Empresários se uniram a políticos para impor novo projeto da Copa em Cuiabá 30/11/2011
- Leandro Colon - O Estado de S.Paulo
Empresários nacionais e internacionais aliaram-se a políticos de Mato Grosso liderados pelo presidente da Assembleia do Estado, José Riva (PSD), e fizeram lobby pela aprovação do projeto de transporte público em Cuiabá (MT) para a Copa do Mundo de 2014, o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que aumentou em R$ 700 milhões o gasto original previsto para a mobilidade urbana no município. A alteração no projeto foi autorizada mediante fraude - a alteração em um parecer técnico - no Ministério das Cidades, conforme revelou o Estado na semana passada.
Documentos obtidos pelo Estado mostram que uma empresa interessada no negócio, a T' Trans Sistemas de Transporte S/A, recebeu dinheiro de José Riva, que preside a Assembleia, para fazer um estudo a favor do VLT e convencer o primeiro escalão local. Agora, já aprovada a proposta pelos deputados estaduais e pelo Palácio do Planalto, a mesma empresa quer fazer parte do negócio - participando da licitação - e vender os carros usados no VLT.
O dono da T'Trans, o italiano Massimo Giavina-Bianchi, confirmou ao Estado que, a pedido do presidente da Assembleia, orientou parlamentares e integrantes do governo de Mato Grosso a aceitar o VLT.
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"Pode até ter lobby? Pode ter", disse. Admitiu ainda que recebeu dinheiro para fazer o estudo. "É claro que teve um custo, claro." E afirmou que está interessado em participar do projeto: "Pretendo sim, claro. Para mim, Cuiabá me interessa? Claro que me interessa. Nós temos aí grandes contratos muito superiores a Cuiabá, é mais um negócio, é claro que interessa. A T'Trans tem todas condições de participar dessa concorrência."
Massimo Giavina-Bianchi esteve em Cuiabá no dia 5 de abril na companhia do presidente da Assembleia Legislativa para entregar o estudo. No dia 2 de setembro, a convite do mesmo José Riva, o empresário defendeu o projeto pessoalmente aos deputados. No dia 29 de setembro, a Assembleia autorizou o governo a tomar empréstimo federal para levar adiante o VLT.
O presidente do Legislativo de MT foi o mentor intelectual do governador do Estado, Silval Barbosa (PMDB), para convencer o governo federal a trocar a ideia original, o BRT (uma linha rápida de ônibus), orçada em R$ 489 milhões, pelo VLT, ao custo de R$ 1,2 bilhão dos cofres públicos federais.
A mudança foi aprovada em agosto pela ministra do Planejamento, Miriam Belchior, após reunião com governador, e em detrimento de parecer do Ministério das Cidades contrário à troca. Logo após o aval federal, o presidente da Assembleia desdenhou da presidente. "A presidente Dilma não seria imbecil de vetar o melhor modal".
Pressão da Espanha. Além da T'Trans Sistemas de Transporte, o deputado José Riva levou a Cuiabá representantes da AZVI S.A, empresa espanhola especializada no ramo.
Em entrevista publicada no seu próprio site, Riva anunciou que a AZVI pode sair na frente para tocar obra: "A grande vantagem é que a AZVI não só executa. Ela executa e opera o sistema. Isso é que é mais importante." No dia 21 de fevereiro, José Riva, o governador Silval Barbosa, representantes da empresa espanhola e consultores externos reuniram-se a portas fechadas para discutir o assunto.
"Vamos forçar o estudo para executar esta obra", disse Riva.
A T'Trans entrou no jogo no mês de abril com potencial para ser uma parceira na venda dos veículos a serem operados no sistema. A empresa é uma velha conhecida das administrações do Rio de Janeiro e de São Paulo. É a contratada pelo governo fluminense para cuidar da manutenção dos bondes de Santa Tereza. Em agosto, um acidente com um bonde matou seis pessoas e feriu 56. A T'Trans faz parte ainda do consórcio que cuida de 25 trens da linha 3 do metrô de São Paulo.
O estudo da empresa encomendado pela Assembleia comparava o VLT ao BRT e ainda incluía o DMU, uma espécie de VLT a diesel. "Para a sociedade, as vantagens não quantificáveis do sistema VLT/DMU em relação ao BRT são inúmeras", diz trecho do documento. O Estado procurou José Riva. Informou sua assessoria do teor da reportagem, mas não houve resposta até o fechamento da edição.
Na semana passada, o Estado revelou que o Ministério das Cidades fraudou, com o aval do ministro Mário Negromonte, o processo que trata do assunto na esfera federal. Uma nota técnica contrária ao VLT foi adulterada a mando do chefe de gabinete de Negromonte, Cássio Peixoto.
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Comentário de E O KIKO? (OEMINFOR@YAHOO.COM) Em 30/11/2011, 13h17
LARGA O OSSO ESTADÃO PUBLICA ISSO AQUI
Juizes aceitam hospedagem da máfia. Aceitam. Quietos. Ministros do Supremo e do Superior Tribunal de Justiça viajaram com despesas pagas por entidade patronal.
Ministros do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça participaram, no último fim de semana, de evento fechado em um resort na Paraíba com despesas pagas pela Fetronor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Nordeste).
O "Terceiro Encontro Jurídico de Transportes Públicos do Nordeste" foi realizado no Mussulo Resort, que fica no litoral do Estado. A diária do hotel custa R$ 609,00 (quarto para duas pessoas).
Além dos ministros, participaram do encontro juízes e advogados, que também tiveram suas despesas pagas.
O evento teve o apoio da Petrobras, que ofereceu patrocínio de R$ 50 mil.