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DIA A DIA

Governo está satisfeito com dólar em torno de R$ 2, diz Mantega
16/05/2012 - Adriana Fernandes, Beatriz Abreu e Renata Veríssimo, da Agência Estado

Com o agravamento da crise internacional nos últimos dias, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, prefere não apostar na saída da Grécia da Zona do Euro. Mas se esse pior cenário se concretizar Mantega prevê um período de turbulência entre 30 a 40 dias. O ministro demonstra tranquilidade diante do risco de ruptura na Europa, mas admitiu que a crise já produziu danos no Brasil: a redução do crescimento da economia brasileira em 2012.

Mantega garantiu que governo brasileiro está pronto para reagir e ponderou que a crise traz vantagens para o Brasil. A principal delas tem sido a subida do dólar. A presidente Dilma Rousseff, todo o governo e a "torcida do Flamengo", disse o ministro, estão satisfeitos com o patamar do dólar em torno de R$ 2,00.

Segundo Mantega, é improcedente a informação de que governo está preocupado com efeito do câmbio na inflação no Brasil. "A Dilma não pensa isso", afirmou. O ministro também não acredita que o Banco Central vá vender dólar ao mercado para segurar a desvalorização do real. Em qualquer hipótese para a crise, o ministro assegurou que o crescimento do Brasil este ano será maior dos que os 2,7% obtidos no ano passado. "Ter um piso de 2,7% está é muito bom", disse.


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Em entrevista às jornalistas Beatriz Abreu, Adriana Fernandes e Renata Veríssimo, da Agência Estado, o ministro criticou duramente a estratégia do governo alemão de insistir numa solução para crise pela via apenas da austeridade. Essa estratégia, segundo ele, não tem sustentação política, pois a população europeia não está disposta a continuar fazendo sacrifícios sem ter resultado. "Eles (a população) viram que a luz no fim do túnel é uma locomotiva vindo na direção contrária". A seguir, a íntegra da entrevista exclusiva:

Há um agravamento da crise na Europa, o dólar no Brasil em torno de R$ 2,00. Há risco de os países da zona do euro entrarem em recessão?

- É o agravamento de uma crise mal resolvida, principalmente na zona do euro. E, agora, demonstra que a estratégia que eles abraçaram era ineficaz para resolver os problemas. A estratégia econômica escolhida não tem sustentação política. Fazer apenas um programa de austeridade, não só trouxe problema de não trazer o crescimento das economias, como levou ao agravamento da dívida.

Então, mesmo o problema principal que se queria resolver, não se resolveu. Se pegar o conjunto dos países que está trilhando essa política de austeridade, a relação entre dívida líquida e PIB (produto interno bruto) cresceu no período de 2007 a 2011. E agora em 2012 vamos ter uma bela de uma recessão.

O resultado não foi bom?

- O resultado é pífio, do ponto de vista econômico. E do ponto de vista político, insustentável porque a população europeia não está disposta a continuar fazendo sacrifícios sem ter resultado.

É uma situação sem saída?

- A população aceita fazer sacrifícios por um ano, dois anos, até três anos quando ela vê uma luz no fim do túnel. E o que eles viram é que a luz no final do túnel era uma locomotiva vindo em sentido contrário. Se eles continuarem nessa perspectiva, o que vão conseguir é quebrar vários países. Nós estamos, de novo, com o problema da Grécia que, politicamente, não vai dar continuidade à política que lhe foi imposta, tanto que não consegue formar o governo. Nós tivemos a eleição do Hollande (François Hollande, novo presidente da França), que significa uma ruptura na estratégia que tinha sido amarrada pelo Sarkozy (Nicolas Sarkozy, que perdeu as eleições presidenciais para Hollande) com a Angela Merkel (Chanceler alemã). A própria Angela Merkel teve sua primeira derrota importante, o que significa que o programa começa a fazer água.

A Merkel sai mais fraca na defesa da austeridade por ter perdido as regionais?

