Bovespa fecha em queda de 0,97% com nervosismo por Grécia 15/06/2011
- Epaminondas Neto - Folha Online
A Bolsa de Valores brasileira atingiu um novo "fundo de poço" neste ano, considerando o nível de preços medido pelo indicador Ibovespa, que osciou em seu patamar mais baixo dos últimos 11 meses.
Em meio ao nervosismo generalizado nos mercados financeiros com a crise europeia (tendo a Grécia por foco), os investidores 'fugiram' de commodities e ações e correram para os títulos públicos americanos (o tradicional porto seguro em dias de maior aversão a risco), o que deu novo gás para o dólar.
A falta de um acordo claro entre os principais membros da União Europeia para "salvar" a Grécia, hoje um dos países mais "arriscados" do planeta (do ponto de vista das agências de "rating"), detonou a onda de vendas nas principais praças.
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Na Europa, o epicentro da crise, a Bolsa de Londres e Frankfurt derreteram 1% e 1,5%, respectivamente. Cruzando o Atlântico, a Bolsa de Nova York retrocedeu 1,48%.
Já no front doméstico, o índice Ibovespa, que reflete os preços das ações mais negociadas, recuou 0,97% no fechamento, para os 61.603 pontos, o menor patamar desde 5 de julho de 2010.
O giro de R$ 8,08 bilhões, bem acima dos pregões anteriores, inclui os negócios com opções sobre índice, que venceram hoje.
"O assunto Grécia deve continuar mandando nos mercados pelo restante da semana. Agora, amanhã, o que deve influenciar o mercado doméstico é a ata do Copom", afirma Eduardo Oliveira, da mesa de operações da Um Investimentos.
A ata vai dar pistas sobre a disposição do Banco Central em elevar a taxa básica de juros pelos próximos meses, já ajustada para 12,25% na última reunião.
O dólar comercial foi negociado por R$ 1,600, em alta de 1,13%. A taxa de risco-país marca 173 pontos, número 8% acima da pontuação anterior.
O Departamento de Comércio dos EUA apontou uma inflação de 0,2% em maio, ante 0,4% em abril, pela leitura do CPI (voltado para os preços ao consumidor). O chamado 'núcleo' do índice, que exclui do cálculo os preços de energia e alimentos (mais voláteis), teve uma variação de 0,3%, a maior taxa em quase três anos.
Tanto o índice 'cheio' quanto o 'núcleo' tiveram variações acima do previsto pelo mercado financeiro.
Ainda nos EUA, o Federal Reserve (o banco central) revelou que a produção industrial desse país cresceu 0,4% em maio, após um decréscimo de 0,5% em abril. Economistas de bancos e corretoras projetavam um incremento de 0,3%.
No front doméstico, o Banco Central brasileiro revelou que o fluxo cambial, a diferença entre as saídas e entradas de dólares no país, até sexta-feira, estava negativo em US$ 2,94 bilhões. No acumulado do ano, o saldo cambial é de US$ 39,45 bilhões, uma cifra 62% acima do registrado em todo o ano de 2010.
O BC também apontou que a economia brasileira teve um crescimento de 0,44% em abril, conforme uma pesquisa mensal realizada pelo próprio banco. Nos últimos 12 meses, esse desempenho fica atrás somente do verificado em janeiro (0,67%) e março (0,51%) deste ano.
RISCO BRASIL
Passou praticamente incólume pelo mercado doméstico a notícia de que o risco de emprestar ao Brasil ficou menor que os EUA, de acordo com a variação dos instrumentos financeiros CDS (uma espécie de seguro contra calotes).
'Não posso resistir a fazer o comentário de que pela primeira vez na história o Risco Brasil é menor do que o risco dos EUA', comentou o ministro Guido Mantega (Fazenda).
Segundo o ministro, o fato da taxa do CDS do Brasil ter sido negociado abaixo do norte-americano 'mostra que nós estamos praticando uma política econômica correta' e que o Brasil 'vem impondo respeito do resto do mundo',
O mercado financeiro mostrou uma visão menos entusiasmada que o ministro: e analistas apontaram o fato de que o mercado que negocia esses ativos é bastante volátil.
'Eu ficaria realmente abismado se me dissessem que os títulos soberanos brasileiros estão sendo negociados [a juros] abaixo dos títulos americanos', comentou João Carlos Reis, superintendente-geral da corretora Prime.
Um indicador bastante usado por grandes agentes financeiros para medir o risco de um país, o índice Embi (calculado pelo banco JP Morgan), não mostrou alívio, pelo contrário. O risco-país brasileiro, por essa referência, dispara mais de 8% hoje, refletindo o mau humor generalizado dos mercados de capitais.
Segundo Reis, apesar de todos os problemas da maior economia do planeta, os mercados ainda veem um risco bastante baixo de 'calote' dos títulos da dívida americana, mesmo que por pouco tempo.
'O mercado está preocupado com a situação crítica nos EUA, mas ainda não contempla uma catástrofe dessas. A questão é que vemos o noticiário de lá e o país parece estar longe de um acordo sobre o que fazer [a respeito da situação fiscal], e com um vencimento enorme de dívidas no segundo semestre. O país já está em campanha eleitoral --somente os republicanos já têm uns 9 candidatos!-- e o Obama está bastante desgastado, não importa o que ele faça', avalia.