Ingleses trocam vuvuzela por aplausos falsos em festa olímpica 07/05/2012
- Marcel Merguizo - Folha de S.Paulo
Quando o Big Ben marcou 21h47 do último sábado, Niamh Clarke-Willis, 9, inaugurou oficialmente o Estádio Olímpico de Londres.
Para os organizadores, a partir daquele momento, faltavam exatamente 2.012 horas para a abertura da Olimpíada. Para ser menos preciso, 83 dias até 27 de julho.
No entanto, para os britânicos, reconhecidos pela pontualidade, e para a cidade, famosa por tem um relógio como um de seus maiores símbolos, era a chance de testar o estádio que custou 500 milhões de libras (R$ 1,5 bilhão).
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A mais nova contagem regressiva foi iniciada pelo apresentador de TV Vernon Kay ao encerrar o evento anunciando que "Londres-2012 está aberta para os trabalhos". Ou para negócios, em outra tradução, pois era o que estava sendo feito por quem já vendia ali um copo de cerveja (R$ 13), vinho (R$ 15) ou um sanduíche (R$ 10). Menos hambúrguer. Ali, exclusividade do McDonald's.
O público de 40 mil espectadores pôde acompanhar um evento com entretenimento ("Olimpíadas do Faustão" com britânicos famosos) e atletismo (finais do campeonato universitário do país).
Se houve lotação no metrô para quem voltava para casa às 22h, a ida ao Parque Olímpico por meio de transporte público foi uma boa opção cinco horas antes (trajeto de meia hora saindo do centro).
Um grande negócio também para o maior e mais novo shopping center da cidade, o Westfiled, por onde se entra e sai da estação Stratford -- bairro de parque, vila e arenas olímpicas como as de basquete, esportes aquático, atletismo, entre outras.
Para o público -- espera-se que 70% passe pelo shopping --, a contagem regressiva foi para entrar no evento. As filas em 12 tendas que liberaram o acesso ao estádio às 18h45 chegaram a passar o comprimento do centro aquático, 30 minutos antes.
Esperar, porém, não foi um exercício praticado por todos os espectadores, que começaram a deixar seus lugares de volta para casa quase uma hora antes do fim da festa. Ou melhor, deixaram logo que feitos os sorteios de prêmios dos patrocinadores da noite.
Uma das empresas responsáveis por pagar a conta dos Jogos não perdeu tempo e distribuiu brindes tão logo os espectadores colocavam os pés na porta do estádio. Dali para as mãos surgia a "vuvuzela" de Londres: o "clapper".
O aplauso falso produzido pelo pedaço de papelão dobrado várias vezes como sanfona animou as famílias no estádio. Fosse para aplaudir um atleta fosse para acompanhar o ritmo das músicas tocadas no gramado por uma banda --no estilo fanfarra.
O "clapper" fez grande sucesso e deve ser mantido para a Olimpíada. Apesar de muitas crianças terem usado o "aplaudidor" para bater em si mesmo e nos outros. Talvez para espantar o frio, que variou entre 3ºC e 9ºC.
"Dizemos que o clima precisa ser o melhor que puder ser", brincou o presidente do Comitê Local, Sebastian Coe. "Não podemos controlar tudo", emendou Lord Coe, como é conhecido e muito aplaudido no Reino Unido.
O campeão olímpico ouviu vaias apenas quando o mestre de cerimônias da noite lembrou que ele era torcedor do Chelsea. Não dá para controlar tudo, nem todos.
Mesmo assim, como parte do show, a arqueira paraolímpica Danielle Brown acertou um flechada em um alvo distante justamente no nome de uma menina moradora da antes abandonada zona leste londrina. Já no gramado, a sortuda disse que admira o estádio da janela do quarto. E o "business" olímpico tentar exibir seu lado inocente.