Bovespa abre em queda, puxada por receio com Grécia 12/09/2011
- Olívia Bulla e Cristina Canas - Agência Estado
A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) abriu o dia em forte queda, com os mercados financeiros apreensivos quanto a um possível default (não pagamento da dívida) da Grécia. Se esse receio puniu as bolsas pelo mundo no fim da semana passada, a ausência de novidades sobre o assunto prejudica os negócios com renda variável hoje. Ainda é difícil mensurar qual pode ser o tamanho da queda da Bovespa, mas sabe-se que o caminho é livre até a marca dos 52 mil pontos. Às 10h05 (horário de Brasília), o índice Bovespa (Ibovespa) recuava 0,95%, aos 55.247 pontos.
"Segura a peruca que a coisa está feia hoje", brincou um operador sênior da mesa de renda variável de uma corretora paulista, referindo-se ao mar vermelho em que mergulham as principais bolsas europeias e os índices futuros de Nova York nesta manhã, ainda em razão do perigo de um default da Grécia. "O mercado segue repleto de incertezas e, na dúvida, o investidor sai vendendo (ações)", comentou o profissional. Para ele, caso o Ibovespa perca os 55 mil pontos nesta sessão - o que é "muito provável" -, ordens de stop loss (ordem de venda para evitar perdas maiores) podem ser acionadas. Porém, ele não arrisca dizer de quanto pode ser a queda do índice à vista.
Em recente análise gráfica da XP Investimentos, o analista Gilberto Coelho afirma que o Ibovespa pode buscar os 52 mil pontos, caso volte para abaixo dos 55 mil. "O mercado estará olhando o fundo cravado no início de agosto, em torno dos 48 mil pontos", disse ele, descartando, porém, que o Ibovespa "caia direto para lá" hoje.
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Seja como for, a Bolsa tende a acompanhar as perdas agudas e aceleradas nos ativos de risco verificadas no exterior. Apesar dos esforços das autoridades europeias no sábado e no domingo, não houve qualquer notícia concreta (e positiva) quanto a um resgate financeiro da Grécia. "Os mercados globais deverão reagir negativamente às desconfianças quanto à capacidade da Grécia de honrar os pagamentos da sua dívida. O receio de que o país mediterrâneo não receba as novas parcelas do empréstimo firmado com a União Europeia e o FMI (Fundo Monetário Internacional), por causa de ainda não ter conseguido se ajustar às exigências para continuar recebendo essas ajudas, pesa sobre o sentimento dos investidores hoje", resume a equipe de analistas da Um Investimentos, em relatório.
Mercado reduz projeção do PIB e estima inflação maior
O mercado financeiro reduziu a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011 de 3,67% para 3,56%, segundo o boletim Focus, divulgado hoje pelo Banco Central (BC). Para o ano que vem, a projeção para o crescimento da economia foi reduzida de 3,84% para 3,80%. A estimativa para o crescimento da produção industrial em 2011 caiu de 2,63% para 2,60%. Para 2012, a projeção para a expansão da indústria foi mantida em 4,30%.
Segundo o boletim Focus, o mercado financeiro também elevou a projeção para a inflação em 2011 e em 2012. De acordo com a pesquisa, a expectativa para a inflação oficial neste ano subiu de 6,38% para 6,45%, em um patamar distante do centro da meta de inflação, que é de 4,50%. A meta tem margem de tolerância de dois pontos porcentuais para cima ou para baixo.
A projeção para a inflação em 2012 foi elevada de 5,32% para 5,40%. A previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro de 2011 subiu de 0,40% para 0,43%. A estimativa para o IPCA de outubro foi elevada de 0,45% para 0,47%.
Juros e dólar
De acordo com a pesquisa Focus, os analistas reduziram a previsão para a Selic (a taxa básica de juros da economia) para o fim de 2011 de 12,38% ao ano para 11,00% ao ano. Atualmente, a taxa está em 12,00% ao ano. Já a projeção para a Selic no fim de 2012 caiu de 11,88% ao ano para 11,00% ao ano.
Para o mercado de câmbio, os analistas preveem que o dólar encerre 2011 em R$ 1,60, mesmo patamar estimado na semana anterior. A projeção do câmbio médio no decorrer de 2011 passou de R$ 1,60 para R$ 1,61. Para o fim de 2012, a previsão para o câmbio foi mantida em R$ 1,65.
Contas externas
A previsão do mercado financeiro para o déficit em conta corrente neste ano passou de US$ 58,25 bilhões para US$ 57,87 bilhões. Para 2012, o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos estimado foi de US$ 68,51 bilhões para US$ 68,63 bilhões.
A previsão de superávit comercial em 2011 subiu de US$ 23,00 bilhões para US$ 23,80 bilhões. Para 2012, a estimativa para o saldo da balança comercial avançou de US$ 11,60 bilhões para US$ 15,30 bilhões. Analistas mantiveram a estimativa de ingresso de Investimento Estrangeiro Direto (IED) em 2011 em US$ 55 bilhões. Para 2012, a previsão seguiu em US$ 50 bilhões.
Dólar sobe 0,36% a R$ 1,687 no início dos negócios
O dólar comercial abriu o dia em alta de 0,36%, cotado a R$ 1,687 no mercado interbancário de câmbio. Na última sexta-feira, a moeda americana havia fechado a R$ 1,681. Na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), a moeda norte-americana negociada à vista começou o pregão a R$ 1,6855, alta de 0,33% em relação a sexta-feira.
Os mercados continuam temendo uma moratória da dívida da Grécia e colocam essa possibilidade nos preços, com perdas acentuadas para os ativos de risco, desde a semana passada. O euro saiu de valores entre US$ 1,44 e US$ 1,45 no fim de agosto e estava a US$ 1,3663 hoje no mercado internacional de moedas, depois de já ter batido a mínima de US$ 1,3495 hoje mais cedo.
Diante dessas tensões internacionais, operadores do mercado de câmbio brasileiro acreditam que o real começa mais uma semana se enfraquecendo em relação ao dólar. O mesmo ocorre com outras moedas emergentes: os dólares canadense e australiano, por exemplo, subiam 0,12% e 0,69%, respectivamente, nesta manhã ante o dólar.
"O motivo do nervosismo é novamente o medo da Grécia dar um calote na dívida e, além disso, há boatos de problemas na França", ressalta o operador da Interbolsa Brasil, Ovídio Pinho Soares. Outro profissional da mesa de um grande banco acrescentou que o mercado comenta o possível rebaixamento da nota de crédito de bancos europeus. Trata-se de comentários sobre uma possível decisão da agência de classificação de risco Moody''s, que poderia estar preparando o rebaixamento de três bancos franceses.
No Brasil, pelas estimativas captadas na pesquisa Focus, pelo menos por enquanto os analistas não apostam que a deterioração do mercado de câmbio, que acompanha o desarranjo que a crise internacional está provocando nas moedas, seja duradoura. De acordo com o levantamento divulgado nesta manhã pelo Banco Central, a mediana das previsões para o dólar no fim de 2012 continua em R$ 1,65, pela sétima semana consecutiva. Para a taxa de câmbio no fim de 2011, a estimativa manteve-se em R$ 1,60 por dólar pela 13ª semana seguida.