- Então, de novo. A temperatura subindo na Espanha, onde um banco quase quebrou. Isso mostra que nem do ponto de vista financeiro eles resolveram o problema com a ação do Banco Central europeu. Não que tenha sido errada, mas não resolveu. Isso questiona a política de ajuste fiscal proposta pela Alemanha. Isso é insustentável e já levou à substituição de vários governos.

E qual é a situação?

- Agora estamos em um impasse. Já feitos os ajustes, a situação se agravou. Não melhorou. Mesmo a Alemanha entra em recessão, porque corre o risco de ter o seu PIB próximo de zero. O PIB europeu para 2012 está entre menos 0,3% e menos 0,5%. Ou seja, a zona do euro entra em recessão, mas sem colher os resultados. Poderia dizer: Bom fizemos o sacrifício, mas as economias estão saneadas. Não, as economias não estão saneadas. A única dívida que caiu foi a da Grécia, mas porque foi feita a reestruturação da dívida. Só por isso. A Grécia não consegue cumprir as metas fiscais.

E como sair desse impasse?

- Eles têm que mudar a estratégia. A crise é uma coisa ruim, mas terá um efeito positivo. Eles vão rever de forma a combinarem a consolidação fiscal com estímulo ao crescimento.

O sr. acha que isso vem logo, a tempo de evitar uma catástrofe mundial?

- Essa é a dúvida. A meu ver, eles demoraram muito tempo para acordar para o problema. Hoje, nós temos duas hipóteses. A primeira de que a Grécia resolva sair da zona do euro. E isto vai causar uma reação e uma contaminação um pouco parecida com a quebra do Lehman Brothers, mas num espaço de tempo menor. Vai haver uma forte aversão a risco. Vai causar problemas na Espanha, Irlanda e Itália, na chamada periferia. Haverá fuga de ativos desses países.

E problemas com os bancos...

- Não. Se tiver algum banco com dificuldades é na Grécia. Nos outros países o Banco Europeu tem como agir. Vocês viram que na Espanha houve um socorro. O efeito Lehman Brothers agora não é a quebra de um banco. É a saída da Grécia da zona do euro. Isso causará um impacto nos credores, embora eles estejam mais preparados porque essa hipótese está colocada no radar há algum tempo. O problema é que, apesar de já estarem se preparando, haverá uma reação em cadeia que levará a outros bancos a saírem de suas posições. Se o pior acontecer - que é a saída da Grécia - essa turbulência irá demorar entre um mês e um mês e meio.

Parece que está se caminhando para esse desfecho.

- Não acho. Acho que quando acontece esse agravamento o pessoal acorda. Eles podem, ainda, tomar medidas que evitem isso. O que acontece com a Grécia? A Grécia não tem mais perspectiva. A população grega não tem perspectiva. Então... se não tem perspectiva vamos pular fora desse barco e voltar ao dracma (moeda grega). Eles têm que dar perspectiva para o país.

E o papel do Hollande?

- É uma novidade. É que, infelizmente, ainda tem uma eleição parlamentar em julho. Até lá, ele não pode constituir um novo governo. O Hollande vai exigir uma nova equação. E nessa equação vão estar perspectivas que os países ainda não têm.

Essa pode ser uma alternativa de menos austeridade e mais inflação?

- Não. Não tem saída pela inflação. A saída é pela deflação. Quando a situação atinge um patamar mais alto, vamos supor era um patamar 5 na escala Richter. Hoje está em nível 7. Na escala 5, as commodities ainda não tinham sido afetadas. Porém, já começou a afetar o crescimento da China, que desacelerou de forma importante nesse primeiro trimestre. Os emergentes - todos - já foram afetados. Nós desaceleramos um pouco por conta disso. No primeiro trimestre deste ano nós tivemos uma desaceleração por conta desse quadro.

Porém, as commodities não tinham sido afetadas. Agora, as commodities foram afetadas e estão caindo. Então, vamos ver aqui no boletim secreto que nós fazemos aqui no Ministério.(e pega entre seus papéis uma tabela com todos os indicadores internacionais que definem o cenário externo)

O sr. poderia nos dar esse boletim?

