Juros futuros mostram corte da Selic entre 0,75 e 1 ponto 02/03/2012
- Eduardo Campos - Valor
As taxas dos contratos de juros futuros caem de forma acentuada na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) nesta sexta-feira e passam a indicar que apostas sobre a próxima decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) estão divididas entre corte de 0,75 ponto a 1 ponto percentual na Selic. Dessa forma, o juro básico de 10,50% já seria de um dígito na próxima semana.
A conversa de que o Banco Central (BC) pode acelerar o ritmo de ajuste tomou forma com as medidas cambiais. A ideia é que quanto menor o juro doméstico, menos atrativas as operações de arbitragem de taxa de juros. Uma modalidade de operação financeira que contribui para a valorização do real.
Na quinta-feira de manhã, o governo anunciou que empréstimos externos inferiores a três anos pagarão Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6%. Até então, o prazo era dois anos. À noite, o BC editou Circular limitando o pagamento antecipado de exportação a 360 dias.
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As duas medidas aguçaram essa percepção da política monetária olhando mais atentamente à questão cambial.
Fora isso, também surgem comentários relembrando que o presidente do BC, Alexandre Tombini, destacou, recentemente, que a economia cresce abaixo de seu potencial – o que abre espaço para juro abaixo da taxa neutra. Outro fato que agora virou “pista” de corte maior foi a retirada do termo “ajustes moderados” da comunicação oficial da autoridade monetária.
Pelas contas de Luis Rogé, do site Investcerto, a curva futura mostra corte de 0,82 ponto na Selic no encontro de quarta-feira do Copom. Por isso, há possibilidade de corte de 0,75 ponto a 1 ponto.
A questão, segundo Rogé, é que a curva já não teria espaço para cair muito mais do que isso. A relação risco/retorno de se apostar na baixa não está mais tão atraente.
Tal avaliação pode mudar de figura se novas informações chegarem ao mercado, dando conta de que o corte será mesmo de 1 ponto, ou que o passo de meio ponto percentual por reunião será mantido pelo colegiado do BC.
“Quem apostou antes, ou seja, estava vendido em taxa futura, se deu bem. Agora, o espaço para ganho está bem limitado”, diz Rogé.
Deixando de lado a avaliação técnica, Rogé aponta que a saída via taxa de juros para conter a valorização do real seria mais interessante do que seguir tomando medidas quase que diárias no front cambial. “Essa mão forte em termos de regulação acaba desarticulando o mercado, deixando-o cada vez menos livre”, diz.
Segundo Rogé, o BC tem espaço para fazer um ajuste mais forte da Selic. Para ele, o que não pode acontecer é prosseguir com essa taxa de juros elevada, que serve de atrativo ao capital externo.
Ainda de acordo com o especialista, se esse corte de 1 ponto na Selic virar fato é possível que ocorra uma correria no mercado, com os agentes reajustando portfólios. Para a bolsa, o viés seria de alta.
Antes do ajuste final de posições na BM&F, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em abril de 2012, que concentra a liquidez, registrava queda de 0,07 ponto percentual, a 9,80%. Maio de 2012 perdia 0,11 ponto, a 9,63%. E julho 2012 marcava 9,34%, também perda de 0,11 ponto.
Entre os longos, janeiro de 2013 recuava 0,10 ponto, a 9,03%, nova mínima histórica. Janeiro 2014 caía 0,07 ponto, a 9,59%. Janeiro 2015 perdia 0,06 ponto, a 10,17%. Janeiro 2016 recuava 0,05 ponto, a 10,56%. Janeiro 2017 se desvalorizava 0,05 ponto, a 10,75%. E janeiro de 2021 projetava 11,21%, também alta de 0,03 ponto.
Chama atenção o volume negociado, o maior do ano até o momento. Até as 16h15, antes do ajuste final de posições, foram negociados 2.528.896 contratos, com giro financeiro de R$ 236,92 bilhões (US$ 137,38 bilhões), o dobro do registrado no pregão anterior. O vencimento mais líquido do dia foi o abril de 2012, com 829.385 contratos negociados e giro de R$ 82,29 bilhões (US$ 47,72 bilhões).