Opositores tomam controle de poços de petróleo na Líbia 24/02/2011
- AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Relatos de moradores da região leste da Líbia indicam que os opositores já tomaram o controle de importantes terminais de produção de petróleo no país, o que pode ameaçar o fluxo de fornecimento a diversos países e elevar a cotação do produto internacionalmente.
As informações chegam horas após o ditador Muammar Gaddafi afirmar que as revoltas podem interromper o fornecimento do combustível ao exterior. Inicialmente havia relatos de que os rebeldes pretendiam manter o ritmo das exportações de petróleo, embora o "Guardian" indique que os opositores já estejam interrompendo a produção em determinados locais.
O diário britânico cita o engenheiro mecânico Moustafa Raba'a, que trabalha com a indústria petrolífera Sirte, afirmando que "todos os poços de petróleo da região sul" da Líbia já estão em controle dos rebeldes.
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"A ordem divulgada é que devemos mandar uma mensagem para Gaddafi parar de massacrar nosso povo em Benghazi. Tomamos a decisão de negá-lo o privilégio de exportar petróleo e gás para a Europa", disse ao "Guardian", acrescentando que somente no poço de Dregga, na região leste, o bloqueio já evitou que 80 mil barris por dia fossem exportados.
O jornal espanhol "El País" também dá destaque ao assunto e diz que em seu discurso Gaddafi quis mostrar à comunidade internacional que os protestos podem levar à interrupção do crucial fornecimento de combustível e gás a grande parte dos países europeus.
"Se os cidadãos não voltarem a trabalhar, se cortará o fornecimento de petróleo", disse o ditador à TV estatal.
INFORMAÇÕES DESENCONTRADAS
De acordo com a Reuters vários moradores de Benghazi disseram nesta quinta-feira que os terminais de petróleo e produtos petrolíferos de Ras Lanuf e Marsa el Brega estão sendo protegidos.
Soliman Karim, um morador que está envolvido na administração provisória da cidade de Benghazi, disse que continuam as exportações, fonte vital de receita do país membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
Já um segundo residente da cidade sugeriu que o fluxo de exportações pode ter sido prejudicado.
"Com relação a Ras Lanuf, o maior porto de exportação de petróleo, e El Brega, e dos gasodutos que vão do deserto para os portos... os revolucionários [anti-Gaddafi] tomaram controle deles", disse Karim, advogado que atua nos comitês criados para a administração provisória de Benghazi.
"As exportações prosseguem como de costume, nos mesmos volumes acordados anteriormente", disse ele, informando que suas fontes são pessoas da área onde os rebeldes estão no comando.
"Os revolucionários estão protegendo essas áreas, porque são áreas vitais. Não queremos que sejam sabotadas e não queremos parar de exportar óleo", acrescentou Karim.
Desmentindo os relatos do advogado, um morador de Benghazi, identificado apenas como Tawfik, sugeriu que pode ter havido algum impacto sobre o fluxo de petróleo exportado.
A Reuters indica que a comunicação telefônica com a localidade de Tawfik foi cortada antes de ser possível obter mais detalhes.
EXPORTAÇÃO CRUCIAL
A turbulência no 12º maior exportador petrolífero do mundo cortou pelo menos 400 mil barris por dia (bpd) da produção líbia normal de 1,6 milhão de bpd, de acordo com cálculos da Reuters.
Paolo Scaroni, executivo-chefe da grande petrolífera italiana Eni, disse que a queda na produção líbia é muito mais dramática que isso, estimando que o país está colocando 1,2 milhão de bpd a menos no mercado.
Os combates entre partidários de Gaddafi e rebeldes que se opõem a seu governo, que começaram no leste do país, já estão em cidades muito mais próximas da capital, Trípoli.
Trechos da Líbia ao leste de Trípoli agora estão sob comando dos rebeldes, incluindo Benghazi, cidade situada ao norte da principal região de hidrocarbonetos da Líbia.
REGIME PODE TENTAR SABOTAR SETOR
O advogado Soliman Karim disse que é possível que o ditador Muammar Gaddafi esteja "procurando criar empecilhos" à indústria petrolífera e que os dois pilotos que se ejetaram de um jato de guerra ontem (23) tinham recebido ordens de explodir instalações crucias do setor.
