capa | atento olhar | busca | de última! | dia-a-dia | entrevista | falooouu
guia oficial do puxa-saco | hoje na história | loterias | mamãe, óia eu aqui | mt cards
poemas & sonetos | releitura | sabor da terra | sbornianews | vi@ email
 
Cuiabá MT, 23/11/2024
comTEXTO | críticas construtivas | curto & grosso | o outro lado da notícia | tá ligado? | tema livre 30.939.947 pageviews  

De Última! Só lendo para acreditar

ATENTO OLHAR

Ameaçada de extinção por fungo, a banana pode sumir do planeta
01/07/2018 - Sérgio Augusto - O Estado de S.Paulo

Parece fake news, mas procede: a banana pode acabar. Ameaçada de extinção, a banana pode se tornar o dinossauro, o pássaro dodô das frutas.

Inimaginável, sem dúvida. Mas é isso o que a ecologista Jackie Turner pretende alertar no documentário Bananageddon, ainda em gestação e para o português traduzível por Bananapocalipse. Ms.

Turner foi estudar ictiologia na Costa Rica, encantou-se de cara com a história e a cultura da banana e tirou os peixes de seu currículo, investindo quatro anos na fruta mais famosa e consumida do mundo.


PUBLICIDADE


Plantada em 130 países, é o alimento mais cultivado pelo homem depois do arroz, o trigo e o milho, apesar de só vingar em climas tropicais.

Culpa do fusário, fungo fatal que na década de 1950 infectou rapidamente plantações inteiras, provocando um colapso global no comércio bananeiro.

E da monocultura. Existem muitas variedades de bananas, mas as companhias que a comercializavam investiram numa só espécie.

Sem diversidade genética, mutações e variações, pois são estéreis e clonadas, as bananas, sobretudo porque cultivadas em blocos homogêneos de terra, como se fossem gigantescas fábricas vegetais ao ar livre, contaminam-se com enorme facilidade.

E foi assim que a Gros Michel, a espécie dizimada, cedeu lugar a Cavendish, supostamente mais resistente.

Cultivada do mesmo jeito, ela enfrenta agora uma variação da parasita anterior, a TR4 (Tropical Race 4), altamente contagiosa e com estragos registrados na Austrália, Equador e Costa Rica. E tome agrotóxicos.

Não consigo imaginar o mundo – a humanidade – sem a banana. Não tanto pela perda de seus nutrientes (contém 11 vitaminas) e pela importância econômica (preocupação para o império bananeiro da família Cutrale, brasileira de Araraquara, para a hoje suíça Chiquita e a americana Dole), mas por sua contribuição à gastronomia e à cultura.

Sem caroço ou semente, simples de descascar, um prodígio de design, a banana é de uma versatilidade inexcedível: in natura ou processada, cozida, assada, frita, amassada, doce ou salgada, com ou sem complemento, de qualquer jeito é uma delícia.

Sua riqueza semântica só tem, no pomar, um rival, o abacaxi.

Além de agro e pop, banana é sinônimo de covarde, preço baixo, situação embaraçosa (bananosa), sem contar o ofensivo gesto também conhecido como “manguito”.

O que seria de Carmen Miranda e Josephine Baker sem a banana?

E da música popular?

Nos mais variados ritmos.

Ela inspirou um hit americano (Yes! We Have No Bananas), uma triunfalista réplica brasileira (Yes, Nós Temos Bananas), uma marchinha carnavalesca (Chiquita Bacana), um calipso de Harry Belafonte (Banana Boat), um rock (Banana Split) e um samba-rock (Vendedor de Bananas, de Jorge Ben Jor).

Os mais gananciosos, inescrupulosos e cruéis aventureiros a exploraram e disseminaram mundo afora, contou o jornalista Dan Koeppel em Bananas – The Fate of the Fruit That Changed the World, misto de reportagem e ensaio sobre os caminhos trilhados pela fruta e os desvios históricos que ajudou a precipitar.

“A banana é o yin e o yang do sangue e da cultura dos Estados Unidos”, sintetizou Koeppel após investigar os estragos no continente latino-americano causados pela United Fruit.

