Ibovespa acentua alta e fecha com ganho de 1,39%, aos 66.016 pontos 07/03/2012
- Beatriz Cutait e Eduardo Campos - Valor
Embalado pelas bolsas internacionais, o mercado acionário brasileiro teve um pregão de recuperação. De olho nas discussões sobre a dívida grega, em dados do mercado de trabalho americano e à espera da decisão sobre o próximo rumo da taxa básica de juros no Brasil, investidores voltaram às compras, após dois dias de perdas do Ibovespa.
Dados preliminares mostram que, após marcar mínima de 65.123 pontos e máxima de 66.052 pontos, o índice fechou com valorização de 1,39%, aos 66.016 pontos. O giro financeiro atingiu R$ 7,23 bilhões.
Entre os ativos de maior peso, Vale PNA caiu hoje 0,04%, a R$ 40,15; Petrobras PN subiu 0,96%, a R$ 23,98; OGX Petróleo ON avançou 1,18%, a R$ 17,11; Itaú Unibanco PN teve valorização de 2,08%, a R$ 36,65; e Bradesco PN se apreciou em 2,30%, a R$ 31,51.
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No mercado americano, as bolsas interromperam uma sequência de três baixas consecutivas. O índice Dow Jones subiu 0,61%, enquanto o Nasdaq avançou 0,87% e o S&P 500 teve alta de 0,69%.
Descolado do câmbio externo, dólar sobe pelo quarto dia
A formação de preço do câmbio local ficou descolada do câmbio externo, onde o dólar perdeu valor para outras moedas emergentes. O dólar comercial completou o quarto pregão seguido de alta ao subir 0,06% e fechar a R$ 1,765 na venda. Na máxima, a moeda foi a R$ 1,774 (+0,57%).
Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o dólar pronto fechou com valorização de 0,30%, a R$ 1,7653, e giro de US$ 98,75 milhões. Também na BM&F, o dólar com vencimento em abril mostrava alta de 0,28%, a R$ 1,775, antes do ajuste final de posições.
No câmbio externo, o rand sul-africano, o dólar canadense e o peso mexicano reverteram as perdas da abertura dos negócios e ganham da moeda americana.
Entre as moedas desenvolvidas, o euro recupera parte das perdas recentes ante o dólar e sobe 0,27%, a US$ 1,314. Já o Dollar Index, que mede o desempenho da divisa americana ante uma cesta de moedas, tinha leve baixa de 0,10%, a 79,72 pontos.
Para o professor e economista da PUC-Rio, André Cabus Klotzle, há uma conjunção de fatores atuando em favor da desvalorização do real e não se pode descartar a possibilidade do câmbio retomar a linha de R$ 1,80.
Em primeiro lugar, diz o professor, estão as constantes declarações de membros do governo de que existe um “arsenal de medidas” cambiais. Além da frequência, o tom das declarações está mais forte do que no ano passado, sem falar que as atuações do Banco Central (BC) no câmbio estão mais firmes.
Em segundo lugar, Klotzle aponta a existência de restrições tributárias (IOF) sobre derivativos e fluxos de curto prazo, aliada à possibilidade de que novas barreiras possam ser estabelecidas a qualquer momento e sem aviso prévio.
Essa possibilidade de mais “canetadas” sem aviso torna a relação entre risco e retorno do real mais adversa ante outras opções de investimento em outros países emergentes, como Austrália, Nova Zelândia, México e África do Sul. “Assim, não vale a pena fazer apostas em um ativo nas atuais circunstâncias, cercadas de incertezas regulatórias”, avalia Klotzle.
O economista observa que há também a vertente monetária, em que apostas em reduções mais acentuadas da taxa básica tornam a arbitragem entre juros e dólar mais onerosa.
“Se a Selic cair muito forte, o cupom cambial [juro em dólar do mercado doméstico] seguirá a mesma tendência. Além de ganhos reduzidos, o IOF ou a iminência de outra ‘novidade tributária surpresa’ anularão o potencial de retorno. De novo, os riscos em continuar ‘pró-real’ se exacerbaram”, explica.
Klotzle aponta que depois que o patamar de R$ 1,70 foi atingido e os estrangeiros aproveitaram a ocasião para embolsar os lucros, a partir de agora, certamente, o não residente permanecerá menos presente no "risco-Brasil". “Ou seja, configura-se grande chance do dólar buscar níveis mais perto de R$ 1,80 daqui em diante”, conclui.