DIA A DIA

"Tio" Robinho diz que pensa em ser o melhor jogador do mundo
02/07/2011 - Martín Fernandez e Sérgio Rangel - Folha de S.Paulo

Robinho, 27, cresceu. Deixou de ser o garoto que chamava Ronaldo de "presidente" para virar "tio" de Neymar, Ganso e Lucas. À Folha de S.Paulo o atacante conta que já sofreu com racismo na Argentina, garante que não vai ficar chateado se for para o banco da seleção e defende os gastos com a Copa-14.

Robinho conversou com a Folha em hotel na cidade de Los Cardales, na Argentina.

Como é jogar a Copa América na Argentina?


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- Vai ser difícil, como foram as outras. Agora eu sou mais velho, mais experiente, mas com a mesma vontade de ganhar. Aqui é diferente, a torcida argentina influencia bastante, é um ponto positivo para eles.

A torcida deles faz vocês correrem mais?

- Exatamente. É um dos mais difíceis que eu já joguei. Mas o Uruguai também é muito difícil. Depende de como vai começar os jogos. No decorrer das partidas a gente pode tornar os jogos mais fáceis, iniciando bem, fazendo um gol logo.

Você é de uma geração mais acostumada a ganhar do que perder da Argentina. Isso faz diferença?

- É uma coisa boa, mas não levo em consideração. Cada jogo é uma história. Sempre foi difícil jogar contra eles e agora não vai ser diferente. Eles vão dar o máximo, até porque jogam em casa, diante da torcida, no seu país, vai ser difícil mas estamos preparados.

Você está num papel novo, não é mais o garoto.

- Tio, né? É legal, o tempo passa, fiquei mais experiente, mais maduro na seleção por todas as fases que passei. Já fui muito criticado, muito elogiado, mas também não estou tão velho. Tenho 27, eles [Lucas, Neymar] têm 19. Mas dou conselhos a eles.

Mas a conversa é séria ou é só zoação?

- Ali no treino eles ficam o tempo inteiro brincando, mas quando a gente conversa, o papo é sério.

Neymar pediu a sua opinião sobre a possibilidade de ele ir jogar na Europa?

- O que eu passo é para ele ficar atento, porque ele vai ser cada vez mais cobrado. Não é mais promessa, já é realidade. Na Europa, o futebol é diferente do Brasil, é mais de força. Mas não sei se ele vai sair agora ou depois.

Teve algum contato antes de jogar com eles?

- Mais com o Neymar. O Ganso não. Neymar jogou salão no mesmo time que eu joguei, o pai dele conhecia meu pai, meu ex-empresário é o empresário dele hoje. O Paulinho nem tanto.

Você ensinou alguma coisa para o Neymar?

- Não, não, não precisa ensinar nada para ele. Só dei alguns conselhos, quando ele era pequeno, queria jogar no Santos. Não ensinei nada, ele nasceu sabendo.

Você finalmente achou seu lugar na Europa?

- Estou muito feliz, fui campeão italiano na minha primeira temporada no Milan. Cheguei ao time que queria, estou jogando bem, fazendo gols. O time me dá moral.

Você se arrepende de alguma decisão?

- Me arrependo da maneira como saí do Real Madrid e do Santos. Não de ter saído, mas da maneira como saí.

Tinha como ser diferente?

- Do Santos até tinha, do Real não. Mas tudo bem, faz parte, serve de experiência.

Vai jogar bem aberto ou mais pelo meio?

- O Mano quer que eu jogue aberto pela direita, com o Ney [Neymar] na esquerda. Com essa formação bastante ofensiva, os homens da frente têm que ajudar Lucas [Leiva] e Ramires na marcação.

É um sacrifício?

- É um sacrifício que vale a pena. Para jogar dessa maneira ofensiva, todo mundo tem que ajudar a marcar.

Seu visual é parecido com o do Pelé. É de propósito?

- Não, não foi pensado não. Eu deixei o cabelo grande e acabou ficando parecido com o Pelé, mas não foi nada premeditado. Até porque ninguém joga que nem o Pelé.

Os argentinos vão jogar com mais gana contra você, por parecer o Pelé?

- Tomara que pelo menos me dê sorte, que alguns golzinhos eu possa fazer. Os argentinos vão ter vontade contra nós de qualquer jeito, com ou sem o topete do Pelé.

Ficou chateado por perder o posto de capitão?

- Não fiquei. O Lúcio merece, é campeão do mundo, mais velho do que eu, o Júlio César também. Não é a faixa que vai mudar meu modo de lidar com os companheiros.

