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Atleta Oscar Pistorius finalmente começa a viver seu sonho olímpico
02/08/2012 - Jamil Chade - O Estado de S.Paulo

Foi em Londres em 1908 que o pai do movimento olímpico, Barão Pierre de Coubertin, fez a declaração que marcaria o espírito dos Jogos: "O que importa não é vencer, mas competir". Poucas vezes esse princípio foi tão válido como no caso de Oscar Pistorius. Aos 25 anos, o atleta sul-africano entrará para a história no próximo sábado ao se tornar o primeiro ser humano a competir nos Jogos Olímpicos com as duas pernas amputadas.

Após superar o preconceito, suspeitas, obstáculos legais e seus concorrentes, Pistorius, ou o "Blade Runner", entrará na pista de atletismo com parte de sua missão já conquistada. Mas não quer parar por ai. Sua meta é a de passar para as semifinais e, acima de tudo, convencer o mundo de que ele deve ser tratado como um atleta como qualquer outro. E vai além: diz que chegará ao pico de seu desempenho no Rio em 2016 e corre por um lugar na final em quatro anos.

"Só por estar aqui já atingi meu objetivo", disse. "Mas, assim que vi que estava classificado, uma pressão foi substituída por outra e agora o que quero é chegar até as semifinais e depois ir ao Rio em quatro anos e tentar chegar até a final", declarou.


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Pistorius teve suas duas pernas amputadas quando ainda tinha onze meses de idade. A recomendação dos médicos era de que a operação fosse realizada antes de que ele aprendesse a andar, para reduzir o trauma.

"Tive uma infância muito normal. Nunca vi diferença entre deficiência e habilidade", comenta o atleta. "Minha mãe gritava pela manhã antes da escola ao meu irmão: 'coloque o sapato' e para mim 'coloque a prótese' e não se fala mais nisso", contou. Foi dela que Pistorius levou parte de sua força. "Ela me dizia que os perdedores eram aqueles que não participam. Não aqueles que ficam por último", disse.

Nos anos que se seguiram, o sul-africano praticou vários esportes e, em 2003, após sofrer um acidente jogando rúgbi, teve de buscar uma nova modalidade. Os médicos sugeriram atletismo e, três semanas depois de começar a treinar, se deu conta que já havia quebrado o recorde paraolímpico. Sete meses depois, ganharia sua primeira medalha de ouro nos Jogos Paralímpicos de Atenas em 2004. Em 2008, em Pequim, deixaria a Paralimpíada com três ouros.

Mas, junto com a sensação que gerou pelo circuito, o sul-africano foi cercado por suspeitas e ataques. Pressionada por alguns atletas e treinadores, a Federação Internacional de Atletismo o proibiu de competir entre os atletas sem problemas físicos. O caso chegou ao Tribunal Arbitral dos Esportes que, após ampla investigação, concluiu que o sul-africano poderia competir, sob a condição de que utilizasse apenas a prótese que já dispõe, e não outras mais velozes ou mais leves.

"Essa prótese existe desde 1996 e outros atletas já a usavam. Se era uma vantagem, porque é que outros não conseguem fazer o mesmo tempo que eu?", questionou, lembrando que 70% dos atletas nos Jogos Paralímpicos usam o mesmo instrumento. "Alguns dizem que tenho vantagem por ter menos peso na perna e há um monte de teorias. Mas, se ela fosse tão incrível, como é que outros não teriam chegado ao mesmo resultado?", insistiu. "A verdade é que não há vantagens. Preciso usar meu corpo como qualquer um, tenho de me sacrificar, de me preparar. Para fazer 400 metros, tenho que trabalhar duro", disse ao Estado.

Sucesso. Sebastian Coe, presidente do Comitê Organizador dos Jogos, aposta no sul-africano como uma das sensações de público e em sua presença para colocar os Jogos na história do esporte. "A resposta das arquibancadas será incrível", disse o ex-corredor, lembrando que no centro de Londres crianças fizeram filas nesta semana para obter o autógrafo do atleta.

Ele garante que está "em ótimo estado físico" para competir no revezamento nos 400 metros e na prova individual. Mas afirmou que sua carreira não acaba em Londres. "Quero ir para o Rio em 2016. Será lá que estarei no pico de minha condição. Já estou ansioso para ir ao Brasil. Terei 29 anos e acredito que estarei melhor. Tenho muito trabalho para fazer até lá. Mas adoraria concorrer por uma vaga na final contra os melhores atletas do mundo nos 400 metros."

"Londres já está fazendo um grande trabalho ao sediar os Jogos. Mas estou certo de que o Rio de Janeiro estará à altura e pronto para um evento muito colorido em 2016", finalizou.

  

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