Esporte para uns, violência para outros, MMA invade academias 13/03/2012
- Iara Biderman - Folha de S.Paulo
Goste ou não, você vai ser atacado por todos os lados: a luta da moda, o MMA, está na TV, no cinema, nas livrarias, nas conversas de bar, nas academias de ginástica.
Os patrocinadores do UFC (campeonato internacional de MMA) já estão batendo os tambores para o próximo torneio, que será realizado em junho, no Brasil. São ajudados pelos subprodutos da luta e ajudam a promovê-los.
Na próxima sexta-feira, 16, estreia o documentário "Anderson Silva: Como Água", sobre o grande ídolo da modalidade, com um esquema de distribuição peso-pesado: 150 salas e uma expectativa de público recorde.
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Em abril, estão previstos três lançamentos de livro sobre o tema: "Filho Teu Não Foge à Luta: como os lutadores brasileiros transformaram o MMA em um fenômeno mundial", pela editora Intrínseca, "A Bíblia do MMA", pela Universo dos Livros, e a autobiografia de Anderson Silva, pela Sextante.
E se você já achava muito ter um bonitão na novela na pele de um lutador (o ator Dudu Azevedo, em "Fina Estampa", da TV Globo), prepare-se. Está sendo filmada a história de José Aldo, campeão dos pesos-pena, vivido na telona por outro bonitão de novelas, Malvino Salvador.
Nas academias, as aulas de MMA estão inchando.
De olho no filão, a Fitness Brasil, maior feira de tendências para o setor, que acontece em Santos no final de abril, vai apresentar treinos formatados para esse público de academias, além de montar um octógono (ringue de MMA) durante o evento, onde serão realizadas lutas.
Tantos adversários e marketing tão poderoso tornam difícil a vida dos críticos da luta. O de maior visibilidade, atualmente, é o deputado federal José Mentor (PT), que apresentou um projeto de lei proibindo a transmissão dos campeonatos pela TV.
Em artigo publicado na Folha (5/3), ele ataca o que considera brutalidade e propaganda de violência gratuita.
Não se sabe se esse golpe tem força para derrubar o fenômeno do MMA, mas ele vai direto ao calcanhar de Aquiles da modalidade.
A imagem de atividade violenta e sem limites é tudo o que patrocinadores, empresários e profissionais querem deixar longe da prática.
PÓS VALE-TUDO
"A luta começou chamando 'vale-tudo', mas mudaram o nome para artes marciais mistas [MMA na sigla em inglês] para ficar mais palatável", diz o professor de jiu-jítsu Roberto Godoi, da academia Godoi, de São Paulo.
O novo clube da luta tenta valorizar mais aspectos como autocontrole e disciplina do que força bruta.
"O aumento de alunos nas aulas de MMA é imenso. Eles querem diminuir o estresse, desenvolver disciplina. Fora o gasto calórico, que é enorme", afirma o fisioterapeuta e professor Thomas Henrique Cabrera, que dá aulas da modalidade na rede de academias Runner, em São Paulo.
Lutas sempre foram um produto nas prateleiras das academias, mas com o MMA a procura explodiu, segundo o empresário Waldyr Soares, presidente da Fitness Brasil.
"A onda está ligada à overdose de divulgação da modalidade. Não dá para dizer que não tem brutalidade, mas é uma mina de ouro. E é um baita treino, por isso está vendendo bem nas academias."
O treino também serve de válvula de escape. O chefe de cozinha Guilherme Zago, 28, diz que a luta o deixa preparado para o trabalho. "Fisica e mentalmente, a cozinha de um restaurante é mais pauleira que o MMA", afirma.
A assistente de marketing Carla Ferro, 37, é outra defensora dos benefícios psicológicos da luta.
"Comecei a treinar depois de passar por problemas físicos e emocionais. Tinha terminado meu casamento, estava com a autoestima em baixa e resolvi fazer algo. Me apaixonei pelo MMA."
A paixão só não está contribuindo para a vida amorosa, segundo ela. "Todos os namorados que tive terminaram comigo porque não aceitavam meu esporte. Achavam muito masculino."
MULHERES NA LUTA
Com ou sem a aprovação dos parceiros, o clube de lutadoras está crescendo. "Nos torneios nos EUA, as mulheres são 49% do público; no Brasil, são 37%", diz Wallid Ismail, 43, que promoveu no último final de semana o Pink Fight, campeonato só de mulheres, em Campos (RJ).
"Elas dão show, lutam com mais garra para mostrar que acabou essa coisa de sexo frágil", analisa Ismail.
A educadora física e personal trainer de corrida Adriana Overgoor, 25, diz não estar preocupada em provar nada.
"Em muitos treinos, sou a única mulher. E adoro. Claro, sou tratada como princesa."
Adriana afirma que a luta, além de dar condicionamento e força, aumenta o conhecimento corporal, o que, segundo ela, diminui o risco de a pessoa se machucar. Mas diz ter medo de competir profissionalmente. "O dinheiro que poderia ganhar seria gasto arrumando meus dentes."
Os treinadores minimizam o risco de lesão. "Com bom treino, nenhum esporte é arriscado", diz o professor de artes marciais Jeremias Cassimiro Alves Silva, 44, que dá aulas de MMA no Conjunto Desportivo Baby Barioni, em São Paulo.