Já sofreu algum caso de racismo na Europa?

- Graças a Deus, nunca sofri isso, nunca tive problema em nenhum time em que já joguei, nem com torcida nem com adversário, nada.

E na Argentina?

- Aqui já, mas não foi pessoal comigo, foi com os brasileiros em geral, chamam de "macaquito", essas coisas. Fizeram coro num jogo que a gente perdeu [por 3 a 1, em 2004, pelas eliminatórias].

E se acontecer aqui?

- Vou tentar esquecer, jogar futebol e responder na bola.

Como é jogar na mesma posição de jogadores tão jovens como Neymar e Lucas?

- É difícil, são jogadores excelentes, já são realidade no Brasil, mas isso é bom para a seleção brasileira. Se eu me acomodar, sei que o Lucas pode tomar a minha posição.

Você compensa com a experiência?

- Ah, isso o Mano é que decide, quem estiver melhor no momento vai jogar. Mas é bom para a seleção, ter mais opções de qualidade, ninguém se acomoda.

Você aceitaria ter que ficar no banco da seleção?

- Para mim, não tem problema. Se tiver que ficar no banco, vou respeitar a opinião do Mano e o jogador que entrar na minha posição. Se tiver que entrar um minutinho, vou dar a vida para jogar.

Você acha que vale a pena fazer a Copa no Brasil?

- Acho que vale, os países que fizeram a Copa melhoraram. O Brasil vai melhorar ruas, estádios, lugar para torcida. Espero que isso ocorra.

Sonha jogar em 2014?

- Sonho que estou jogando no meu país, com meu pai e minha mãe no Maracanã lotado. Já sonhei que estava na Copa, sempre sonho que estou fazendo gol de bicicleta.

Você foi a duas Copas que o Brasil não ganhou. Alguma lembrança ruim?

- Quando não ganha é sempre ruim. Consegui realizar o sonho de jogar duas, e não ganhar dá a sensação de que você está frustrando o torcedor brasileiro. A gente sabe que [o povo] sai na rua, pinta a cara, a gente via o pessoal comovido. Infelizmente nós perdemos, vamos fazer de tudo para ganhar em 2014.

Mudou o ambiente com a troca de técnico?

- Cada um tem seu jeito de trabalhar, eu tenho um carinho muito grande pelo Dunga, sempre me levou para a seleção. O Mano está começando o trabalho, o ambiente é sempre bom, não mudou nada. O prazer de estar aqui é muito bom, o ambiente é excelente.

Já falou com o Dunga?

- Não, não falei mais com ele. Mas é uma pessoa excelente, eu tenho muito carinho por ele, gosto muito dele, respeito demais.

Você ainda pensa em ser o melhor do mundo?

- Sim. Até o fim da carreira, pensarei em ser o melhor do mundo, campeão do mundo.

O Milan é o time ideal?

- É um time possível. Ideal é o Barcelona (risos). Mas meu contrato vai até 2014, e me vejo jogando lá até o fim. Espero que minha história no Milan seja grande, bonita.

O Milan quer mesmo contratar o Ganso?

- Querem muito, seria excelente poder jogar com ele lá.

Você tenta convencê-lo a ir?

- Não, a torcida do Santos ficaria chateada comigo. Queria pela qualidade, pelo companheiro, mas ele foi campeão agora, tem a chance de jogar o Mundial. Ele é quem sabe o momento de sair.

Como está sua disputa judicial com a Nike?

- Espero que quem esteja com a razão possa ganhar. Para processar alguém, só em último caso. Se eu tomei essa atitude, foi porque eles não quiseram acordo.

Já sabe o que fazer quando parar? Ronaldo, seu amigo, virou empresário.

- Eu penso em quando parar, mas não em ser empresário, eu gosto de fazer as coisas que eu me divirto. O que se faz com amor, com diversão, dá certo.

Com que você se diverte?

- Tocando pagode, sendo pagodeiro. Mas para isso tem que ficar muito na noite, minha mulher enche o saco (risos), tem que dar uma segurada (risos). Mas é a coisa que eu mais me divirto depois do futebol. Cantor eu não sei se minha voz segura, mas tocar eu gosto. O pessoal do Exaltasamba brinca comigo, falam que eu sei tocar, mas não tem convite oficial. Eles têm uma vida difícil, tem show toda noite, para mim é complicado, eu espero fazer meu pé de meia jogando futebol, mesmo.

E ser técnico?

- Não, não, isso aí eu estou fora (risos).

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