Brasil quer suavizar sanção contra o Paraguai 26/06/2012
- Natuza Nery, Valdo Cruz e Eliane Cantanhêde - Folha de S.Paulo
O governo da presidente Dilma Rousseff é a favor de "castigar" o governo paraguaio, mas não "trucidá-lo", dizem diplomatas brasileiros.
Inicialmente, propostas de punições muito severas ao vizinho estão descartadas. A posição contrasta com o tom da Argentina.
Representantes da gestão Cristina Kirchner vem fazendo consultas informais ao Uruguai e ao Brasil sobre as chances de aprovar o ingresso da Venezuela no Mercosul nesse fim de semana, segundo a Folha apurou com autoridades brasileiras. O Paraguai é o único sócio do Mercosul que não havia aprovado a entrada da Venezuela.
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Embora não oficial, a suspensão já surtiu efeito. Na segunda (25), o Paraguai foi excluído da negociação, por videoconferência, de acordo tarifário entre o Mercosul e a China.
A extensão das sanções ao país hoje governado por Federico Franco será definida na reunião entre os integrantes do Mercosul e os demais membros da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), entre quinta (28) e sexta-feira (29).
Há quatro gradações de sanções em debate: 1) expulsão; 2) suspensão sem afetar as relações comerciais; 3) rompimento dos projetos de integração física e de cooperação (agrícola, por exemplo); 4) bloqueio de financiamentos (o do BNDES, por exemplo).
Setores do governo Dilma defendem que a exclusão temporária do Paraguai se dê apenas nas instâncias políticas do bloco.
Ou seja: que Franco não seja convidado para reuniões, mas sem privar a economia paraguaia das tarifas reduzidas do bloco. Interlocutores do governo Dilma asseguram que nada muda nas relações bilaterais. Até mesmo o livre trânsito de cidadãos sem exigência de passaportes continuará valendo.
Não está nos planos do Brasil romper projetos de infraestrutura nem mudar regras no fornecimento de energia a partir da hidrelétrica binacional de Itaipu.
Lugo vinha num processo crescente de desgaste. A Folha teve acesso exclusivo a telegramas diplomáticos enviados desde o ano passado dando conta da debilidade dele.
"Lugo tem tido dificuldades para administrar sua heterogênea coalizão", informou o embaixador Eduardo dos Santos. No Planalto, porém, há incômodo quanto ao fato de a presidente ter se surpreendido com a destituição.
O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, defendeu ontem que a Unasul e o Mercosul façam uma "ação forte de não aceitar" o processo.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou à Folha considerar o impeachment de Lugo um "golpe".
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*Colaboraram FLÁVIA FOREQUE, KELLY MATOS e BERNARDO MELLO FRANCO
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Comentário de José Gomes (jotagomt10@gmail.com) Em 26/06/2012, 13h53
GOLPE PARAGUAIO
Ainda que baseado na Constituição da República del Paraguay, está claro que o processo de deposição do presidente Lugo foi um "golpe de estado". Não houve chance do presidente defender-se. E mesmo se o tivesse feito, sua defesa seria ignorada ante a sanha visível que nutria a maioria parlamentar em apea-lo do poder. Lugo foi vítima da própria ingenuidade de achar que poderia governar o país sem fazer concessões à direita e as elites que sustentaram os 40 anos de governo "colorado". A ordem para desocupar a fazenda onde ocorreu o massacre de 10 camponeses e seis policiais não foi dada por Lugo, mas por um juiz a fim de desobstruir a propriedade de um SENADOR DA OPOSIÇÃO. Como se vê, não há lógica em condenar Lugo pelo episódio. Outra medida ilógica é a associação que a direita tenta fazer de que o presidente deposto incentivava e permitia as ações dos "carpelos", os sem-terra paraguaios. A posição de Lugo sempre foi a de buscar uma saída negociada para a excução de uma reforma agrária, ainda que de alcance limitado, no país. Se apoiasse as expropriações pura e simples e a entrega da terra, seja de brasileiros e outros estrangeiros, seja as de grandes proprietários paraguaios, Lugo já o teria feito antes nestes três anos em que governou o país. Por trás da deposição do presidente parece estar, na verdade, uma manobra muito bem articulada e um altissimo investimento financeiro das elites "colorada" para retomar o poder no Paraguay. Isso poderá ser confirmado nos próximos meses. Basta esperar, saboreando um tereré, para ver acontecer.