Bovespa fecha em queda de 0,40%, com aversão global ao risco 23/05/2011
- Epaminondas Neto - Folha Online
A Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) cedeu ao forte movimento de aversão ao risco que contaminou as Bolsas de Valores, começando pela Ásia e se estendendo pelo continente europeu e Wall Street.
A advertência da agência Standard&Poor's sobre um possível rebaixamento do "rating" da Itália acrescentou um novo capítulo "à novela" da crise das dívidas soberanas no Velho Continente. A Bolsa italiana reagiu à altura e desabou mais de 3%, enquanto a Bolsa de Londres derreteu 1,89%, a Bolsa de Frankfurt caiu 2% e o mercado francês amargou queda de 2,10%.
O pano de fundo dessa notícia dificilmente poderia ser pior: o mercado ainda aguarda as negociações para renovar o socorro financeiro à Grécia, enquanto Portugal e Espanha continuam em uma situação delicada, enfrentando dificuldades políticas para impor as medidas de austeridade exigidas pela a União Europeia e o FMI (Fundo Monetário Internacional).
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O Ibovespa, que reflete os preços das ações mais negociadas, perdeu 0,40% no fechamento, aos 62.345 pontos. O giro financeiro foi de apenas R$ 4,18 bilhões, bem abaixo da média (R$ 6 bilhões/dia). Nos EUA, o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, retrocedeu 1,05%.
Analistas do mercado avaliam que a Bolsa deve permanecer volátil pelo restante da semana, de olho na "novela" europeia.
Outro dado que reforça a preocupação dos profissionais do mercado é o volume de investimentos estrangeiros. Após três meses de saldo negativo, as compras de ações já superam as vendas em mais de R$ 1 bilhão. E mesmo com essa injeção de "dinheiro novo", a Bolsa ainda acumula uma desvalorização de quase 6% neste mês e de quase 10% desde o iníci do ano.
"Muita gente realmente achava que, quando a Bolsa caisse para os 63 mil pontos, isso abriria um ponto de compra que atrairia mais compradores, mas não é o que estamos vendo. A verdade é que o investidor doméstico desanimou muito e as estatísticas da Bovespa têm mostrado que muitos saíram do mercado", nota Bernardo Rodarte, gerente de operações da corretora Sita.
O dólar comercial foi negociado por R$ 1,632, em alta de 1,05%, após oscilar entre R$ 1,641 e R$ 1,631 ao longo desta sessão.
O boletim Focus, elaborado pelo Banco Central, apontou que boa parte dos economistas do setor financeiro revisou para baixo suas projeções para a inflação deste ano --a taxa prevista do IPCA recuou de 6,31% para 6,27%. A meta oficial de inflação deste ano é de 6,5%. Para 2012, a projeção de inflação se manteve inalterada em 5%.
E o Ministério do Desenvolvimento reportou um superavit comercial (exportações menos importações) de US$ 2,74 bilhão no mês. No acumulado do ano, o superavit chega a US$ 7,77 bilhões. Na comparação do acumulado do ano, 2011 registra um resultado 86% superior ao resultado de 2010 (US$ 4,18 bilhões).
No sábado, a agência Standard & Poor's reduziu de 'estável' para 'negativa' a perspectiva para o 'rating' (nota de risco de crédito) a Itália. Em outros termos, a agência advertiu que, em sua próxima revisão periódica dessa nota, as maiores chances são de que a nota seja rebaixada.
Outra agência internacional, a Fitch, gerou nervosismo na semana passada, ao efetivamente rebaixar o 'rating' da Grécia, que já estava classificado na categoria de maior risco (grau especulativo).
EMPRESAS
O jornal francês Journal du Dimanche publicou que o gigante nacional do varejo Carrefour planeja fundir suas operações no Brasil o equivalente brasileiro Pão de Açúcar. A notícia não citava fontes nem foi confirmada pelas partes citadas. A área de análise do Bank of America Merrill Lynch deu uma avaliação positiva para a hipotética operação, mas analistas manifestaram ceticismo em relação à notícia. Na Bovespa, a ação ordinária da cadeia varejista brasileira valorizou 0,67%, com um giro de R$ 41,6 milhões.