Foi com esse nome que a multinacional norte-americana (rebatizada Chiquita em 1970) bananizou Honduras, Guatemala, Costa Rica, Panamá, Colômbia e Equador.

Naquela base: explorando mão de obra barata, burlando o fisco, corrompendo civis e militares, ajudando a fraudar eleições, financiando assassinatos, golpes de estado e ditaduras – com a indispensável ajuda da CIA.

Mas antes de a CIA, a bananização do mal já era um fato no Caribe até do outro lado do planeta.

Theodore Roosevelt invadiu e ocupou Cuba e as Filipinas na virada do século 20.

Em 1911, os “soldados das bananas” depuseram o presidente de Honduras.

Em 1928, milhares de camponeses colombianos empregados em terras da United Fruit entraram em greve e foram fuzilados em praça pública.

Em 1954, foi a vez de o presidente da Guatemala, Jacobo Arbenz Guzman, ser derrubado, pela “ousadia” de forçar os gringos a revenderem suas terras improdutivas ao governo, que pretendia redistribuí-las à população rural mais pobre.

Esses e outros horripilantes episódios patrocinados pelos barões da banana aparecem num capítulo de Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, e no romance La Casa Grande, do também colombiano Alvaro Sepeda Samudio.

Ao longo da década de 1950, o guatemalteco Miguel Angel Asturias publicou uma trilogia (Vento Forte, O Papa Verde, Os Olhos dos Enterrados) tendo como pano de fundo o processo de pilhagem da América Latina pela United Fruit.

A Banana Company de Macondo lá instala o caos e a violência, muda até os padrões de chuva, acelera o ciclo das colheitas, transfere um rio do lugar, contrata assassinos com machetes para dominar a cidade.

“Quando, enfim, foi embora, a cidade estava em ruínas”, arremata Gabo.

Ou seja, numa autêntica bananosa, como cidades reais do império que hoje, em novas mãos, nem ajudado pela CIA talvez consiga derrotar seu mais poderoso inimigo: o TR4, um fungo com a mesma sigla de um tribunal regional.


  

Compartilhe: twitter delicious Windows Live MySpace facebook Google digg

  Textos anteriores
08/01/2022 - Antígeno ou PCR? Qual teste fazer em cada suspeita de covid
07/01/2022 - Pele artificial muda de cor e dá aos humanos o poder dos camaleões
06/01/2022 - O que é aquamação, a cremação com água?
01/01/2022 - Vai passar ou piorar? Os cenários para a pandemia em 2022
27/12/2021 - Como as vacinas de RNA que nos salvaram da covid-19 podem derrotar outras doenças
26/12/2021 - Natal já era comomorado antes do nascimento de Jesus
26/12/2021 - Crianças e adolescentes devem usar redes sociais? Veja dicas de especialistas
24/12/2021 - O que é a ansiedade e como ela se diferencia da depressão
16/12/2021 - Como surpreendente recuperação de florestas pode ser arma contra aquecimento global
15/12/2021 - Brasil entra na lista de alto risco de volta da pólio
14/12/2021 - Coronavac - maiores de 60 precisam de 3 doses para serem considerados protegidos, diz Opas
13/12/2021 - Novo Estimulante Masculino é liberado pela Anvisa
12/12/2021 - Crise hídrica é mundial, dizem cientistas
12/12/2021 - Floresta recupera 80% do estoque de carbono e da fertilidade do solo após 20 anos da regeneração
06/12/2021 - Como ter filhos modifica o cérebro das mulheres
02/12/2021 - GÁS H2 DESPONTA COMO FUTURA ENERGIA LIMPA
30/11/2021 - Ômicron, a próxima rodada do coronavírus
23/11/2021 - APLICATIVOS DE RASTREAMENTO CUIDAM DO CASO
19/11/2021 - Eclipse lunar parcial mais longo em 580 anos vai ser visto do Brasil: saiba onde e quando observar
18/11/2021 - Golpe do Pix: hackers contam como enganam vítimas; saiba como se proteger

Listar todos os textos

 
Editor: Marcos Antonio Moreira
Diretora Executiva: Kelen Marques