É secreto. (risos). Esse relatório só a presidenta Dilma recebe. O índice CRB, que são as 19 commodities mais negociadas, em 12 meses perdeu 14%, sendo que no período mais recente que a queda foi maior. Um outro indicador importante é a queda do preço do petróleo, que segura a inflação nos Estados Unidos e Europa. O petróleo brent ficou em US$ 122, US$ 123 e agora está a US$ 110. O WTI fechou em US$ 94. Entre as commodities, a mais resistente é o petróleo. A queda das commodities afeta vários países. Quando cai o cobre, afeta o Chile. A queda da demanda de manufaturas, afeta a China fortemente. E quando essas expectativas, caem as bolsas de todo o mundo e as moedas se desvalorizam. Isso é um movimento generalizado.

E o Brasil?

- Nós temos dois benefícios. Temos prejuízos também, mas vamos começar pelas vantagens. Pressão inflacionária menor por causa das commodities e do petróleo. E o câmbio.

Mas o câmbio... como fica? Chegou a R$ 2,00 e caiu um pouco.

- A desvalorização da nossa moeda não é uma desvantagem. É uma vantagem. O que os empresários querem é câmbio. Quando anunciamos o Brasil Maior, a primeira medida que coloquei foi: ação permanente sobre o câmbio. E nós estamos entregando.

Por isso me causou estranheza notícias de que o governo estaria preocupado com alta do dólar e seu repasse para a inflação. E que em função disso, o governo fixaria um teto de R$ 2,00.

Essa notícia tinha que ter sido confirmado comigo. Isso é improcedente, inclusive saiu uma notícia de que a presidenta disse isso. Ela não disse isso e ela não pensa isso. O governo está preocupado com a competitividade da indústria. Quem mais sofre é a indústria. Pode baixar o preço da commodities, mas se sobe o dólar há uma compensação. Então, o produtor brasileiro não perde nada. Se o dólar valorizou 21,66% em 12 meses, significa que o exportador brasileiro de commodities está com faturamento, em real, 20% maior.

Isso compensa a perda de preço das commodities, se considerarmos que para várias delas houve uma queda de preço de 14,7% em 12 meses. Portanto, todo o nosso setor agrícola brasileiro está bem.

A transmissão do câmbio para a inflação, o famoso "pass through", é menor atualmente. É uma questão preocupante?

- Traz um pouquinho de preocupação, mas cada vez menos. Isso porque a evolução das commodities traz problema para o IGPM, que não é um bom índice para medir a inflação, principalmente nesse momento. A inflação é cada vez menor porque o que o país importa é manufaturado. O nosso déficit na balança comercial em manufaturado é de US$ 90 bilhões por ano, que é produto cujo preço mais cai. Por causa da crise internacional, está todo mundo liquidando manufaturado. O "pass through", a chamada contaminação da variação cambial para a inflação, é muito pequena.

De quanto, ministro?

- É difícil calcular. Temos um cálculo preliminar - eu mandei refinar o cálculo. Está dando algo não mais que 0,20. Entre 0,20 a 0,30 e que só pega manufaturado e como o manufaturado está caindo... É um preço que sempre está abaixo do centro da meta.

É só isso?

- Eu mandei refinar o cálculo.


É de 0,20 a 0,30 no IPCA de quanto?

- Aí depende do câmbio. E isso não posso dizer. É um pequeno aumento na inflação. Mas, se por outro lado, você tiver uma forte queda de commodities isso não está sendo calculado. Estou calculando só o efeito câmbio.

Mas pode ser maior do que isso.

- Pode. Mas eu não vejo pressão inflacionária.

Está todo mundo falando que o Banco Central vai intervir vendendo dólar.

- Eu não vi essa tendência do Banco Central.

Mas é o que está todo mundo dizendo.

- Todo mundo, não. Quem está na posição vendida gostaria que o Banco Central fizesse isso. Eu não acredito que o BC vá fazer isso.

Em setembro de 2011, quando o dólar chegou a R$ 1,95 o Banco Central se sentiu desconfortável. E quando o dólar bateu nesse patamar o BC vendeu swap.

