialistas como um marco na antiga busca do homem pela beleza.


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"Sem dúvida, ele é um divisor de águas", afirma a dermatologista Marcella Delcourt, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

"Com esta tecnologia, é possível atingir resultados bem próximos aos obtidos pela cirurgia plástica com simples aplicações em consultórios médicos", atesta o dermatologista Paulo Barbosa, de Salvador.

É consenso que, em matéria de resgate da juventude da pele, o laser deixa para trás até o famoso botox. E é fácil compreender a razão. As injeções de toxina botulínica resolvem - e mesmo assim apenas temporariamente - somente o problema das rugas. Já o laser tem uma gama de benefícios muito ampla e seus efeitos são mais duradouros.

Não é à toa, portanto, que a procura pelos tratamentos à base desse tipo de energia esteja alcançando níveis estratosféricos.

Nos Estados Unidos, um levantamento recente realizado pela American Academy of Cosmetic Surgery mostrou que o número de pessoas que se submeteu ao laser para rejuvenescer bateu recorde nos últimos três anos: neste período houve um aumento de 456% entre o total de homens que buscaram a técnica e de 215% entre as mulheres.

No Brasil, não há estatísticas que permitam traçar a procura ano a ano, mas, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o laser já responde por 24% dos tratamentos rejuvenescedores que não implicam operações plásticas.

E isso só não é maior por causa do preço - em média, cada aplicação custa de R$ 1 mil a R$ 1,5 mil. E em geral são necessárias no mínimo três para que os resultados comecem a aparecer.

Outro trabalho, da mesma universidade, avaliou o resultado a longo prazo de um dos tipos de laser - o de CO2 - no combate às rugas. Foram acompanhados 47 pacientes que se submeteram ao tratamento.

Segundo os autores da pesquisa, as rugas faciais tiveram 45% de melhora consistente em toda a área do rosto.

"Mostramos que o método leva a uma melhora a longo prazo", concluiu o cientista Daniel Ward, coordenador do trabalho.

Também já se sabe que, dependendo do comprimento de onda disparado, a energia dos diversos lasers pode ser direcionada para alvos como a hemoglobina (célula vermelha do sangue) ou a melanina, o pigmento que dá cor à pele. Por isso, é capaz de promover mais efeitos além de eliminar rugas e alcança objetivos como atenuar manchas e vasos sanguíneos superficiais.

Na história do avanço do laser na área da beleza há um fator decisivo que ajudou a selar o seu sucesso entre médicos e pacientes: a criação dos chamados lasers fracionados.

O primeiro foi desenvolvido na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Sua principal característica é emitir raios que entram na pele de forma alternada.

"Os feixes penetram em pontos microscópicos, mais finos do que um fio de cabelo", explica o dermatologista Nuno Osório, de São Paulo, um dos pioneiros na técnica no Brasil e autor do livro "O Laser na Dermatologia".

Esse tipo de técnica permite que os raios atuem, mas deixem intactas algumas células saudáveis da área tratada. Dessa maneira, o laser fica menos agressivo.

"A pessoa pode fazer a aplicação e retomar as atividades no dia seguinte", diz o cirurgião plástico Cláudio Roncatti, um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Laser.

Antes, por causa da intensidade do efeito causado por lasers potentes, como o de CO2, que era bastante agressivo e promovia um peeling intenso a ponto de remover a superfície da pele, era preciso que o paciente ficasse fora da rotina normal por pelo menos um mês.

É verdade, porém, que os lasers não fracionados não perderam ainda totalmente seu espaço.

"Há vantagens e desvantagens. Muitas vezes, com um laser mais agressivo, não fracionado, a pessoa percebe que as rugas, até as mais profundas, já diminuíram bem depois da primeira sessão", explica a dermatologista Valéria Campos, de Jundiaí, no interior de São Paulo.

Valéria é uma das mais reconhecidas especialistas brasileiras na área de laser. Entre suas qualificações está um treinamento com o americano Rox Anderson, o criador do primeiro aparelho do gênero para a beleza.

A ascensão do laser ao posto de estrela principal da beleza está respaldada em estudos que atestam sua eficácia e revelam os mecanismos pelos quais ele proporciona tantos benefícios.

Baseados em uma revisão de estudos sobre rejuvenescimento feitos desde a década de 1990, cientistas da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, por exemplo, concluíram que o laser realmente é capaz de promover na pele efeitos intensos o suficiente para conter os estragos do tempo. E faz isso por meio da ativação da produção de colágeno, uma proteína que dá sustentação à pele.

Quando o colágeno falta ou está enfraquecido - o que acontece com o envelhecimento -, aparecem as rugas e a flacidez.

O crescimento da família de luzes de tratamento é mais um dos motivos da fama crescente dos lasers. Hoje, além dos lasers de fato, há outra radiação, chamada luz intensa pulsada, também usada com as mesmas finalidades. Ela possui comprimentos de onda variáveis e, por isso, é menos seletiva do que o laser.

"Enquanto o laser atinge um único alvo, seja ele mancha, seja vaso, a luz intensa pulsada incide sobre vários", explica o médico Fernando Macedo, o principal responsável pelos tratamentos com laser do setor de cosmiatria da Universidade Federal de São Paulo.

Essa característica faz dela um recurso atraente para prevenir rugas e melhorar o tônus da pele de maneira geral.

