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Mutação cria explosão de câncer raro no Brasil
16/11/2009 - Reinaldo José Lopes - Folha de S.Paulo

Famílias do Sul e do Sudeste do Brasil sofrem há gerações com uma forma tão agressiva de câncer que alguns dos afetados chegam a se referir à doença como uma maldição hereditária.

Um grupo de pesquisadores acaba de mostrar que o problema remonta, de fato, a um ancestral comum -- segundo eles, foi provavelmente um tropeiro que deixou descendentes país afora no século 18.

Por enquanto, contudo, a principal implicação dos estudos é bem mais prática do que entender a história populacional do Brasil Colônia.


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"Certa parcela dos tumores do Sul e do Sudeste, que nós ainda não sabemos qual é, mas que certamente não é desprezível, está ligada a essa mutação", afirma a médica Maria Isabel Waddington Achatz, do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo. Achatz é coautora de um artigo na revista científica "Human Mutation" que detalha esse trabalho de detetive.

Caso especial

A alteração no DNA, típica de algumas das famílias do Sul e Sudeste, se encaixa num conjunto mais amplo de mutações ligadas a formas severas de câncer. Esse grupo maior, conhecido como síndrome de Li-Fraumeni, se caracteriza por vários tumores na mesma pessoa -- de mama, do cérebro e da glândula suprarrenal, por exemplo -- antes dos 45 anos de idade.

Os cânceres da síndrome de Li-Fraumeni têm a mesma causa: mutações no trecho de DNA que carrega a receita para a produção da proteína p53. Essa proteína, apelidada de "guardiã do genoma", tem como principal função justamente impedir os erros de cópia do DNA que levam ao surgimento do câncer. Ela pode até forçar o "suicídio" de uma célula que passou por mutações perigosas. Assim, sem ela, o organismo perde uma de suas principais defesas.

As alterações do gene da p53 que produzem a síndrome de Li-Fraumeni são raras, atingindo uma a cada 5.000 pessoas. Mas, quando começou a se interessar pelo tema, em 2001, Achatz percebeu que o número de pacientes era bem maior do que o esperado. "Logo pensei que estava acontecendo alguma coisa estranha aqui", diz.

Os últimos anos confirmaram essa suspeita. Ficou claro que um tipo específico de mutação no gene da p53 era muito comum em pessoas do Sul e do Sudeste com Li-Fraumeni. O último trabalho de Achatz e seus colegas foi mais fundo: analisou 12 famílias com essa mutação, em princípio sem relação de parentesco entre si.

O resultado: todas carregavam o mesmo conjunto de 29 trocas de "letras" químicas no gene da p53. "A chance de todas essas trocas acontecerem juntas em famílias diferentes é baixíssima", diz Achatz. O melhor jeito de explicar isso é imaginar que todas herdaram o conjunto típico de alterações de um ancestral comum distante.

Dados obtidos em Porto Alegre e Curitiba, com milhares de pacientes, sugerem que a frequência verdadeira da mutação nesses lugares é de uma em cada 300 pessoas. O mesmo pode valer em São Paulo, afirma a médica. "Quando colocamos essas famílias no mapa, o padrão casa muito bem com as rotas seguidas pelos tropeiros que carregavam mercadorias entre o Sul e o Sudeste no século 18", argumenta ela.

A ideia é que o primeiro portador da mutação teria tido filhos com muitas mulheres ao longo da rota das tropas. Esse sucesso em deixar filhos, junto com outros fatores, teria feito com que seus descendentes estivessem presentes em número desproporcional na população de hoje.

Achatz diz que o próximo passo para fortalecer a tese é tentar estimar a data de origem da mutação, com a ajuda da equipe do geneticista Andrés Ruiz-Linares, do University College de Londres. Ela defende que valeria a pena testar a mutação de maneira mais ampla na população, para enfrentar esse tipo de câncer com a maior precocidade possível.

"Doença era tabu familiar que quebrei",
diz afetada por "maldição hereditária"

Dona Eudóxia (nome fictício), 67 anos, faz a lista: do ano 2000 até hoje, médicos retiraram dela tumores na veia cava inferior, na tireoide, na mama esquerda, nos dois pulmões, na pele da perna ("uma verruguinha", diz).

A família dela faz parte das afetadas pela "maldição hereditária" de câncer que ataca gerações no Sul e Sudeste do país.

Sete pequenos cânceres apareceram no couro cabeludo de Dona Eudóxia. Perdeu um dos rins. Em geral, apenas cirurgias foram usadas para tratar os tumores recorrentes. Ela é a primeira pessoa da família a tentar entender o pedaço trágico de sua herança genética.

"Na família dela isso era um tabu. Não se dizia nem o nome da doença", diz seu Heitor (nome também fictício), o marido, que, protetor, pega a extensão do telefone para estimular e corrigir o que a mulher diz.

"A gente só sabia que as pessoas acabavam morrendo, chorando de dor", afirma dona Eudóxia, cuja irmã morreu de câncer aos 35 anos, logo seguida pela filha, de apenas 12.

Seu Heitor conta que a mulher procurou os pesquisadores do Hospital A.C. Camargo que trabalhavam com a ligação entre genoma humano e câncer. Ajudou-os a traçar as ocorrências da doença na própria árvore genealógica.

A história familiar parece bater com a hipótese da médica Maria Isabel Achatz: "Minha avó se casou com um tropeiro", diz dona Eudóxia. Embora more na capital paulista hoje, seus parentes estão todos numa cidade do interior que ficava na rota dos tropeiros antigos.

Relutante em divulgar seu nome ou ser fotografada, ela diz que não quer prejudicar os filhos, hoje executivos. "De repente as pessoas podem ter dificuldade de alugar uma casa ou até de conseguir um emprego se ficam sabendo que elas têm a mutação", diz seu Heitor.

  

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