- Mas swap é outra coisa. Vender dólar no mercado??? Na crise de 2009, nós tivemos um pico de câmbio que chegou a R$ 2,40 por dois dias, mas foi por causa do derivativo. Nós não temos derivativo agora. Estamos em uma situação muito mais sólida. Eu não sei o que o Banco Central vai fazer. E se soubesse não diria, porque isso é mercado. Não posso falar.

O sr. está satisfeito com esse patamar?

- Eu estou satisfeito. Eu e toda a torcida do Flamengo ou do Fluminense.

Ministro, tem analista de comércio exterior que diz que câmbio de equilíbrio para o exportador seria de R$ 2,20. Dá para chegar a esse câmbio sem provocar a inflação? Qual o patamar que ainda se pode chegar?

- Não tem patamar. Tem oscilações. A coisa mais difícil é calcular câmbio de equilíbrio. Nunca vi economista calcular de forma sustentada. Eu já vi JP Morgan, bancos, Fundo Monetário. Eu não acredito em nenhum deles. O câmbio de equilíbrio é aquele que resultaria caso não houvesse interferência dos vários mercados, de vários parceiros.

O patamar do câmbio está bom?

- O que eu posso dizer é que hoje nosso câmbio está muito mais favorável à produção nacional de manufaturado. Segundo, se houver o pior no mercado internacional, nós poderemos ser afetados em termo de crescimento, mas muito menos do que os demais países. Se der esse cenário de a Grécia sair do euro não teremos uma situação como em 2008, não será tão intenso e durará menos tempo. Não será tão grave. O Brasil está muito melhor preparado. O Brasil não tem derivativo tóxico, tem US$ 374 bilhões em reservas cambiais, que seria quase o dobro do que tínhamos naquela ocasião. Estamos mais prevenidos.

A pior hipótese.

- Então, talvez a gente não consiga 4,5% de crescimento este ano, se der essa hipótese pior, que irá nos afetar em termos de crescimento. Da mesma forma que vai afetar a China, a Índia, a Rússia.

Só e se nessa hipótese o crescimento será menor?

- Aí eu acho o seguinte: a crise vai demorar de um mês a um mês e meio. Os países vão ter que tomar atitudes. A Alemanha terá que reformular sua estratégia, junto com a França, etc. O Brasil está mais preparado. Não teremos 4,5 no ano como um todo, mas no segundo semestre teremos uma situação melhor.

Mais para o fim do ano, já sinalizando para 2013.

- No segundo semestre. Se acontecer agora, dura esses dois meses...

Existe a hipótese de um crescimento abaixo de 3%?

- Não existe essa hipótese. Em qualquer hipótese teremos um crescimento maior do que o que tivemos no ano passado (2,7% de crescimento da economia). Isso porque no ano passado estávamos restringindo crédito e fazendo uma consolidação fiscal.

Mas 3% é maior que de 2011. Quão maior será esse crescimento?

- Como nós estamos num momento de incerteza não dá para afirmar. O que posso dizer é que nada do que acontecer aqui será parecido com o que está acontecendo na Europa. Sinto o que vai acontecer com os emergentes, que vão desacelerar. Porém, continuaremos com crescimento positivo. Nós estamos prontos a reagir.

Reagir como, ministro?

- Você viu como nós agimos em 2009.

O sr. considera que pode haver um credit crunch?

- O que é um credit crunch? É uma ausência de crédito. Para isso, nós estamos preparados. Naquela época, a área monetária levou uns três meses para fazer os leilões de linhas de exportação. Agora, temos todos os mecanismos. Falo isso se faltar crédito, mas não acredito nisso. Mesmo na pior alternativa, o Brasil vai crescer.

Crescer acima de 2,7%?

- Vai crescer acima do que cresceu no ano passado.

E qual é a segunda alternativa para a crise europeia?

