Bovespa acompanha exterior em queda 16/02/2012
- Fabrício Castro e Cristina Canas - Agência Estado
As bolsas em todo o mundo amanheceram, mais uma vez, sem saber se a Grécia receberá um segundo pacote de ajuda financeira. Após a teleconferência de ontem, os ministros de Finanças da zona do euro (Eurogrupo) adiaram para a próxima segunda-feira, dia 20, a decisão sobre o resgate grego. Também pesa nos mercados a decisão da Moody''s de colocar em revisão para possível rebaixamento os ratings de 114 instituições financeiras da Europa. No Brasil, a Vale divulgou lucro antes de despesas financeiras, impostos, depreciação e amortizações (Ebitda) e receita em linha, mas lucro líquido pouco abaixo do esperado, o que deve levar a ajustes de preços ao longo do dia. Às 11h17, O Ibovespa caia 0,84%.
Ontem, após teleconferência, o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, disse que a Grécia havia tomado as medidas necessárias para o acordo de resgate, por meio de cortes de 325 milhões de euros no orçamento de 2012 e da apresentação de garantias dos líderes políticos de que os ajustes continuarão após a eleição de abril. Porém, uma nova reunião foi marcada para a segunda-feira, em Bruxelas.
O setor bancário também voltou a ficar na berlinda. A Moody''s colocou os ratings de 114 instituições financeiras de 16 países europeus em revisão para possível rebaixamento, citando pressões resultantes de um ambiente operacional difícil, deterioração da qualidade de crédito de emissores soberanos e dificuldades nos mercados de capital. Além disso, a agência colocou os ratings de Bank of America, Citigroup, Goldman Sachs, JPMorgan Chase, Morgan Stanley e Royal Bank of Canada em revisão para possível rebaixamento.
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A iniciativa da Moody''s traz pressão adicional sobre os bancos no exterior, o que também pode se refletir nos papéis do setor financeiro cotados no Brasil. "Pode pesar um pouco sim, mas muito disso (das dificuldades dos bancos europeus), como é sabido, já foi precificado", afirmou um operador ouvido há pouco pela Agência Estado.
A Vale, por sua vez, divulgou um lucro líquido de US$ 4,672 bilhões no quarto trimestre do ano, abaixo das expectativas do mercado. As seis instituições consultadas pela Agência Estado - Deutsche Bank, BTG Pactual, Barclays Capital, Bank of America Merril Lynch, Goldman Sachs e HSBC - apontavam para um lucro de US$ 5,048 bilhões no intervalo entre outubro e dezembro de 2011. Já a receita da mineradora, de US$ 14,775 bilhões, veio em linha com o esperado (US$ 14,173 bilhões). O Ebitda, de US$ 7,396 bilhões, também veio em linha (US$ 7,613 bilhões). A Agência Estado considera que o resultado está em linha com as projeções quando a variação para cima ou para baixo é de até 5%.
"Em linhas gerais, apesar do resultado ter vindo dentro das estimativas do mercado, os números operacionais apresentados mostraram uma deterioração das atividades da companhia frente aos trimestres anteriores, devendo ter um impacto marginalmente negativo para as ações da Vale", citou hoje, em relatório, a equipe de analistas da Um Investimentos. Durante a manhã e no início da tarde a mineradora faz teleconferência com analistas.
"Muito da baixa da Vale já veio ontem, porque falavam que o balanço não viria tão bom assim. Como veio de fato abaixo das expectativas, deve ocorrer uma chamada de baixa para os papéis", acrescentou o operador. Como a Vale é importante para a carteira do Ibovespa, a Bolsa pode ter dificuldades hoje para reduzir perdas ou mesmo tocar o território positivo.
Tudo vai depender, porém, do fluxo de capital estrangeiro, que aumenta após a abertura dos índices à vista em Nova York, às 12h30. Por lá, a agenda também é cheia. O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Ben Bernanke, deve discursar por volta do meio dia. Antes disso, às 11h30, saem os dados de pedidos de auxílio-desemprego na semana até 11 de fevereiro, o índice de preços ao Produtor (IPP, na sigla em inglês) de janeiro e o índice de construções de moradias iniciadas em janeiro.
Alta do dólar é limitada por questões internas
"Assim como o mercado ajusta o dólar para baixo com a melhora externa, ajusta para cima com a piora. Mas sempre sem assumir uma tendência firme e duradoura, enquanto não houver uma solução definitiva para a crise". Dessa forma, um experiente profissional do mercado financeiro resume o ambiente de negócios do mercado doméstico de câmbio, que continua focado no exterior, mas limitado por questões internas.
A barreira para quedas maiores no dólar são as atuações do BC e os avisos do Ministério da Fazenda sobre seu interesse em impedir valorização excessiva do real. Para impedir altas mais sustentadas, contribui a percepção de que o Brasil ainda é atrativo para os capitais internacionais, embora nos último dias tenham rareado os anúncios de captações externas.
Dentro disso, a expectativa é de que hoje seja dia de ajuste para cima. Ontem, houve um revés na situação da Grécia, com o aumento das incertezas sobre a liberação do novo pacote de ajuda ao país, e os mercados demonstram maior aversão ao risco, que prejudica as principais bolsas internacionais e favorece o dólar.
Às 9h27, no mercado doméstico, o dólar março valia R$ 1,741, com valorização de 0,37%, sinalizando alta também na abertura do pronto, que ontem terminou o dia a R$ 1,724 no balcão e R$ 1,7215 na BM&F. No mesmo horário, o euro era cotado a US$ 1,3007 ante US$ 1,3106 no final da tarde de ontem, em Nova York. O dólar index registrava alta de 0,40%, às 9h30.
Diante das moedas emergentes, o dólar também ganha espaço. A alta era de 0,18% ante o dólar australiano, 0,31% em comparação ao dólar canadense e 0,69% ante o dólar neozelandês.
A esperança dos investidores para aliviar o ambiente de negócios é a agenda norte-americana. Hoje saem os números do auxílio-desemprego e os últimos dados do mercado de trabalho norte-americano têm sido bons. Às 11h30, será divulgado o índice de Preços ao Produtor de janeiro. Tem também os dados do Departamento do Comércio dos EUA sobre construções de moradias iniciadas de janeiro (11h30) e, às 13 horas, o Índice de Atividade Regional Filadélfia de fevereiro. Além disso, está previsto o discurso do presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, às 12 horas.
Internamente, destaque para o IBC-Br, que ficou levemente acima da mediana das estimativas no acumulado do ano. O resultado foi de 2,72% (sem ajuste) ante mediana estimada de 2,70%. O mercado acompanhou, mas o índice não está fazendo preço.