Peço a Dilma que ao menos tente me salvar, diz condenado à morte 26/06/2012
- Ricardo Gallo - Folha de S.Paulo
Sob ameaça de ser fuzilado na Indonésia em breve, Marco Archer Cardoso Moreira, 50, diz ter esperança de que a presidente Dilma Rousseff consiga evitar a sua morte.
"Peço para ela ao menos tentar", disse, na madrugada de ontem, por telefone, em entrevista exclusiva à Folha. "A única pessoa que pode me salvar é ela."
Preso em 2003 ao tentar entrar na Indonésia com 13,4 kg de cocaína, Archer foi condenado à morte em 2004 -- e já perdeu todos os recursos na Justiça. Ele está na prisão de segurança máxima de Pasir Putih ("Areia Branca"), a 430 km de Jacarta.
PUBLICIDADE
Na semana passada, um procurador disse ao "The Jakarta Post" que ele será executado nas próximas semanas, o que sinaliza que o presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono, rejeitou o pedido de perdão -sua última chance de escapar.
O brasileiro disse não ter medo, mas espera que a situação seja revertida.
Enquanto não há definição sobre seu caso, o cenário que lhe soa mais positivo é continuar preso a 15,4 mil km de casa, como está há oito anos, sem perspectiva de voltar ao Brasil. O pior, encarar a morte.
A Folha falou com ele em três ocasiões: a primeira, no sábado à noite; as outras duas, na madrugada e na tarde de ontem, em 40 minutos de conversa, relatada a seguir:
Oito anos depois de você ser condenado, o procurador disse ao "The Jakarta Post" que a sua execução seria em breve. Como você reage?
- Eu reajo... [silencia, pensativo]. O que eu posso fazer?
Alguém te avisou sobre a possibilidade de execução?
- Não. Ninguém me avisou de nada. Sei que saiu na imprensa aqui só. Mas, faz um mês, veio um procurador aqui e me fez assinar um papel sem timbre.
Você assinou um papel sem falar com o advogado?
- Assinei. Mas não valia nada. O advogado da embaixada [brasileira em Jacarta] disse que, se foi assim mesmo, o papel não tem valor jurídico nenhum. Outros presos também assinaram.
Mas isso não te preocupa? Digo, pode ter sido baseado nisso que o procurador declarou que você seria executado...
- Eles me disseram que não tinha valor jurídico.
O procurador ainda brincou perguntando o que eu queria como último pedido -- e pedi três garrafas de Chivas [uísque] e duas mulheres. Falei de brincadeira!
E você tem medo?
- Medo, não... Tenho um medinho. Qualquer um que está aqui pode ser executado a qualquer hora.
E tem bastante gente que foi presa antes de mim e que está na minha frente ainda... Só quem sabe é Deus. E tem como evitar isso.
Quem pode evitar?
- A presidente Dilma. A única pessoa que pode me salvar é ela. Peço para ela ao menos tentar me ajudar. De presidente para presidente, talvez ela resolva. Quem sabe ela resolve e consegue abaixar a minha pena para prisão perpétua. Eu peço ajuda também ao presidente [da Indonésia] Susilo. Ele é muito poderoso.
Mas, se o procurador falou que você seria executado, significa que o presidente da Indonésia rejeitou seus pedidos de clemência [feitos em 2006 e 2008]...
- Não sei... Aqui na Indonésia tem muita pressão para punir traficante. Mas ele reduziu a pena de uma australiana [Schapelle Corby, que teve pena reduzida em cinco anos; ela não havia sido condenada à morte].
Você sabe como é a execução?
- Houve dois nigerianos aqui que foram executados [em 2008, os dois últimos a morrer na Indonésia].
E como foi?
- O comandante da prisão veio e falou para eles que tinha uma visita. Quando eles foram até os policiais, agarraram eles e levaram para fuzilar.
Um deles tentou fugir, mas não adiantou. Aí, à noite, eles foram executados.
Avisaram na hora?
- Avisaram um mês antes. A execução foi aqui na ilha mesmo.
Deu para ouvir o tiro?
- Não.
E como você está?
- Bem... Hoje vieram dois psicólogos aqui me entrevistar. Fizeram um questionário, perguntaram se eu estava com depressão. Levou uma hora para preencher um questionário. Eu não tenho nada.
O que você diria para quem está torcendo por você no Brasil?
- Que nunca percam a esperança, que eu vou aguentar, se Deus quiser.