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Veganismo na infância: é possível garantir um desenvolvimento saudável?
02/11/2018 - MATHEUS NOBRE - O ESTADO DE S. PAULO

Ontem, 1º de novembro, foi comemorado o Dia Mundial do Veganismo - uma possibilidade para ampliar o debate sobre o tema. Atualmente, há cerca de 5 milhões de veganos no Brasil, e diversos fatores que motivam a mudança de hábitos, que vão muito além de interromper o consumo de carne ou frango.

A prática está cada vez mais presente entre as crianças brasileiras e gera muitos questionamentos em torno de famílias que criam seus filhos sem proteína animal.

Afinal de contas, é possível que uma criança tenha um desenvolvimento saudável com base em uma dieta vegana?


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André Freitas, nutricionista do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (Ceunsp), acredita que sim.

Ele listou alguns benefícios, do ponto de vista nutricional, para crianças que tenham uma alimentação vegana.

Para Freitas, essa dieta proporciona um excelente consumo de fibras e vitaminas antioxidantes.

O nutricionista aponta também outro fator benéfico:

“Ao se consumir alimentos vegetais em maior quantidade, é possível diminuir o consumo de alimentos processados, que são altamente ricos em gorduras, açúcar e sal”.

Em grande parte dos casos, o veganismo vem do berço. A criança já nasce em um lar, onde os hábitos e a rotina alimentar são veganos.

Por outro lado, existem situações em que os filhos são os responsáveis por retirar a proteína animal do cardápio familiar. Decisão que pode, inclusive, transformar os hábitos de toda a família.

Foi o que aconteceu na casa da técnica em nutrição Aline Lira, em Santos. Ela e o marido Fábio se tornaram veganos por influência do filho.

Hoje com 9 anos, Yuri subverteu o pensamento dos pais e os mostrou que não era necessário comer derivados de animais para ser saudável.

Com apenas dois anos de idade, o menino já demonstrava resistência em ingerir proteína animal.

Aline relata que os primeiros passos da alimentação do filho não foram fáceis. Convencê-lo a comer foi um desafio para os pais, que hoje se arrependem de terem insistido.

“Por muito tempo a gente acabava dando alimentos que não se pareciam com carne, como linguiça, salsicha e hambúrguer. Era nossa esperança de que ele comesse proteína. Não tínhamos informação e achávamos que a proteína animal fosse essencial.”

Questionador, Yuri deu um basta aos 6 anos e pediu para nunca mais comer proteína animal. Ele reforçou que nunca mais queria ver "pedaços de animais na geladeira".

Durante a adaptação para a nova rotina alimentar do filho, Aline contou com a ajuda de dois amigos que estavam em transição para o veganismo.

A internet também foi uma importante aliada durante o processo de Yuri.

A mãe criou uma conta no Instagram para seguir perfis com dicas veganas e passou a postar os pratos que fazia.

De acordo com Aline, as pessoas questionavam como a família se alimentava até a criação do perfil @comendo_mato.

Nas postagens das redes sociais, a mãe também compartilha cliques do filho comendo quitutes veganos, provando que é possível aliar propósito, sabor e saúde.

Gabriela Kapim, nutricionista e apresentadora do programa "Socorro! Meu Filho Come Mal", no GNT, reafirma que é possível ter uma alimentação saudável sem o consumo de proteína animal na infância, mas faz um alerta para os pais.

“É preciso que estejam muito atentos às combinações dos alimentos para verificar o suporte proteico”.

Ela ressaltou a importância do acompanhamento nutricional com regularidade.

“Podem existir alguns déficits de nutrientes fundamentais para o desenvolvimento da criança, e a nutricionista vai saber como balancear essa dieta”.

Kapim explica que a combinação de cereais e leguminosas não pode ficar de fora do cardápio de uma criança vegana.

Segundo a nutricionista, eles juntos conseguem formar aminoácidos completos. Os vegetais verdes e escuros também são muito importantes para garantir o equilíbrio nutricional.

Eles são ricos em cálcio e suprem necessidades que podem surgir a partir de uma alimentação sem proteína animal.

Para ela, o veganismo aponta traços que vão muito além da comida.

Kapim afirma que alimentação está relacionada a hábitos culturais e ao relacionamento entre as pessoas. Por este motivo, é importante tomar cuidado para que a alimentação não seja um dificultador na socialização da criança.

“Sem querer param de frequentar festas porque geralmente tem alimentos que não são veganos e até deixam de ir para casa do amigo pelo mesmo motivo. É preciso ficar atento quando começa a limitar demais a socialização da criança”, ponderou a nutricionista.


  

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