Com várias opções à disposição, os médicos estão começando a combinar as tecnologias. Isso se tornou ainda mais fácil a partir do lançamento de equipamentos que podem acoplar vários tipos de laser e de luz pulsada. É como um pintor que pode misturar as tintas antes de levá-las ao quadro.

Dessa maneira, o tratamento fica ainda mais personalizado. Além disso, o domínio da técnica está permitindo a confecção de pacotes de tratamento que incluem as aplicações de laser e outros procedimentos, como os peelings feitos com ácidos, idealizados para potencializar ainda mais o poder dos raios.

"E em geral, os pacientes já estão usando produtos diários indicados para cada tipo de pele", diz a dermatologista Marcela Studart, do Rio de Janeiro.

"O ácido retinoico é um dos mais indicados, para ser usado à noite, porque causa um afinamento da epiderme com renovação celular", explica a especialista.

Diante do poder das luzes, a ciência da beleza quer explorar ainda mais as suas possibilidades. Hoje já se sabe que, além da face, o laser dá bons resultados na diminuição de pelos, varizes, celulite e estrias. Uma das aplicações em estudo é na recuperação dos cabelos.

"Existem trabalhos mostrando que o laser pode aumentar a atividade celular na raiz dos fios. Por isso, as aplicações melhoram os resultados de tratamentos para conter a queda dos fios", diz o dermatologista Ademir Júnior, da Associação Internacional de Tricologistas (especialistas em medicina capilar).

Além disso, estudam-se meios de melhorar os resultados dos tratamentos contra cicatrizes e tatuagens, que ainda oscilam muito.

No caso das cicatrizes, por exemplo, o ideal é que o tratamento seja iniciado o mais rápido possível para que os raios sejam capazes de tirar a cor avermelhada que pode se fixar nas marcas. E, para as tatuagens, ainda não há uma tecnologia eficiente para apagar todas as cores. As mais difíceis de sumir são a amarela e a vermelha.

Desde 2006, nos EUA , o uso do laser contra os
sinais do tempo cresceu 456% entre os homens

Nos Estados Unidos, um dos grupos que trabalham mais intensamente para descobrir novas aplicações do laser é o coordenado pelo pioneiro Rox Anderson.

Atualmente, sua equipe está empenhada em desenvolver um aparelho especialmente para eliminar a gordura, o arqui-inimigo feminino. Contra ela e a celulite já existem opções que combinam luzes infravermelhas com radiofrequência e um aparelho que faz lipoaspiração com ajuda do laser após a inserção de uma cânula sob a pele. Mas o problema demanda soluções mais poderosas.

Ao que tudo indica, o tal equipamento em gestação nos EUA pode ser essa solução.

"Trabalho com o aparelho de laser de gordura no centro de pesquisa em Boston e acho o resultado muito bom", diz a dermatologista brasileira Fernanda Sakamoto, que divide seu tempo entre o laboratório de Anderson, o Wellman Center for Photomedicine, e a clínica do brasileiro Nuno Osório, em que atende algumas vezes por ano.

A máquina, que ainda não está disponível comercialmente, emite ondas com um comprimento que destrói as células de gordura, chamadas de adipócitos.

"No entanto, esse laser serve para fazer alguns acertos, não para emagrecimento", diz Fernanda.

Ainda que sejam grandes os avanços, os cientistas continuam a se deparar com alguns desafios no uso do laser. Um deles é controlar a sensação de queimação e a dor provocadas por algumas aplicações. Em muitos casos, é preciso passar um anestésico uma hora antes de cada sessão para que o desconforto seja amenizado.

Mesmo assim, é fato que a aplicação é dolorosa - suportável, mas dolorosa - e as horas seguintes podem ser bem desconfortáveis. Além da sensação semelhante à de uma queimadura solar, em muitos casos pode haver inchaço e descamação um pouco mais intensa dias depois.

Para diminuir os desconfortos, alguns consultórios médicos dispõem de aparelhos para liberar água gelada ou ar frio antes de a radiação ser disparada. Eles ficam lado a lado com os lasers.

"É um recurso que alivia a dor", afirma o dermatologista Nuno Osório.

Também se busca desenvolver raios mais seguros para rejuvenescer e tirar sinais das peles negras, morenas e bronzeadas - para os brasileiros algo fundamental.

Nesses casos, o grande problema é a presença de quantidade maior de melanina. Por essa razão, sob a ação da radiação, ela oferece maior risco de formar manchas durante o tratamento.

"Pode-se usar até o laser de CO2 nessas pessoas, mas são aplicações que só podem ser feitas por profissionais bem experientes", recomenda a dermatologista Valéria Campos.

A médica tocou em um ponto importante: a necessidade de os tratamentos - todos eles, na verdade - serem aplicados por médicos qualificados para tal.

O que está acontecendo hoje, até pelo apelo que o laser tem conquistado na área da beleza, é que muita gente está se arriscando a se submeter a aplicações com pessoas absolutamente despreparadas.

"Recebo muitos pacientes que ficaram com a pele queimada depois de fazer tratamentos em cabeleireiros ou esteticistas. Isso é uma irresponsabilidade e não deveria ser permitido", diz o cirurgião plástico Cláudio Roncatti, da Sociedade Brasileira de Laser.

  

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