Base aliada dará mais trabalho a Dilma que oposição, diz analista 15/01/2011
- Bernardo Mello Franco
A presidente Dilma Rousseff deve enfrentar mais turbulências no Congresso com os próprios aliados do que com a oposição.
A previsão é de Fabiano Santos, coordenador do Núcleo de Estudos sobre o Congresso da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Ele aposta que o encolhimento de PSDB e DEM vai transferir o foco da tensão parlamentar para o campo governista.
Em plena guerra por cargos no governo, Santos aponta nova crise à vista com o PMDB: as eleições de 2012.
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Leia entrevista:
O PMDB já abriu uma crise nos primeiros dias do governo Dilma. O partido será um aliado confiável?
- PT e PMDB viverão uma relação tensa, mas precisam um do outro para o projeto nacional dar certo. Se Dilma fracassar, será ruim para os dois.
Há um jogo de ameaças, de idas e vindas, mas não interessa ao PMDB inviabilizar o governo. Por outro lado, como sua base local é muito forte, o partido terá novos embates com o PT em 2012, nas eleições municipais.
Os dois terão que encontrar um equilíbrio, mesmo que na corda bamba.
A oposição encolheu. O que muda na relação do governo com o novo Congresso, que assume em fevereiro?
- A base de centro-esquerda cresceu. Dilma não deve ter tanta dependência dos partidos clientelistas de centro-direita, como PR, PP e PTB.
Numericamente, ela encontra uma correlação de forças mais favorável, com uma supermaioria de três quintos na Câmara e no Senado.
A tensão agora está na base, sem participação da oposição. As votações do salário mínimo e da presidência da Câmara serão um teste de fogo logo no início do governo.
Os aliados vão complicar mais a vida da presidente do que os oposicionistas?
- Lula teve que administrar embates com a oposição, especialmente no Senado. Dilma terá que administrar mais tensões na própria base.
No governo passado, era preciso olhar os humores da oposição para saber se ela ia obstruir, se ia votar contra os projetos importantes.
Agora teremos que olhar para os conflitos dentro da coalizão. As tensões entre governo e oposição serão deslocadas para a base.
Em princípio, Dilma terá mais poder de barganha e autonomia para impor sua agenda ao Congresso. Mas seu poder também dependerá da capacidade de definir prioridades e equilibrar conflitos entre aliados.
A falta de experiência pode prejudicá-la?
- Dilma nunca tinha disputado uma eleição e surpreendeu na campanha. Começou muito insegura, mas conseguiu definir um estilo próprio. Minha expectativa é que também aprenda rápido na relação com o Congresso.
Ela já foi bastante flexível na composição do ministério, até com certo exagero. Deu ministérios a políticos que têm força no Congresso porque depende deles para aprovar a sua agenda lá.
O que a oposição deve fazer para sobreviver?
- Encontrar parceiros em outro campo ideológico e sinalizar à sociedade que tem teses a serem discutidas.
A oposição não pode permanecer escanteada. Seu problema, no passado recente, foi ficar um pouco autista.
- O senador Aécio Neves (PSDB-MG) tem um diagnóstico correto de que é importante costurar novas alianças. Veja que ele dialoga bem com gente da esquerda.
A eleição de deputados como Tiririca, Romário e Popó aponta tempos piores?
- Há um pouco de exagero nesta discussão. Quem manda no Congresso são políticos profissionais, que têm vida partidária e experiência regimental. O jogo é institucionalizado. Eles podem surpreender, mas a tendência é que isso não ocorra.