- Que a Grécia consiga sair da crise política e consiga uma estratégia para formar o governo. Nesse ínterim, as autoridades da zona do euro redefinem a estratégia e recoloquem na pauta o estímulo ao crescimento. Tem que ter consolidação fiscal, principalmente para alguns países que abusaram um pouco em relação à dívida. O que tem que fazer é combinar as duas coisas. Até aqui nós fizemos isso, mesmo sem precisar, ou precisando menos. Nós demos uma apertada no fiscal, porém não inibimos o crescimento. Este ano estamos fazendo a mesma coisa: um fiscal sólido e estimulando investimentos e programas sociais. Vamos estimular as empresas, desonerando tributos. Tudo isso são ações que os europeus deveriam fazer. Eles estão onerando. Nós estamos desonerando e vamos continuar.

Mas para os países europeus é difícil falar em estímulos. Eles estão patinando, com crescimento zero, patinando na lama.

- Eles têm condições, sim. Têm países que, como você diz estão com o pé na lama, mas por enquanto. Daqui a pouco vão começar a reagir, como a Alemanha, a Holanda, a Bélgica. Há países que têm condições fiscais.

A Inglaterra não está na zona do Euro. O sr. pode falar da Inglaterra?

- Eu prefiro não falar sobre a Inglaterra. (risos).

Quem está com o pé na lama?

- Este termo não é muito diplomático. Os meus colegas da diplomacia estão torcendo o nariz. É que eles não foram treinados para ouvir este tipo de termo.

Estamos floreando a realidade. A situação é muito ruim.

Tem países que têm condições fiscais para fazer estímulos e a Alemanha é o primeiro. Ela tem condições para dar estímulos e daqui a pouco ela será obrigada pela população.

A Angela Merkel já começou a perder apoio?

- É chamado sinal das urnas. Não se pode ignorar os sinais das urnas.

E no Brasil? Como a gente pode se prevenir contra os efeitos desse cenário na Europa?

- O cenário mais otimista é que eles voltem a dar estímulos.

Mas isso leva um tempo para surtir efeito.

- Leva um tempo, mas já tem uma mudança de expectativa. Uma parte dos problemas hoje é a expectativa ruim. Esta crise desestimula dos investimentos. Mesmo os empresários brasileiros que vivem outra realidade ficam um pouco preocupados, pensando... bom o que será que vai acontecer? Por mais que a gente fale, e eu afirmo aqui, que estamos imunes, imunes não, estamos menos vulneráveis, o Brasil tem um mercado que continua crescendo. A nossa força é o mercado brasileiro, que continua crescimento 5,5% a 6% ao ano. Isso já é suficiente para viabilizar o crescimento da economia brasileira. Isso vai continuar e agora até melhor porque com o câmbio nesta posição as importações perdem competitividade.

Quais as outras ações que o governo pode fazer? A presidente tem marcado a necessidade de desonerações...

- Nós estamos no caminho das desonerações. É claro que elas têm que ser graduadas com os resultados fiscais. Não pode sair enlouquecido desonerando tudo porque senão nós quebramos. Tem que ser de forma graduada com o resultado fiscal. Nós estamos fazendo e continuar fazendo. Por exemplo, novos setores que vão entrar na desoneração da folha de pagamentos. Essa é uma das prioridades: desoneração do custo da mão de obra.

O setor automobilístico pode entrar?

- O setor automobilístico é de capital intensivo. O setor de autopeças entrou porque é mão de obra intensiva. Bens de capital. Nós não vamos obrigar ninguém a entrar. Ele tem que pedir. Se é conveniente para o setor.

O automobilístico pediu?

- Não. Porque a folha de pagamento é muito pequena. Então, ele prefere pagar a contribuição sobre a folha do que pagar alguma coisa sobre o faturamento.

E os carros que estão no pátio? A informação é que a presidente pediu um estudo para ajudar o setor.

- Ela pediu? Não estou sabendo.

Desde que saiu a poupança, o mercado internacional diz que o Brasil não é mais o queridinho e estaria reduzindo juros de forma voluntarista. E isso traria aversão maior ao investimento no Brasil.

