Bovespa fecha em queda de 1,22% com nervosismo sobre Líbia 22/02/2011
- Epaminondas Neto - Folha Online
As Bolsas de Valores se ressentiram mais uma vez da escalada de tensão na Líbia, onde a situação piorou com a ameaça do ditador Muammar Gaddafi em permanecer no poder, indicando que somente à força deixaria o cargo.
Os desdobramentos geopolíticos dessa crise na região, e os impactos no mercado de commodities, pressionando principalmente o petróleo, elevam a aversão ao riscos dos investidores.
Profissionais do setor financeira ressaltaram hoje o forte fluxo de saída dos investidores estrangeiros de vários papéis, o que derrubou os preços de ações do setor imobiliário e bancário, apesar dos lucros históricos apresentados por Banco do Brasil e Itaú.
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O relativo otimismo de alguns analistas, que se animaram quando o índice Ibovespa alcançou a casa dos 68 mil pontos na semana passada, já deu lugar a uma posição bem mais cautelosa, já contando que o índice oscile novamente na faixa dos 65 mil ou 64 mil pontos, no curto prazo.
O Ibovespa, índice que reflete os preços das ações mais negociadas, recuou 1,22% no fechamento, aos 66.439 pontos. O giro financeiro foi de R$ 8,44 bilhões, bastante acima da média. Nos EUA, o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, teve perdas de 1,44%.
"O mercado hoje sentiu totalmente o efeito dos problemas na Líbia. Quando o Gaddafi foi à televisão e avisou que somente sairia 'morto' do país, as Bolsas passaram a cair com mais força", comenta Bernardo Rodarte, profissional da mesa de operações da Sita Corretora.
E com o aumento dos preços do petróleo, crescem os temores pelo recrudescimento das pressões inflacionárias não somente nas economias emergentes (já em processo de aperto monetário), mas também nas economias desenvolvidas, que ainda lutam para intensificar a retomada do crescimento.
Num cenário de nervosismo, os investidores se desfizeram das ações do setor bancário, onde as perdas foram de 2,56% (Itaú) a 3,23% (Banco do Brasil). Mas também houve desvalorizações no setor imobiliário: as ações da Cyrela desabaram 5,29%; os ativos da PDG cederam 3,87%, enquanto os papéis da MRV amargaram queda de 3,48%.
As ações da Petrobras, que subiram 1,35% no caso das preferenciais, e 1,90% no lado das ordinárias, tiveram um forte giro financeiro: mais de R$ 1,3 bilhão. Essa valorização contribuiu para amenizar a queda do Ibovespa, já que esses papéis têm grande na composição do índice.
O dólar comercial foi negociado por R$ 1,673, em um acréscimo de 0,29%.
Entre as primeiras notícias do dia, uma pesquisa privada (Case-Shiller) apontou queda de 3,9% nos preços dos imóveis nos EUA no trimestre final de 2010, considerando as 20 principais regiões metropolitanas desse país.
Ainda nos EUA, outra prevista privada, a cargo do instituto Conference Board, apontou que o nível de confiança dos americanos na economia atingiu seu maior nível em três anos, batendo com folga das projeções do setor financeiro.
A agência Moody's advertiu que pode revisar para pior o "rating" (classificação de risco de crédito) soberano do Japão, citando as dificuldades desse país em reduzir o deficit orçamentário e conter o aumento da dívida pública.
No front doméstico, o IBGE apontou uma inflação de 0,97% em fevereiro, ante 0,76% em janeiro, conforme a leitura do IPCA-15, o índice de preços que funciona como uma estimativa prévia do IPCA, a referência oficial para o regime de metas. Economistas do setor financeiro projetavam entre 0,95% e 0,96% para o período. Considerando os últimos doze meses, a variação do IPCA-15 ficou em 6,08%, muito próximo aos doze meses anteriores (6,04%).
EMPRESAS
O banco Itaú revelou um lucro líquido de R$ 13,3 bilhões para o exercício de 2010, em um crescimento de 32,3% sobre o ganho apurado em 2009. O resultado ultrapassa os números do Banco do Brasil (R$ 11,7 bilhões) e se consolida como o maior lucro da história do setor bancário no país -- de acordo com a consultoria Economatica.
Já a holding de telefonia Tim Participações anunciou um lucro líquido de R$ 2,212 bilhões para o exercício de 2010, ante um ganho de R$ 801 milhoes apurado no balanço de 2009. A ação preferencial caiu 0,16%.