Bovespa recua 1,67% no fechamento, com pessimismo global 16/11/2010
- Folha Online
China e Europa formaram o coquetel fatal que derrubou as principais Bolsas de Valores nesta terça-feira. No caso do gigante asiático, a sinalização de que Pequim vai lançar novas medidas para conter o aquecimento da economia, preocupado com o a inflação do país, afetou os preços das commodities --o país é um grandes importadores globais. Na Europa, os problemas das chamadas "economias periféricas" -- Grécia e Portugal, entre outros- voltaram afetar o humor dos investidores.
Mas os problemas americanos também permanecem no radar de analistas. "Nos EUA, a economia segue fornecendo sinais de moderada melhora, mas o novo programa de afrouxamento quantitativo do Federal Reserve ainda não foi bem digerido -- nem internamente, muito menos externamente. As pressões para que a autoridade monetária reverta a política se acentuam, dando novo fôlego para o dólar em termos globais", avalia Silvio Campos Neto, economista-chefe do banco Schahin, em relatório semanal sobre mercados.
O índice Ibovespa, que reflete os preços das ações mais negociadas, teve perdas de 1,67%, recuando para os 69.192 pontos, e quase anulando todo o ganho acumulado neste ano (alta de 0,88% desde janeiro). Nos EUA, as principais Bolsas ainda não encerraram seus negócios -- o índice Dow Jones cai 1,76%. As Bolsas europeias amargaram seu pior tombo num dia desde o início de julho.
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O giro financeiro da Bolsa brasileira foi de R$ 9,85 bilhões, inflado pelo vencimento de opções (R$ 2,85 bilhões) de hoje.
O dólar comercial foi cotado por R$ 1,740, em alta de 0,92%. A taxa de risco-país marca 180 pontos, disparando 8,4% na jornada de hoje.
Entre as principais notícias do dia, autoridades econômicas chinesas advertiram que preparam uma série de ações para conter altas dos preços consideradas indesejáveis pelo banco central desse país. Segundo a imprensa local, algumas dessas ações devem ser controles de preços e subsídios para compradores.
Pequim já deu diversos sinais de desconforto com a dinâmica atual da economia e, além de aumentar pontualmente algumas taxas de juros, aumentou a parcela dos depósitos bancários que ficam em reserva, de modo a retirar dinheiro em circulação -- uma medida clássica para controlar o nível de atividade.
Na Europa, o deficit público acima das expectativas da Grécia, e a admissão de Portugal de que vai demandar socorro financeiro, formam os novos capítulos da "novela" da crise europeia. A Irlanda, embora "relutante", tende o seguir pelo mesmo caminho, em meio a pressões para que aceite a intervenção da UE.
Passada a pior fase da crise de 2008, esses países revelaram sérios problemas de contas públicas, e começaram a ser vistos com desconfiança cada vez maior pelos mercados, comprometendo até mesmo a gestão das dívidas dessas nações. E autoridades europeias admitiram hoje que o bloco deve enfrentar uma "crise de sobrevivência".
Nos EUA, o Federal Reserve informou que a produção industrial ficou estável em outubro, após uma contração de 0,2% em setembro. E a inflação medida pelo PPI (índice de preços ao produtor) teve variação de 0,4% no mês passado, mesma taxa verifica em setembro. Economistas do setor financeiro estimavam uma inflação muito maior para o período -- 0,8%, pelo consenso.
No front doméstico, o boletim Focus (elaborado pelo Banco Central) mostrou que a maioria dos economistas do setor financeiro elevou suas projeções para a inflação deste ano --a variação projetada do IPCA passou de de 5,31% para 5,48%. a projeção para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) continua em 7,60% neste ano e em 4,50% em 2011.
O Ministério do Desenvolvimento reportou que a balança comercial teve superavit de US$ 896 milhões na segunda semana de novembro. No acumulado de janeiro a novembro, o superavit comercial é de US$ 15,946 bilhões, ou US$ 73,5 milhões/dia, cifra quase 30% abaixo da média diária verificada em 2009 para o mesmo período (US$ 103,7 milhões).
EMPRESAS
O Banco do Brasil anunciou hoje um lucro líquido de R$ 2,6 bilhões para o período do terceiro trimestre, número 33% acima do resultado de um ano antes. A ação ordinária teve ganho modesto de 0,14%, enquanto os papéis dos rivais do setor privado -- Itaú e Bradesco -- desvalorizaram 2,02% e 1,09%, respectivamente.
Já a companhia aérea TAM reportou um lucro líquido de R$ 740 milhões, apurado no terceiro trimestre deste ano, mais que o triplo (224%) do ganho contabilizado no mesmo período em 2009. A ação preferencial teve alta de 0,36%, enquanto a ação de mesmo tipo da Gol retrocedeu 1,75%.