- Olha, eu não faço nenhuma questão de ser o queridinho dos especuladores. Nenhuma questão. Eu gosto de investimento direto, quem vem aqui para produzir. E o cenário que está sendo criado no Brasil é de estímulo à produção e menos estímulo à arbitragem e ganho financeiro fácil. É esse o cenário que está se colocando e que vai promover mais a produção. Então que aqueles que faziam arbitragem em relação ao Brasil não tenham gostado, aí eu fico feliz. Aí pararam de fazer e nos dão menos trabalho.

Houve excesso de capitais?

- Até pouco tempo estávamos com o trabalho de excesso de capitais querendo fazer esta arbitragem. A medida que as nossas taxa de juros se aproximam das taxas internacionais, porque tem que olhar a taxa real, vai diminuindo esta especulação que não nos interessa. Então é claro que eles vão espernear porque o ganho fácil, porque arbitragem é ganho fácil. Quero ver ganhando dinheiro na produção, fazendo empreendimento, montando uma fábrica, uma usina.

Está havendo uma mudança?

- Temos que perceber esta mudança que está ocorrendo. E a mudança na poupança tem a ver com isso. É um cenário em que é mais difícil ganhar dinheiro no mole, fazendo aplicações financeiras. E continua havendo ganhos, até maiores que em outros países, mas agora você tem que olhar para outras formas de investimento. Tem, por exemplo, em vez de fazer um fundo de renda fixa, ir atrás de debênture de uma empresa, que é uma aplicação meio financeira e meio produtiva. Daqui a pouco vai ter muita debênture de infraestrutura disponível para os aplicadores.

Mas este é um mercado que ainda não pegou.

- Demora um pouco mas vai pegar.

A debênture para infraestrutura não saiu ainda. Está na CVM.

- Não está na CVM. Os ministérios são os quem têm que lançar.

A Tietê está na CVM esperando oportunidade da oferta há um mês e pouco.

- Então vocês precisavam me avisar que aí eu pressiono a CVM.

O sr está ironizando.

- Não estou ironizando. É que são muitas coisas ao mesmo tempo.

Vai ter estímulo especial para debêntures?

- O estímulo é baixar as taxas para aplicações de renda fixa e tudo mais. Isto está acontecendo. Estimula a Bolsa também. Portanto, estes que estão frustrados com o Brasil não estão vendo como vai ser dada uma evolução. Isso porque o Brasil vai poder crescer mais, estimular a atividade produtiva, estimular a atividade da bolsa, que funciona com os juros menores. Quando o juro é menor, você torna mais atrativos estes outros mercados, debêntures, mercado imobiliário...Por isso que a atividade econômica vai deslanchar.

É um desejo, ministro?

- Não é um desejo, aqui a gente faz realizar os desejos.

Verdade?

- A gente não vive só sonhando aqui. A gente sonha e realiza os sonhos. Essa é a diferença.

Os desejos de quem?

- Os desejos do governo, da população brasileira, dos empresários. A população tem o desejo que continue aumentando o emprego e o salário, os empresários querem aumentar a demanda e a produção e investimento.

Mas não dá para agradar todo mundo.

- Você sabe que nós até estamos agradando! Só não dá para agradar esses setores que estão falando... não estamos contentes porque está baixando as taxas de juros.

Um pouco antes das mudanças da poupança houve comunicados de consultorias dizendo que já não haveria ganho fácil no Brasil.

- Olha só. É isso mesmo. Mas este é o verdadeiro capitalismo. O capitalismo de verdade não tem ganho fácil. Não é? Ganho fácil é um capitalismo distorcido.

O senhor vai tirar o IOF sobre operações de derivativos?

- Não há nenhum.... Não estamos trabalhando nisso.

Por que precisa permanecer?

- Porque com esse IOF nós limitamos muito a ação especulativa no mercado de derivativos, que tem uma função econômica importante, que é fazer hedge e, ao mesmo tempo, ela é usada para alavancagem especulativa como foi no derivativos. Então nós inibimos esta atividade, que era contra o dólar e a favor do real valorizado. Isso nós inibimos. Hoje, a posição vendida e posição comprada está bem limitada.

Então, já não fez a ação que tinha que fazer?

