Urina humana usada para fabricar biotijolos na África do Sul 20/11/2018
- AGÊNCIA FRANCE PRESSE
Um dia, no lugar de ser desperdiçado e eliminado através de tubulações, a urina humana poderá ser usada para construir uma casa, o que será um método muito mais verde e, com certeza, sem o perigo de um cheiro ruim.
E isso será graças a tijolos feitos de urina, segundo a mais recente descoberta de pesquisadores sul-africanos da Universidade da Cidade do Cabo, que trabalham com materiais de construção duráveis e que são menos prejudiciais ao meio ambiente.
Os pesquisadores esperam que esses “tijolos biológicos”, uma inovação global, possam substituir os tradicionais tijolos de barro cozido ou cimento.
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Usando uma técnica inspirada na formação natural das conchas, esses pesquisadores – dois alunos e um professor – conseguiram desenvolver protótipos desses novos tijolos, em um período de seis a oito dias.
No ano passado, um estudo de viabilidade foi lançado graças a uma doação do Water Research Council, uma agência governamental sul-africana, inicialmente usando urina sintética e, em seguida, urina humana.
PRIMEIRO BIOTIJOLO
“Eu sempre fui curioso para saber por que não usamos a urina assim”, comenta Dyllon Randall, o professor que supervisionou um dos dois alunos.
“A resposta é simplesmente ‘sim, é possível'”, acrescenta. “Na verdade, fizemos o primeiro biotijolo a partir da urina real”.
“Este processo é surpreendente porque, em termos gerais, fizemos os tijolos crescerem à temperatura ambiente”, comenta ainda, divertido.
Os pesquisadores conseguiram produzir esse “biotijolo” no laboratório depois de um ano. Misturando urina, areia e bactérias, eles recorreram a um processo natural – a precipitação microbiana de carbonato – para fazer seus tijolos.
A pesquisa ainda está dando seus primeiros passos. Para fazer um tijolo, são necessários 30 litros de urina. A matéria-prima é recuperada graças a um mictório especial reservado aos estudantes do sexo masculino da universidade.
Os três primeiros tijolos feitos com este método até agora estão expostos. São blocos cinzentos com aparência e peso semelhantes aos tijolos normais. O material parece calcário.
Suzanne Lambert, estudante de engenharia civil e membro da equipe de pesquisa, admira como “processos naturais” foram copiados.
“Este procedimento imita a maneira como o coral é formado e os processos naturais de produção de cimento”, observa ele.
SEM CO2
Os “biotijolos”, por outro lado, “são cultivados” na areia em que as bactérias são semeadas para produzir uma enzima chamada urease.
A urease reage em contato com a uréia presente na urina para produzir um composto semelhante ao cimento, que está associado à areia.
O produto assim obtido pode ser inserido em moldes e ser seco à temperatura ambiente, sem a necessidade de emissões de gases de efeito estufa.
“Nós usamos urina, geralmente considerada um desperdício, em um processo totalmente durável”, diz Randall.
E para aqueles que se preocupam que suas paredes possam cheirar mal: o cheiro de amônia gerado pela urina humana se dissipa em poucos dias de secagem dos tijolos.
A resistência do material pode ser ajustada às necessidades específicas de um edifício, diz Vukheta Mukhari, outro estudante que participou da pesquisa.
Os “biotijolos” produzidos até agora são “tão sólidos quanto os tijolos que existem atualmente no mercado”, assegura.
Nos Estados Unidos, já foram fabricados “biotijolos”, mas a partir de uma urina sintética. Os produzidos na África do Sul são os primeiros a usar a urina humana.
O preço deste material inovador será decisivo para saber se ele pode representar uma competição com os tijolos clássicos.
Mas no momento é muito cedo para ter uma ideia. “Estamos muito longe da verdadeira comercialização”, diz Randall, considerando que o processo de fabricação pode melhorar.
“Atualmente, são necessários entre 20 e 30 litros para criar um tijolo padrão, o que parece muito, mas a urina é composta de 90% de água”, lembra ele.
“Estamos investigando como reduzir o volume de urina necessário para fazer um tijolo, e tenho certeza de que daqui a alguns anos teremos resultados bem melhores”.