¨Prato feito¨ sobe duas vezes mais que a inflação em um ano 25/11/2010
- Tatiana Freitas - Folha Online
O tradicional ¨PF¨ (prato feito) subiu quase duas vezes mais do que a inflação medida pelo IPCA em um ano.
A combinação de alimentos mais procurada pelos brasileiros --o arroz com feijão acompanhado de salada, bife, batata frita e ovo frito-- teve alta de preço de 14,6% nos últimos 12 meses encerrados em outubro.
O cálculo foi feito pelo economista Jean Barbosa, da Tendências Consultoria, a pedido da Folha, com base na variação dos componentes do ¨prato feito¨ no IPCA e o peso desses produtos no principal índice de inflação. No mesmo intervalo, o índice geral subiu 5,2%.
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O feijão apresentou a maior contribuição para a ¨inflação do PF¨. O tipo carioca subiu 98% na média nos últimos 12 meses. O motivo: problemas climáticos comprometeram a produtividade e resultaram em quebra de safra.
A produção brasileira ficou em 3,15 milhões de toneladas na safra 2009/10, insuficiente para atender à demanda. O Brasil consome, por ano, cerca de 3,3 milhões de toneladas de feijão.
¨Houve um aperto no consumo. Com o preço mais alto, os consumidores procuram alternativas e o mercado acaba se equilibrando¨, diz o analista especializado no setor Vlamir Brandalizze, sócio da Brandalizze Consultoria.
Os preços pagos ao produtor já começaram a cair e, em breve, o valor nas gôndolas deve seguir essa tendência.
¨Entre dezembro e janeiro, começa a colheita da primeira safra de feijão, o que vai elevar a oferta em um momento de demanda tradicionalmente mais fraca, em razão das férias¨, afirma.
A saca do feijão, que chegou a ser cotada a R$ 230 no campo em meados deste ano, ontem era vendida a R$ 108 na média brasileira, segundo levantamento da Folha. Desde o início de novembro, o preço pago ao produtor caiu 14%.
O bife também pesou no custo do prato feito. O preço do contrafilé subiu 15% em 12 meses, conforme mostra o IPCA. A oferta de carne bovina também foi influenciada por fatores climáticos, como a seca em áreas de pecuária, o que prejudicou a engorda do gado.
Além desse fator pontual, a oferta de animais para abate caiu também por conta de um fator conjuntural.
O Brasil vive os efeitos de um movimento de abate de matrizes (fêmeas) que ocorreu há quatro anos --reflexo dos baixos preços pagos ao produtor na época- e inibiu o crescimento do rebanho em uma fase de demanda aquecida. ¨O consumo cresceu acompanhando a renda da população¨, diz Barbosa.
Com o maior peso no custo do prato feito, o arroz permaneceu quase estável em 12 meses, assim como a alface.
Mesmo com influências menores no custo total da refeição, a batata e o tomate evitaram valorização ainda maior do ¨PF¨ em um ano, ao apresentarem variações negativas no período.
O ovo de galinha subiu em linha com a inflação.
O IPCA-15, considerado uma prévia do IPCA, divulgado nesta semana, mostrou que, apesar de os preços ao produtor se desacelerarem, o consumidor continua gastando mais no mercado.
O grupo alimentação e bebidas subiu 2,1% em novembro, ante 1,7% em outubro. O contrafilé ficou 6% mais caro em relação ao mês anterior, e o feijão-carioca subiu 11% na mesma comparação.