- Eles queriam que tirasse os 2% e nós tiramos. Digamos a compra e venda de ações, o IPO não paga este IOF. Só derivativos. Agora, não tem milagre. Todas as bolsas no mundo estão caindo neste momento. E mais ainda quem tem commodities. Nossa bolsa tem forte pressão das commodities, quando cai o preço, a bolsa cai, mas depois recupera, porque fica tudo barato.

Então é hora de comprar no Brasil?

(Não responde. Só ri.)

E a briga do governo para reduzir crédito. O sr acha que os bancos oficiais ainda precisam ser mais ofensivos?

- Olha, nesta área a filosofia é a mesma. Portanto, nós queremos ver competição e num mercado tão concentrado como o nosso, como temos bancos públicos, os bancos públicos vão ajudar a competição. Além do que tem uma questão estrutural que ninguém leva em conta. O Brasil antigamente era um país com risco elevado, que tinha instabilidade, que tinha uma série de problemas que justificavam taxas de juros elevadas, ganhos elevados, spreads elevados, mas nós não temos mais este cenário. Então não se justifica. Não pode ser o Brasil do ano de 2012, com a solidez, estabilidade, o risco caiu, praticando taxas de juros menores. Antes, não tínhamos reservas, devíamos para o FMI, havia instabilidade fiscal, déficit. Então não dá para ter o risco elevado.

Por que não?

- Se for ver o Credit Default Swap, que é indicador aceito, o Brasil está com 140 base points. A França está com 215, a Itália 445. A Espanha 535. Essa conta qualquer economista faz. Isso aqui é o risco do Brasil exercido pelo investidor. O mercado está praticando isso. Ele dá uma cobertura para título soberano no Brasil só com 140 base points e exige o triplo para a Itália. Ou seja, ele acha que a dívida brasileira é mais sólida do que a dívida da França, Itália, Espanha, Portugal.

O sr tem conversado com banqueiros diretamente. Como tem sido?

- Eu acho que os banqueiros estão caindo na nova realidade e irão se adaptar as novas condições da economia brasileira.

O governo precisa dos banqueiros e os banqueiros precisam do governo.

- Exatamente. O setor financeiro tem uma função fundamental. Nós queremos que os bancos sejam fortes, tenham lucro, sejam sólidos. Agora, que deem crédito em condições adequadas à nossa situação. Não restrinja o crédito, não exagerem nas taxas.

Não tem exagero do governo na redução do spread? Não vai aumentar a inadimplência?

- Nós passamos por 2009 sem nenhum banco quebrado. O governo tem os pés plantados no chão. Este é um governo muito prudente. Quando achamos que o crédito estava exagerado, eu falei publicamente. Em 2010, eu chamei todos os banqueiros e falei: vocês não acham que está crescendo muito este crédito? Estava crescendo 30%. Então falei vamos crescer menos o crédito. Nós fomos muito prudentes. O governo é muito responsável aqui no Brasil. Tanto que nós desaceleramos a economia no ano passado. Podíamos ter deixado. Se tivéssemos deixado, a economia ia crescer mais que 2,7%. Por outro lado, poderia ter desequilíbrios e nós não queremos crescer com desequilíbrios. Por exemplo, faltar mão de obra, a inflação crescer mais que o limite da meta...

Mas estes riscos existem.

- Eles estão superados. A inflação está caindo em relação ao ano passado, a oferta de empregos diminuiu, não está crescendo como no ano passado, houve uma moderação geral. Nós queremos um crescimento sustentável. Então nós andamos com o pé no chão e com muita responsabilidade.

Por outro lado, o crédito não está reagindo.

Ele vai reagir. Você pode escrever aí, porque também não é assim e você aperta um botão e o crédito aparece. Até os bancos públicos se adaptarem as novas condições têm que fazer uma programação, tem que dar as ordens.

O juro caiu para sua conta?

- O meu juro nem caiu, nem subiu porque eu não pego dinheiro emprestado. Mas vai cair para muita gente. Já está caindo.

Então ministro no que depender do senhor o crédito não vai girar?

