No PR, o 1º plantio em larga escala de estévia 12/01/2011
- Leandro Costa - O Estado de S.Paulo
Está em plena colheita, no município paranaense de Ângulo, vizinho a Maringá, a primeira safra em larga escala de estévia do Brasil. Originária do Paraguai, a estévia (Stevia rebaudiana) é um arbusto cujo extrato das folhas é utilizado para a produção de adoçantes naturais. Por ser uma planta semiperene, ela pode ser cortada a cada três meses durante um período de cinco anos, quando a lavoura tem de ser substituída.
Nos países onde é cultivada, como China, Paraguai e Argentina, a produção é feita tradicionalmente em pequenas áreas, de até 1 hectare. Mas para atender ao crescimento da demanda mundial pelo adoçante em forma de cristal, principalmente da Europa e Estados Unidos - nos EUA o produto foi classificado há cerca de dois anos pelo Federal Drug Administration (FDA) como aditivo alimentar e não como suplemento dietético -, a empresa Steviafarma, pioneira na produção de adoçantes à base de estévia, decidiu investir no cultivo em larga escala da planta.
Ao todo, foram plantados em 2009 cerca de 200 hectares e, no fim do mês passado, começou a colheita de 60 hectares. A colheita, que está atrasada, deve seguir até fevereiro.
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"Estima-se que para atender à demanda mundial por cristal de estévia nos próximos anos sejam necessários 350 mil hectares de área plantada. Hoje existem apenas 35 mil hectares plantados no mundo. Ainda há muita terra para se plantar", diz o presidente da Steviafarma, Thales Aburaya.
Autossuficiência
Além da demanda crescente, Aburaya expõe duas razões para a opção de quebra no paradigma das pequenas áreas de cultivo. A primeira é a autossuficiência na produção da matéria-prima. Como não há no Brasil uma cadeia de produtores capaz de abastecer a empresa, ela se via obrigada a importar folhas do Paraguai e Argentina.
A segunda razão, e mais complexa, na visão do executivo, tem a ver com a qualidade do produto final. Segundo ele, as folhas importadas são de variedades chamadas de crioulas, que são praticamente selvagens. Nessas folhas, a concentração de rebaudiosídeo (elemento que dá o sabor doce à planta) é baixa, em torno de 30%, e o teor de steviosídeo (componente que deixa a folha amarga) é de 70%.
"No mundo todo, o que se vê são produtores trabalhando com plantas crioulas, o que acaba resultando em um cristal de baixa qualidade, menos nobre. E em um modelo de agricultura familiar, com muitos pequenos fornecedores, fica difícil investir em melhorias", diz Aburaya. "Nos fóruns mundiais sobre estévia essa questão é vista como um ponto complexo para a evolução da cadeia produtiva."
Clonagem
Por essa razão, a empresa começou a investir na seleção de exemplares da planta com teores maiores de rebaudiosídeo. Foram cerca de seis anos de pesquisas, segundo conta o engenheiro agrônomo e gerente agrícola da fazenda da Steviafarma, Zander Martinez. "O resultado foi o desenvolvimento de uma planta com cerca de 80% de concentração de rebaudiosídeo, contra apenas 20% de steviosídeo, ou seja, uma planta extremamente doce e que não deixa gosto residual", diz Martinez. A partir desta planta, por meio de um processo de clonagem, foi feito todo o plantio nos 200 hectares da fazenda.
A maior parte do cristal produzido pela Steviafarma é exportado, conforme conta Aburaya. "Boa parte vai para nosso parceiro de negócio nos EUA, que fez um aporte de US$ 1,5 milhão para receber o adoçante em cristal. Também exportaremos para Chile, Guatemala, Paraguai, Equador e Peru." Uma parte pequena será destinada para a produção de uma linha de adoçantes que a empresa começará a comercializar este ano, no mercado interno.
Valiosa
Ao todo, a capacidade de produção anual da fazenda da Steviafarma é de 56 toneladas de adoçante em cristal. O número pode não parecer muito grande, porém, considerando que a cotação do quilo do cristal pode chegar a US$ 200, o volume total produzido rende cerca de US$ 11,2 milhões (R$ 18,9 milhões).
De olho no lucro, a empresa pretende ampliar a área de produção nos próximos anos. O planejamento prevê ampliar em cinco vezes a área de plantio, chegando a mil hectares plantados até 2015.
Paraná já teve a maior área plantada
Maringá (PR) já foi o detentor da maior área de plantio de estévia do mundo. Isso ocorreu no início da década de 1980, segundo lembra o pesquisador da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Silvio Claudio da Costa.
"Na época foi criada uma associação, que reunia cerca de 60 produtores, cuja área de plantio total era de 300 hectares. Eles entregavam a produção para a Ingá Stevia, empresa que depois viria a se tornar a Steviafarma", conta.
De lá para cá, porém, a área plantada no Brasil diminuiu muito e, hoje, o pesquisador não tem conhecimento de pequenos produtores que seguem cultivando a estévia.
"Em 2004, a queda dos preços pagos pelo quilo da folha fez com que esses produtores procurassem alternativas."
Hoje, a maior área de cultivo está na China, que detém cerca de 3.500 hectares, ou 10% da produção mundial.