Com baixa liquidez, Ibovespa acompanha mercado externo e perde 2,54% 28/12/2011
- Filipe Pacheco e Fernando Travaglini - Valor
Em um mercado com baixa liquidez e sem indicadores econômicos fortes, investidores em diferentes praças financeiras se desfizeram dos papéis em mãos e motivaram queda acentuada dos principais indicadores, inclusive no Brasil.
A notícia de que o Banco Central Europeu (BCE) registrou o segundo dia de recorde do nível de depósitos "overnight", que remunera entre um dia e o outro os bancos que deixarem o dinheiro na instituição central, disseminou o mau humor entre os investidores. Na semana passada, o próprio BCE havia distribuído quase 1 trilhão de euros para mais 500 bancos.
O Ibovespa, que já vinha operando em baixa moderada durante a manhã, acentuou perdas após a abertura de Wall Street e se fincou no território negativo ao longo da tarde. O indicador brasileiro terminou em queda de 2,54%, a 56,533 pontos, com os contratos futuros do indicador com vencimento em fevereiro apontando queda de 2,47%, aos 57,105 pontos. Nos dois dias anteriores da semana, também de volume reduzido, o Ibovespa caiu 0,05% e subiu 0,57%, respectivamente.
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Hoje o giro financeiro continuou baixo, mas foi o mais alto da semana: R$ 3,655 bilhões, mas ainba bem abaixo daquele de um dia de giro normal.
"O volume continuou baixo, o que não é muita surpresa", disse Rafael Dornaus, operador de renda variável da Hencorp Commcor. "Em um dia de volume normal, a notícia do BCE não teria tido um impacto tão forte. Mas como hoje não houve agenda de indicadores fortes, como foi o caso de ontem nos Estados Unidos, o mercado se ateve à notícia."
"O que fica claro é que os bancos por lá pegaram emprestado da instituição para depois emprestar para ela de novo, e não correr o risco de conceder esse crédito ao mercado. E esse não é um bom sinal", disse Dornaus.
Os operadores na Europa tiveram pouco tempo para digerir a informação, mas foi o período suficiente para piorar o desempenho dos índices locais. Em Londres o índice FTSE 100 caiu 0,10%; em Paris o CAC 40 cedeu 1,03%; O DAX de Frankfurt recuou 2,01% e o FTSE MIB, da Itália, se desvalorizou 0,85%.
Outro ponto de tensão aos mercados é a expectativa quanto a um leilão de títulos soberanos da Itália, que acontece amanhã, com vencimentos entre 2014 e 2022.
Nos Estados Unidos, perto do horário de fechamento da BM&FBovespa, o Dow Jones cedia 1,20%, o Nasdaq caía 1,38% e o S&P 500 perdia 1,30%.
AÇÕES
Entre as ações mais importantes que constam da carteira do Ibovespa, o destaque negativo ficou com as ações preferenciais da Petrobras, que cederam 3,46% e terminaram cotadas a R$ 21,43. Os papéis tiveram desempenho ruim desde o começo do pregão, mas se acentuaram após o preço do petróleo registrar fortes perdas no mercado externo.
O barril de petróleo negociado em Nova York cedia perto de 1,72%, após terem registrado seis pregões seguidos de alta. Também por lá os recibos de ações da gigante petrolífera brasileira, os ADRs, operavam em queda próxima de 4%.
O preço da commodity sofria impacto direto das notícias que vinham do Oriente Médio, onde o Irã ameaçava fechar o estreito de Hormuz, que é estratégico para o escoamento de petróleo na região.
Entre as outras ações com mais liquidez da bolsa nacional, Vale PNA perdeu 2,6%, a R$ 37,81; OGX Petróleo ON se desvalorizou 1,71%, a R$ 13,76; e Itaú Unibanco PN caiu 2,27%, a R$ 33,53.
Na ponta das perdas estava JBS ON, com queda de 8,48%, a R$ 6,36, enquanto entre os maiores ganhos estava Natura ON, com 1,03% de alta e cotação de R$ 36,21.
Dólar fecha a R$ 1,87 com piora de humor externo
Em mais um pregão com pouca liquidez, o dólar comercial voltou a fechar em alta, pelo seguindo dia consecutivo.
Mas ao contrário de ontem, quando a alta foi de apenas 0,05%, dessa vez a moeda americana avançou mais fortemente, encerrando o pregão com valorização de 0,75%, cotado a R$ 1,874. Na máxima do dia, a moeda atingiu o patamar de R$ 1,887, uma alta de 1,45%.
O dólar ganhou valor sobre praticamente todas as moedas e o euro atingiu a menor cotação desde setembro de 2010, com a divulgação de que os bancos europeus ampliaram os depósitos de recursos no Banco Central Europeu (BCE).
A avaliação de especialistas é de que as instituições preferem deixar o dinheiro no banco central em vez de empresar para outros bancos, dada a desconfiança dentro do sistema financeiro da região.
O Dollar Index, cotação da divisa americana frente a uma cesta de seis moedas, registrava alta de 0,81%, para 80,48 pontos por volta das 17h. O euro atingiu a menor cotação desde setembro de 2010, a US$ 1,295.
A Ptax, do Banco Central, taxa que serve de referência para a liquidação de diversos contratos cambiais, encerrou a quarta-feira a R$ 1,8634, alta de 0,26% sobre a cotação de ontem.
O BC também divulgou hoje que na semana entre os dias 19 e 23 o fluxo de recursos estrangeiros para o país foi deficitário em US$ 2,146 bilhões. O total acumulado no mês também está negativo, em US$ 2,108 bilhões. Durante o ano, o resultado ainda é positivo em US$ 65,114 bilhões, contra US$ 24,536 bilhões em igual período de 2010.