- Eu fico trabalhando aqui e não tenho tempo para gastar o dinheiro. Eu nem pego dinheiro emprestado, nem tenho cheque especial. As vezes acontece você fica lá por cinco ou dez dias. O ruim é pegar este crédito por meses. O sujeito que entra no crédito pagando 130%. Isso é um absurdo. Isto está caindo. Todas as linhas de crédito vão cair. Isso aqui não é um passe de mágica, não é boia de salvação. É imoral você pagar 130% de juros por ano. Não sei se isso acontece em algum outro país. Temos que consertar isso. Vão cair. Nós podemos voltar aqui, daqui um mês e olhar os bancos públicos. Se olharmos também os bancos privados, também estarão reduzindo suas taxas.

O que os banqueiros disseram?

- Eles disseram que vão reduzir, que estão reduzindo taxas. Aliás já anunciaram. Hoje tem anúncio do Itaú nas páginas dos jornais, Bradesco anunciou, Santander. Eu vejo anúncio de todo mundo. Vão reduzir porque isso faz parte da concorrência. Os bancos públicos vão fazer. Podem me cobrar. Voltem aqui daqui um mês que a gente vai pegar as estatísticas do BC e vamos ver: Aumentaram o crédito e baixaram as taxas sem perder a solidez do sistema. Em 2008 e 2009, quando a situação era muito mais crítica, nós fizemos isso e o BB diminuiu a inadimplência, aumentou o volume de crédito e aumentou o lucro. Essa fórmula já foi testada. Não tem novidade. Ela funciona.

A orientação é reduzir a Selic sem olhar inflação mais a frente?

- O único debate que não tem é em relação a Selic. O governo não debate Selic. Está é uma questão do Copom, do BC. Aquilo que o BC achar...Nós podemos contribuir para criar as condições adequadas, que é a questão fiscal. Fazendo um resultado fiscal adequado, reduzindo a dívida pública. Isso todo mundo sabe que funciona, esta é uma verdade quase que universal. E tem a inflação que tem que ser mantida sob controle.

Como o sr avalia a inflação de abril?

- Ela foi menor do que o igual mês do ano passado, do que abril de 2011. Portanto, são quatro meses consecutivos com a taxa menor que no ano passado. Também nos 12 meses. Pode usar as duas contas. A inflação em 12 meses com este IPCA deu 5,1% contra 6,5% do ano passado. Portanto, ela está menor. Inflação é assim mesmo, tem mês que tem uma concentração. Teve uma concentração especial dos fumantes.

O governo aumentou o preço do cigarro...

- Os fumantes podiam não ter aceito aquele aumento. Dizer eu não vou comprar esse cigarro. Subiu 15%. Esse aumento impacta 0,12pp. Teve também o feijão, 0,03pp, se não me engano, e empregada doméstica, 0,7pp.

Tem pressão de alta no ano que vem?

- Nós mal estamos vivendo este ano e já tem gente dizendo que a inflação está caindo, mas vai subir o ano que vem. Eu não entendo este raciocínio. Ele é completamente ilógico.

É possível fechar o ano com a inflação no centro da meta?

- Isso vocês têm que perguntar para o Banco Central. Eu não sei qual é trajetória que eles estão pensando, mas o importante é que a inflação está caindo em relação ao ano passado. Ela é representativamente menor e nós ainda temos a economia pouco aquecida, as commodities caindo no mercado internacional e o petróleo também caindo. Portanto, as pressões são baixistas.

Mas o sr já anunciou um aumento da tributação de bebidas? A bebida terá um impacto passageiro também? Quando será o aumento da tributação de bebidas?

- Será preciso um período de noventena. Quando faz a Medida Provisória (MP), só poderemos aumentar 90 dias depois. Se a MP sair em maio, o aumento só ocorrerá em setembro.

O governo pode voltar atrás na decisão. O setor pressiona para que não haja o aumento?

- O governo não vai voltar atrás. O governo vai reajustar a tarifa de bebidas. Pode escrever isso.

  

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Editor: Marcos Antonio Moreira
Diretora Executiva: Kelen Marques