Bovespa sobe 1,3% no fechamento e atinge maior "preço" desde abril; dólar bate R$ 1,67 05/10/2010
- Epaminondas Neto - Folha Online
A Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) valorizou com força na rodada desta terça-feira, retomando um nível de preços não visto desde abril deste ano. Os investidores reagiram bem às novidades da economia japonesa, bem como à recuperação do setor de serviços nos EUA. Também chamou a atenção dos analistas o forte volume registrado no pregão de hoje, muito acima da média.
E um dia após o aumento do IOF, a taxa de câmbio continuou a oscilar abaixo de R$ 1,70.
No mercado, analistas estão divididos sobre as perspectivas da Bolsa no curto prazo. Uma parcela salienta que o cenário externo continua adverso, e problemas nas principais economias podem afetar novamente o desempenho do Ibovespa. Outra parcela de analistas destaca o forte volume de capital estrangeiro que entrou no mercado no mês passado (mais de R$ 3 bilhões) e avalia que esse fluxo pode levar o índice para novos patamares.
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O aumento da IOF para aplicações de renda fixa por estrangeiros também despertou rumores de que o governo possa estender a medida para aplicações de renda variável. Mas mesmo cenário, a avaliação é de que a Bolsa brasileira ainda continua atrativa para o capital externo.
O índice Ibovespa, que reflete os preços das ações mais negociadas, valorizou 1,28%, aos 71.283 pontos. O giro financeiro foi de R$ 8,47 bilhões, bem acima da média do mês passado (R$ 6,7 bilhões/dia). Nos EUA, o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, avançou 1,80% no encerramento das operações.
E um dia após a intervenção do governo, a taxa de câmbio cedeu 1%, para R$ 1,675, o menor patamar desde setembro de 2008. 'Provavelmente, essa medida do IOF pode ter algum efeito, acho que nos próximos dias, de amenizar a queda do dólar, mas não vai ser suficiente: esse enfraquecimento do dólar é uma questão global', constata José Raymundo de Faria Jr., da consultoria Wagner Investimentos.
O analista da corretora Senso, Antonio Cesar Amarante, chama a atenção para o forte volume registrado na Bolsa. "A Bolsa saiu de uma zona de indefinição em que estava há meses. Desde a semana passada o volume [de negócios] ficando mais forte. E para o mercado definir uma tendência era preciso justamente de um fluxo [de capital] mais forte", comenta.
Para o especialista, o desfecho da oferta pública da Petrobras livrou o mercado de uma das maiores incertezas do ano e abriu caminho para o retorno dos investidores às compras. Para ele, foi sintomático que as ações da estatal tenham desvalorizado hoje. "Para mim, é o sinal de que muitos venderam Petrobras para comprar outros papéis. As ações do setor financeiro subiram bem hoje. Assim como as ações de empresas voltadas para o consumo doméstico".
Ontem à noite, o governo brasileiro anunciou a elevação do IOF cobrado sobre aplicações de estrangeiros em renda fixa no país, de 2% para 4%, como forma de conter a valorização excessiva do real frente ao dólar. "Calma. Não sejamos apressados. Vamos deixar a medida ter efeito", disse hoje o ministro Guido Mantega (Fazenda).
Entre as principais notícias do dia, o banco central japonês surpreendeu os mercados e rebaixou a taxa básica de juros desse país de 0,1% para quase zero. Trata-se da primeira mudança na política monetária japonesa desde dezembro 2008, em plena crise financeira internacional.
Na Europa, uma sondagem privada (instituto Markit) apontou que a recuperação do nível de atividade no setor de serviços teve um ritmo mais lento em setembro, principalmente por conta da França e na Espanha. Ainda no velho continente, a agência de classificação de risco Moody's avisou que estuda um possível rebaixo do 'rating' da Irlanda, apontando problemas de deficit público desse país.
Já nos EUA, a entidade privada ISM detectou uma aceleração no ritmo de atividade do setor de serviços desse país em setembro. O índice elaborado por esse instituto teve uma leitura de 53,2 pontos no mês passado. Economistas do setor financeiro estimavam uma cifra em torno de 51,8 pontos.
E no front doméstico, a CNI informou que o faturamento do setor industrial teve um ligeiro recuo (0,3%) em agosto, sobre julho. Na comparação com agosto do ano passado, no entanto, a alta do faturamento real foi de 11,8%.