Bovespa perde, arrastada por piora de cenário externo 08/12/2011
- Nalu Fernandes e Silvana Rocha - Agência Estado
A deterioração no ambiente internacional arrastou a bolsa brasileira para uma queda da ordem de 2% durante grande parte da sessão nesta quinta-feira. O Ibovespa chegou a oscilar no terreno positivo até o início da tarde, mas não resistiu, junto com o exterior, ao choque de realidade dado pelo presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi.
O Ibovespa fechou em baixa de 2,06%, aos 57.455,02 pontos, instalando-se no terreno negativo após a fala de Draghi, que puxou as bolsas norte-americanas para o vermelho já na abertura. "Draghi levantou e derrubou as bolsas", disse um estrategista de investimentos. Na máxima, a bolsa chegou a 59.217 pontos, em alta de 0,94%. Na mínima, bateu em 57.260 pontos, queda de 2,39%. O giro ficou em R$ 6,10 bilhões. Os dados são preliminares.
Draghi deu fôlego para os índices acionários subirem no início do dia, com as decisões do BCE de cortar o juro, em meio às ameaças de recessão, e de aumentar a liquidez, refletindo a preocupação com funding dos bancos na região da zona do euro. Mas o banqueiro também deu a pancada que frustrou as expectativas dos investidores quanto a compras maciças de títulos de países europeus e ao lembrar à comunidade internacional que o BCE não é membro do Fundo Monetário Internacional (FMI) e que o Fundo não pode usar fundos de BCs para emprestar exclusivamente à zona do euro.
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Outra decepção à tarde veio com a informação da Autoridade Bancária Europeia (EBA) de que os bancos europeus precisarão levantar perto de 114,7 bilhões de euros para cumprir novos níveis regulatórios de capital na região, superando a estimativa preliminar de 106,4 bi. Um estrategista de um banco francês com operações no Brasil avalia que as tensões nos mercados financeiros tiveram deterioração significativa e as condições monetárias estão se aproximando de níveis de estresse alcançados logo após o colapso do Lehman Brothers.
Diante da perspectiva de desaceleração na demanda consumidora global em um cenário de potencial recessão no exterior, os investidores puniram as ações das blue chips brasileiras. A Vale ON recuou 2,06%, Vale PNA caiu 1,43%. Petrobras ON cedeu 3,91% e a PN perdeu 3,31%.
Dólar dispara com ceticismo sobre cúpula da UE
O sentimento de que pode estar ainda distante um acordo decisivo da União Europeia para resolver a crise na região cresceu hoje, véspera da reunião de cúpula dos líderes Europeus, provocando a deterioração dos mercados. Em reação, o euro reverteu a alta inicial e caiu em relação ao dólar, que também ampliou ganhos ante seus principais pares internacionais, incluindo o real apesar do fluxo cambial positivo no mercado brasileiro. As Bolsas aprofundaram as perdas durante a tarde em meio à migração dos investidores também para os Treasuries, cujos preços dispararam com consequente queda das taxas.
O dólar à vista retomou a alta e fechou com forte valorização de 1,40%, cotado a R$ 1,8160 - após oscilar entre a mínima mais cedo de R$ 1,7840 (-0,39%) e a máxima à tarde de R$ 1,820 (+1,62%). Na BM&F, o dólar pronto terminou com alta de 1,30%, a R$ 1,8138. Com o resultado de hoje, o dólar balcão passou a acumular ganho de 0,39% no mês e de +9,13% no ano. O giro financeiro registrado na clearing de câmbio até as 16h41 somava US$ 1,822 bilhão, sendo US$ 1.582 bilhão em D+2. No mercado futuro, o dólar janeiro de 2012 subia 0,94%, para R$ 1,8275, com giro financeiro de US$ 18,199 bilhão - 7% superior a todo o volume da véspera.
O ceticismo dos investidores foi restaurado pela reafirmação do presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, de que a instituição não fará compras ilimitadas de títulos públicos nem desrespeitará o tratado que o impede de fornecer financiamentos diretos a governos. Além disso, a Autoridade Bancária Europeia (EBA) ajudou a piorar as expectativas ao revisar para cima sua projeção de que os bancos precisarão levantar 114,685 bilhões de euros para cumprir os novos níveis regulatórios de capital da região, ante uma estimativa de 106,4 bilhões de euros em outubro.
As declarações de Draghi decepcionaram especialmente porque os investidores contavam nos últimos dias com uma ação agressiva da autoridade monetária para estancar os problemas fiscais que assolam a região. Elas também dissiparam a animação do começo do dia com o corte de 0,25 ponto porcentual do juro na zona do euro, para 1% ao ano, e as medidas extraordinárias adotadas pelo próprio BCE para aliviar a tensão no mercado interbancário. Entre as quais, o BCE vai reduzir as exigências para que títulos lastreados em ativos (ABS, na sigla em inglês) sejam aceitos como colaterais para empréstimos.