Bovespa tem 3ª queda seguida com temor sobre China e Europa 22/03/2012
- Alessandra Taraborelli e Silvana Rocha - Agência Estado
A China e a zona do euro mais uma vez espalharam temores em relação ao ritmo de crescimento da economia global e a aversão ao risco cresceu hoje. Com isso, a Bovespa fechou em queda pelo terceiro dia consecutivo, de 1,54%, aos 65.828,19 pontos - a menor pontuação desde o último dia 6, quando registrou 65.114,15 pontos. O movimento foi puxado por ações da Vale e Petrobrás, siderúrgicas e bancos. Os principais papéis do índice têm correlação com commodities e, por isso, são fortemente influenciados negativamente.
No caso das instituições financeiras, a queda é atribuída a uma realização de lucros, já que o setor, mesmo com os recuos recentes, ainda acumula alta no ano. A exceção fica com o Banco do Brasil, que ainda está sendo influenciado pela preocupação dos investidores com possível ingerência do governo. No pior momento do dia, o Ibovespa atingiu a mínima de 65.538 pontos (-1,98%) e, na máxima, 66.860 pontos (estável).
Vale ON e a PNA caíram 2,07% cada. No mês, os papéis acumulam queda de 4,55% e 4,47%, respectivamente. No ano, no entanto, as ações ainda têm alta de 5,37% e 7,35%. Entre as siderúrgicas, Gerdau PN perdeu 3,03%, Metalúrgica Gerdau PN, -1,99%, Usiminas PNA 1,30% e Siderúrgica Nacional ON, 2,91%. Os contratos futuros de metais básicos também fecharam em queda hoje na London Metal Exchange (LME).
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Entre os bancos, a maior queda foi verificada nos papéis ON do Banco do Brasil (-3,23%). Segundo um profissional, os rumores de que o governo quer ampliar o crédito ao consumidor via BB e Caixa Econômica Federal fazem crescer as preocupações de que os resultados do BB possam ser prejudicados por um aumento da inadimplência. "Indica que há uma ingerência no BB, o governo quer usar o banco a seu favor, mas isso pode não ser bom", estimou a fonte.
Bradesco PN caiu 0,34%, Itaú Unibanco perdeu 2,79% e as units Santander, -2,46%.
As ações da Petrobrás seguiram o preço do petróleo no mercado internacional e encerram em queda. O papel ON caiu 1,66% e o PN, -1,29%. Na Nymex, o contrato de petróleo para entrega em maio registrou declínio de 1,79%, a US$ 105,35 o barril.
Logo cedo, o índice preliminar de atividade industrial dos gerentes de compras (PMI) da China apontou recuo a 48,1 em março, o nível mais baixo dos últimos quatro meses, de 49,6 em fevereiro, disse o HSBC. A abertura do dado chinês mostra ainda um agravamento nos componentes de novas encomendas e de emprego. O PMI do setor industrial da zona do euro caiu para 47,7 em março, de 49,0 em fevereiro, segundo dados preliminares da Markit. O índice abaixo de 50 indica contração da atividade.
Dólar se sustenta acima de R$ 1,82, em alta de 0,27%
O dólar oscilou em alta ante o real o dia todo e fechou acima do patamar de R$ 1,82. A aversão ao risco no exterior - causada por dados fracos das economias chinesa e europeia - amparou a valorização da moeda norte-americana, com impacto sobre os negócios locais. Aqui, a persistente expectativa de novas medidas cambiais induziu também a correção de preço. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, prometeu a empresários que o governo continuará a fazer políticas de intervenção no câmbio que não permitam a subida do real.
Desse modo, mesmo sem leilão do BC pelo segundo dia seguido, o dólar não fraquejou. "A moeda norte-americana ganhou um parceiro forte para sustentar sua valorização que é o desaquecimento da China, confirmado pelos indicadores", avaliou o operador Ovídio Pinho Soares, da corretora Interbolsa Brasil. Além disso, a certeza de que o governo brasileiro vai atuar se for preciso ajuda a criar inquietação. "O potencial vendedor de dólar se retrai e não tem pressa de vender, ajudando a sustentar os preços", observou.
No fechamento, o dólar à vista estava em alta de 0,27%, a R$ 1,8240 no balcão, após oscilar da mínima em R$ 1,8210 (+0,11%) à máxima de R$ 1,8320 (+0,72%). Na BM&F, a moeda spot encerrou na mínima, a R$ 1,8220 (+0,07%).
Na reunião da presidente Dilma Rousseff com empresários hoje a questão do câmbio concentrou parte do debate. O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, disse que há um problema no câmbio, pois a atual taxa de R$ 1,80 é a mesma do ano 2000, porém, destacou, nos últimos 12 anos, ocorreu uma inflação de 112%. "Portanto, há uma distorção", avalia.
Skaf sugeriu ao governo que o Reintegra, programa que devolve aos exportadores 3% do valor exportado, seja elevado para compensar parcialmente esses problemas do câmbio. Ele pediu também mais agilidade na área de defesa comercial e a redução dos juros e do spread bancário. Quanto à decisão do governo de desonerar a folha de alguns setores, Skaf disse que é boa, porém não é possível que a tributação seja transferida para o faturamento. "Tira os 20% da folha e não compensa em lugar nenhum", comentou