Cidades médias lideram crescimento populacional 28/11/2010
- Lourival Sant'Anna - O Estado de S.Paulo*
Na última década, número de habitantes nestes municípios aumentou, em média, 1,43% por ano, contra 0,90% dos demais
Escolas particulares não são um bom negócio em Parnamirim (RN). As da rede municipal são mais bonitas (e parecem melhores). Donos de academias de ginástica não têm uma vida fácil em Sinop (MT). As pistas de jogging que circundam as muitas áreas verdes da cidade têm equipamentos novos, coloridos, destinados às diferentes faixas etárias e até a pessoas com necessidades especiais. Apesar de sua explosão populacional, Rio das Ostras (RJ) não tem favelas.
As três encabeçam o ranking das cidades médias, com 100 mil a 250 mil habitantes em 2010. Esse grupo, formado por 171 municípios, foi o que mais cresceu nos últimos dez anos. Entre os dois censos, enquanto a população brasileira aumentou em média 0,90% ao ano, as cidades médias cresceram 1,43%. Das 171, 113 cresceram acima da média anual brasileira. São cidades que atraem pessoas de outros cantos do País, às vezes de muito longe, por causa dos empregos, dos serviços públicos e da qualidade de vida que oferecem.
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O Estado investigou as causas do crescimento de cada uma dessas 113 cidades, e classificou-as em 9 categorias. O levantamento indica os motores da economia brasileira. Algumas cresceram por mais de um motivo, e por isso a soma é bem maior que 113. As indústrias contribuíram para o crescimento de 71 cidades; 38 se destacam pelo comércio e serviços; 35 cresceram por estar conurbadas ou ao alcance de grandes cidades, servindo-lhes de dormitório; o agronegócio move 22 delas; o turismo, 11; 8 recebem royalties do petróleo; 4 vivem principalmente da pesca; 2, de minérios; e Palmas, por ser a capital do novo Estado do Tocantins, instalado em 1989.
A cidade média que mais cresceu, Rio das Ostras, é um ponto fora da curva. Sua população quase triplicou nessa década, de 36.419 para 101.508 - aumento de 178,72%, ou 10,79% ao ano. A cidade fica a 25 km de Macaé, a "capital do petróleo" do Brasil. Dois terços de sua arrecadação são royalties do petróleo: R$ 236 milhões em 2009, um ano péssimo por causa da crise internacional. Parte dos executivos que trabalham em Macaé prefere morar em Rio das Ostras. Há ainda aposentados que se mudam para lá e turistas que levam empregos.
A segunda colocada em ritmo de crescimento populacional foi Parauapebas, cuja população aumentou 108,77%. Assentada sobre a maior província mineral do mundo, com o ouro da Serra Pelada e o ferro de Carajás, é um caso singular, que não se replica. Palmas, em terceiro lugar, também, como capital criada recentemente. Em quarto, vem Parnamirim, cuja população saltou de 124.690 para 195.274, ou 4,59% ao ano. Ela emenda com Natal, que só pode crescer na sua direção: dos outros lados estão as dunas e o mar. É seguida por Maricá (RJ), também movida pelo petróleo, e por São José de Ribamar (MA), que fica a 30 km de São Luís e acolhe seu excedente.
Em sétimo, vem Sinop, que cresceu 4,08% ao ano, passando de 74.831 para 111.643. O Norte de Mato Grosso vive o seu terceiro ciclo econômico. O primeiro foi o da madeira. Depois vieram a soja, o arroz, o milho, o algodão e o gado. O agronegócio continua sendo importante para a região. Mas Sinop, como polo de 32 cidades que vivem dos grãos e do gado, passou a crescer também por causa do comércio e dos serviços. Tornou-se uma cidade de verdade.
O marceneiro Israel Chaves, de 49 anos, é um símbolo dessa conversão de Sinop. Há 12 anos, ele percorre com um caminhão as áreas de extração de madeira, à procura de restos de toras cortadas. Com termo de doação das madeireiras que atuam sob autorização do Ibama, ele carrega esses pedaços de árvores - em geral esturricados - para o pátio em frente à sua marcenaria. E os transforma em móveis, que vende por R$ 800 a R$ 10 mil a lojas do Sudeste e do Sul do Brasil e a um distribuidor na Suíça. "Aquela itaúba vai virar uma chaise", diz ele, olhando para um tronco queimado até a raiz.
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*Colaboraram José Roberto de Toledo, Nayara Fraga e Felipe Frazão