"Ontem o regime tentou explodir o gasoduto e o oleoduto, mas um dos 'pilotos livres' saltou do avião e deixou a aeronave cair no deserto", disse.
O terminal petrolífero de Ras Lanuf fica no golfo de Sirte, na costa mediterrânea, a cerca de 600 quilômetros a leste de Trípoli, e dele são exportados petróleo e produtos petroquímicos. O terminal marítimo de exportação petrolífera consiste em dois ancoradouros.
Marsa El Brega, situado ao sul de Benghazi, também fica no golfo de Sirte. É usado para a exportação de óleo cru e produtos petroquímicos.
CRISE FAZ PREÇO DO PETRÓLEO DISPARAR
Os preços do petróleo continuam subindo e as bolsas registravam quedas nesta quinta-feira devido ao temor provocado nos mercados pela revolta líbia e seu possível contágio a outros países do mundo árabe.
O barril de Brent do Mar do Norte para entrega em abril aproximou-se dos US$ 120 nesta quinta-feira pela manhã no ICE (InterContinental Exchange) de Londres, seu mais alto patamar desde setembro de 2008.
Às 15h50 de Brasília, estava cotado em US$ 114,64, alta de 3% em relação ao fechamento de quarta-feira.
Nessa mesma hora, no Nymex (New York Mercantile Exchange), o barril de WTI (West Texas Intermediate, denominação do 'light sweet crude' negociado nos EUA) para entrega em abril subia 1,5% aos US$ 99,63, depois de ter alcançado os US$ 103,41 por barril no fim dos pregões asiáticos, seu preço mais elevado desde setembro de 2008.
"A continuação dos distúrbios no norte da África e no Oriente Médio e a diminuição da produção na Líbia continuam impulsionando fortemente os preços do petróleo", estimaram os analistas da Commerzbank.
David Hart, da Westhouse Securities, afirmou, por sua vez, que na Líbia "a produção de petróleo de alta qualidade foi afetada de forma importante pelo êxodo de pessoal estrangeiro".
A Líbia, membro da Opep (Organização de Países Exportadores de Petróleo), é um dos quatro principais produtores africanos, com uma produção de 1,69 milhão de barris diários, dos quais exporta 1,49 milhões, a grande maioria (85%) para a Europa, segundo a AIE (Agência Internacional de Energia).
Devido à violência, a produção reduziu-se conjuntamente de 1,2 milhão de barris diários para um quarto desse total, estimou nesta quinta-feira o presidente da petroleira italiana ENI, Paolo Scaroni.
MERCADOS SÃO AFETADOS
A instabilidade na Líbia continuou pesando também sobre as bolsas. Pelo terceiro dia consecutivo, a Bolsa de Nova York operava nesta quinta-feira em baixa na metade do pregão, com o Dow Jones perdendo 0,53% e o Nasdaq, 0,02%.
Na Europa, a maioria das praças fechou no vermelho. Em Frankfurt, o índice Dax perdeu 0,89%, a 7.130,50 pontos. Em Paris, o CAC 40 fechou o pregão em baixa de 0,09%, pouco acima da barreira dos 4.000 pontos (4.009,64), e em Londres o Footsie 100 caiu 0,06%, a 5.919,98 pontos.
A Bolsa de Madri subiu, por outro lado, 0,13%, com o Ibex-35 a 10.647,6 pontos. Anteriormente, na Ásia, Tóquio perdeu 1,19% e Hong Kong, 1,34%.
COMITÊS POPULARES
O ex-ministro da Justiça, Mustafa Abdel Jalil, que renunciou ao cargo, afirmou nesta quarta-feira (23) que a região oriental do país "foi totalmente libertada do controle" de Gaddafi, enquanto oficiais do Exército de Al Jabal al Akhdar, no nordeste, anunciaram que se uniram à revolução.
Segundo a Al Jazeera, comitês populares já tomaram algumas cidades na região nordeste do país e controlam, inclusive, algumas rádios, gerando mensagens para incentivar os jovens a lutar contra o regime do ditador.