Mulheres se sentem insultadas quando chamadas de gostosas por desconhecidos 19/05/2015
- Jornal EXTRA
Acabou a desculpa. Uma pesquisa do instituto Data Popular confirmou o que, no fundo, todo mundo já sentia: 89% das mulheres se sentem insultadas quando são chamadas de “gostosas” por desconhecidos.
Reconhecidos galanteadores ouvidos pelo EXTRA foram além, e afirmam que, além de grosseira, a abordagem é a receita do fracasso.
- Acho cafona e agressivo. Coisa de tarado. Eu falaria uma coisa mais leve, mais suave, mas não vou ficar ensinando esses caras. Eles têm que aprender por conta própria - dispara Renato Gaúcho.
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A matemática também mostra a ineficácia de uma cantada agressiva. Para entender o que representa 89% das mulheres se sentindo insultadas, basta pensar que, se um homem tentar chamar cem mulheres de gostosas, só 11 ficarão felizes -- ou seja, a chance é de 89 bofetadas.
- Não é papel de homem ficar fazendo a mulher passar por constrangimento. Isso é coisa de moleque! Mulher tem que ser tratada como rainha. Prefiro falar baixinho só para ela saber o quanto está gostosa - diz Mr. Catra, elegante.
A abordagem, no entanto, ainda é comum nas ruas. A mesma pesquisa mostrou que 41% dos homens acham que isso é um elogio. Por exemplo na obra de Deni Jacinto, encarregado pela construção de um prédio no Recreio. Lá não faltam exemplos de pedreiros dispostos a soltar o grito de gostosa - inclusive Deni.
- Pedreiro mexe mesmo. É coisa de homi (sic). Claro que elas gostam - defende.
Realmente, há uma parcela de mulheres que aprova o comentário. Entre elas, estão Alessandra Mattos, rainha de bateria da Inocentes de Belford Roxo, e a Mulher Melão.
- Acho um elogio. Só não pode ser agressivo demais - opina Alessandra Mattos.
As duas dizem que sentem a autoestima sendo elevada quando escutam um “gostooosa” na rua.
- Se passo numa obra ou num bar e nada acontece, morro - confessa a Mulher Melão.
Por isso, homem, quando você ver uma das duas na rua, solte o grito engasgado -- aquele que te faria apanhar de 89% das mulheres brasileiras.
"Elas gostam de papo"
A Psicologia também consegue explicar o porquê de tamanha rejeição quando o assunto é o grito de gostosa. Segundo Priscila Gasparini, especializada em Psicanálise, a mulher é mais instrumental.
Ou seja, ela prefere uma abordagem mais sensorial do que o homem, que, segundo ela, escolhe sua companheira mais pelo lado visual:
- O corpo bonito é que chama a atenção do homem, enquanto a mulher não gosta de ser abordada pelo cunho sexual. Elas gostam de papo.
A funkeira Valesca Popozuda é outra crítica do grito de gostosa. A colunista do EXTRA defende elogios elegantes.
- Existem várias maneiras de se elogiar sem ser vulgar. Elogie nosso perfume, nosso sorriso. Faça um comentário gentil - ensina.
Dentinho, a "arma" da mineira Débora
Na ruas de Belo Horizonte, a mineira Débora Adorno, de 22 anos, percebeu que ser bonita era um problema.
Por isso, tentando cessar os gritos de gostosa, precisou inventar uma careta -- batizada de dentinho -- para ficar esquisita, e andar tranquilamente pelas ruas da capital mineira.
A tática foi bem-sucedida, e ela publicou um desabafo que fez sucesso nas redes sociais.
A jovem contou que, na tarde de 13 de março, estava passando por uma rua do Centro de BH. No caminho, Débora lembra que começou a receber “muuuitas cantadas mesmo”.
A jovem descreve o local como apertado e cheio de ambulantes.
“Fui obrigada a passar devagar e ficar escutando de um tudo, ficar sentindo os caras me olhando de um jeito pervertido horrível (...). Não tinha nada que eu pudesse fazer para parar aquilo. Eu não ia bater boca com um bando de homem no Centro, simplesmente porque eu tenho medo. Medo de me baterem, de me ameaçarem, de passarem a mão em mim, medo de mil coisas”, escreveu.
Foi quando teve a inacreditável ideia. Lembrou do que ela chama de uma “marca registrada”: a careta do dentinho, que normalmente faz, segundo o relato, quando está brincando com amigas.
“Vocês não têm noção. De um segundo para o outro, parei de receber cantada. Nenhum cara mais mexeu comigo! Os caras olhavam e rapidamente desviavam o olhar, provavelmente pensando que eu tinha alguma deformação ou doença”, contou.
Por fim, a técnica ainda virou vingança:
“Hoje, eu senti que dei um tapa na cara dessa cultura invasiva de cantadas de rua. Hoje, eu me senti confortável andando sozinha no Centro. Vou encarando os homens, fazendo com que, pelo menos uma vez na vida, sejam eles que desviam o olhar”, acrescentou Débora.