Bovespa segue tensão mundial e fecha em baixa de 1,5% 16/03/2011
- Epaminondas Neto - Folha Online
As Bolsas de Valores atravessaram uma nova rodada de vendas, com as advertências sobre o risco nuclear japonês. Embora a Bolsa de Tóquio tenha disparado na sessão de hoje, o apetite por risco dos investidores dessa praça financeira não contaminou os demais mercados. Uma bateria de indicadores desfavoráveis revelados nos EUA também animou a procura por ações baratas (as "barganhas") que impulsionou o índice acionário japonês.
Hoje, autoridades dos EUA e das Nações Unidas alertaram para os níveis de radiação "extremamente altos" no complexo Fukushima, com a perspectiva de que em 48 horas para definição um possível cenário "catastrófico", nos termos de um especialista em energia nuclear.
O índice Ibovespa, principal termômetro dos negócios da Bolsa paulista, retrocedeu 1,50% no fechamento, aos 66.002 pontos. O giro financeiro foi de R$ 8,6 bilhões. Nos EUA, o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, caiu 2,04%, um "tombo" de intensidade pouco vista no dia a dia de Wall Street.
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O índice americano mais abrangente S&P500 também teve caiu com força, em um recuo de 1,94%.
Como outros analistas, José Raymundo Jr., diretor da Wagner Investimentos, avalia que as Bolsas devem atravessar por uma temporada de volatilidade e novas quedas no curto e até mesmo no médio prazo.
Mas ele também acredita que a atual temporada já proporciona uma oportunidade de compras para investidores de olho no longo prazo. "Veja a ação da Vale: o papel desvalorizou basicamente por dois fatores: a questão dos royalties e a troca de presidência. Mas nenhum desses assuntos é novo, na verdade. E vai ser muito difícil que a ação muito abaixo do preço atual [em torno de R$ 45]", afirma.
O especialista afirma que o mercado ainda não trabalha com um cenário catastrófico para o Japão e aguarda "a notícia do controle", isto é, o anúncio oficial de que os principais problemas do complexo nuclear já foram debelados. No médio prazo, também há a expectativa de que a economia japonesa volte a demandar commodities, inclusive petróleo, para atender as exigências da reconstrução do país.
"Mas eu ficaria alerta em dois casos, pelo menos. Se o S&P 500 ficar muito abaixo dos 1.200 pontos [hoje fechou a 1.256] e o Ibovespa cai para menos de 65 mil [hoje fechou a 66.002 pontos], mas eu continuo achando muito difícil que isso aconteça", avalia.
O dólar comercial foi negociado por R$ 1,674, em um aumento de 0,41%. A taxa de risco-país marca 194 pontos, número 6,59% acima da pontuação anterior.
Entre as primeiras notícias do dia, o BCE (Banco Central Europeu) admitiu que ainda vai avaliar o impacto econômico da tragédia no Japão antes de resolver sobre um possível aumento dos juros, tal como sinalizado recentemente pelo presidente Jean-Claude Trichet.
Ainda no Velho Continente, o ONS (Instituto de Estatísticas Nacionais, na sigla em inglês) reportou que a taxa de desemprego no Reino Unido atingiu 8% no trimestre concluído em janeiro. O número de pessoas sem ocupação -- 2,53 milhões de pessoas -- é o maior desde 1994.
E nos EUA, o Departamento de Comércio afirmou que o ritmo de construção de imóveis caiu para o seu menor nível desde abril de 2009. O total de casas comercializadas atingiu 479.000, ou 22,5% a menos que janeiro. Analistas projetavam uma cifra na casa dos 560 mil.
Outro órgão do governo americano, o Departamento de Trabalho, reportou uma inflação de 1,6% em fevereiro, ante 0,8% em janeiro, pela leitura do PPI (índice de preços ao produtor, na sigla em inglês). Economistas do setor financeiro previam uma variação de 0,7%.