Decepcionados com Brasil, dekasseguis retornam ao Japão 22/11/2010
- BBC
Depois de morar por quatro anos no Japão, a jornalista Thassia Ohphata, de 27 anos, resolveu voltar para Suzano (SP), em junho de 2009. Animada com o que ouvia dos familiares e amigos sobre o país natal, ela esperava dar um salto na qualidade de vida.
"Mas não foi nada disso que encontrei", lamenta. Thassia está entre muitos dekasseguis que viveram no Japão e haviam decidido voltar ao Brasil por causa da crise, mas acabaram decepcionados com o mercado de trabalho e do suposto bom momento que vive a economia do país.
Apesar da qualificação profissional, Thassia encontrou, no Brasil, uma situação difícil: tinha de fazer jornada dupla para garantir um bom salário no fim do mês.
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Após seis meses, recebeu uma proposta para voltar ao Japão. Não pensou muito. Fez as malas e, em menos de um mês, já estava trabalhando numa revista voltada à comunidade brasileira no Japão.
"Fiquei desanimada com o mercado de trabalho no Brasil. Se tivesse um bom emprego, não teria deixado o país; mas o fato é que a bondade da economia brasileira não chega a todos", diz.
FÁBRICAS
O ex-lavrador Hiromi Mashiko, 32, também estava desanimado com o país natal e, por isso, deixou Medianeira (PR), para tentar uma vida melhor no Japão. Esta é a primeira vez que sai do Brasil. Ele chegou à terra dos ancestrais em agosto deste ano para trabalhar em fábricas.
Os contratos dele são temporários - renovados a cada três meses. Mesmo assim, ele diz que o salário é bem mais animador do que o que ganhava na lavoura no Brasil.
"Nos últimos três anos eu praticamente fiquei no vermelho todo mês", conta.
Mashiko reclama que o crescimento econômico vivido pelo Brasil não contempla os pequenos agricultores.
"Falta mais incentivo do governo", critica ele, que pretende ficar no Japão por quatro ou cinco anos. "Quero liquidar minhas dívidas, voltar para o Paraná e tentar mais uma vez na agricultura", conta.
MÃO DE OBRA
Segundo dados do Ministério da Justiça do Japão, entre janeiro de 2008 e junho de 2009, no auge da recessão econômica, 87.574 brasileiros entraram no país.
Apesar de o saldo ser negativo (142.238 brasileiros voltaram ao país natal no mesmo período), o número é significativo, e bate com a média deste ano - em 2010, 5 mil brasileiros têm entrado no arquipélago por mês.
"O Japão ainda está em crise, mas emprego não falta", afirma Ricardo Minoru Koike, presidente de uma empresa de recrutamento. Ele explica que as fábricas, desde 2008, não estão mais contratando funcionários fixos, mas sempre precisam de trabalhadores temporários conforme a produção aumenta.
"Recebemos um pedido esta semana de uma fábrica de pães que precisa urgente de 30 pessoas para a semana que vem. Não temos como atender, pois falta mão de obra", conta.
Koike diz que, hoje, todos os setores -- como alimentação, autopeças e eletrônicos --têm vagas de trabalho.
"Muitos dos nossos funcionários voltaram ao Brasil, mas não deram certo e tiveram de regressar ao Japão", conta.
"Ouve-se falar muito bem do Brasil, mas temos de lembrar que o desenvolvimento é em nível macroeconômico. O trabalhador comum ainda não ganha um salário alto", pondera o empresário.
"Por isso, o Japão ainda é uma opção para quem quer ter uma qualidade de vida melhor."
"SE DAR BEM"
Raphael Ribeiro, 21, viu de perto essa realidade. Depois de morar por três anos no Japão, em outubro de 2009 ele voltou animado para Araçatuba (SP), decidido a não sair mais de lá.
"Esperava encontrar um Brasil melhor, mas me decepcionei", conta.
No Japão, o jovem trabalhou em fábrica de autopeças e fez um curso de fotografia.
"Quando voltei, consegui emprego como fotógrafo, mas o salário não era o que esperava."
Por isto, em julho deste ano Raphael fez as malas e voltou às fábricas japonesas.
"No Japão, a gente tem mais chance de evoluir profissionalmente, pois podemos juntar mais dinheiro e fazer cursos", diz o jovem.
"No Brasil, ao contrário, só quem tem muito dinheiro consegue se dar bem."