Gargalos ameaçam escoamento de grãos 04/08/2012
- Paula Moura e Venilson Ferreira - O Estado de S.Paulo
Os gargalos logísticos incorporados ao chamado custo Brasil, que comprometem a competitividade das exportações, serão o grande desafio para o escoamento da próxima safra brasileira de grãos. As primeiras estimativas são de plantio recorde de soja, que deve ser acompanhado pela expansão da área de milho de segunda safra, que é cultivado na sequência da colheita da oleaginosa.
Neste ano, mesmo com a quebra de 11% na produção de soja, o escoamento da safra retardou pela falta de berços para atracação nos portos, que provocam as tradicionais filas de navios. Como se não bastasse, as chuvas de junho contribuíram para atrasar os embarques de grãos.
A situação foi agravada pelas greves de caminhoneiros e servidores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Receita Federal. Na segunda-feira são os fiscais federais agropecuários que vão parar e dificultar o desembaraço de mercadorias e o trânsito de animais.
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O gargalo logístico limita o crescimento das exportações de milho, que poderiam ganhar parte dos mercados atendidos pelos Estados Unidos, que nesta safra terão menor disponibilidade do cereal, por causa da quebra provocada pela forte estiagem.
A frustração da safra americana favorece os agricultores brasileiros, pois a alta dos preços internacionais impulsionou as cotações internas, mesmo com a colheita de uma safrinha recorde de milho, estimada em 34,56 milhões de toneladas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Pela falta de condições nos portos, as perspectivas de exportação do cereal estão limitadas a 15 milhões de toneladas nesta safra.
Para o próximo ano existe o risco de ocorrer o "apagão logístico" há muito previsto por empresários, especialistas e produtores rurais, que cobram mais investimento governamental em infraestrutura. O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Carlo Lovatelli, prevê congestionamento nas rodovias, pois os caminhões não serão suficientes para transportar a safra.
Outra preocupação é com a armazenagem, pois a segunda safra recorde de milho precisa ser escoada para dar espaço para a estocagem da maior produção brasileira de soja da história, estimada em mais de 80 milhões de toneladas, que deve superar pela primeira vez a americana.
O assessor técnico da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Lucas Galvan, já antevê problemas com a armazenagem da próxima safra no Estado, cuja capacidade de estocagem é de 7,2 milhões de toneladas.
"A safrinha de milho passou de 3,3 milhões de toneladas para 5,5 milhões de toneladas. Se o milho não for escoado até a colheita da soja haverá problemas de armazenagem, pois a área plantada com a oleaginosa deve avançar 10%."
Ele lembra que Paraná e Mato Grosso também colherão excedentes de milho e o consumo doméstico não conseguirá absorver o excesso de produção. Ele alerta que a logística precisa funcionar para não haver atrasos e consequente alta nos custos.
Em Mato Grosso, os produtores estão finalizando a segunda safra de milho de 14 milhões de toneladas, mais que o dobro da anterior, e já compraram quase todos insumos para plantio da soja, que começa em setembro.
A área de soja em Mato Grosso deve crescer de 500 mil a 1 milhão de hectares. "É matematicamente impossível armazenar e transportar as duas safras", diz Rui Prado, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato).
Rui Prado comenta que a maior movimentação de milho para os portos de Paranaguá e Santos já provocou aumento de 15% no valor do frete nas últimas semanas. Ele tem a esperança de que a BR-163 (Cuiabá-Santarém) esteja "trafegável até o ano que vem", pois seria uma alternativa para escoamento de 30% da produção mato-grossense pelo porto de Santarém (PA).
Pelos cálculos da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), o escoamento da produção pela BR-163 possibilitaria redução de 34% dos custos com frete na rota Sorriso (MT) ao porto de Itaituba (PA), e depois em barcaças até os terminais de Santana (AP).
No Paraná, Nelson Costa, superintendente da Organização das Cooperativas do Estado (Ocepar), acredita que, caso a expansão da produção de soja se concretize, haverá mais problemas logísticos. "Se o volume for alto e o clima favorável, pode haver escassez de caminhões."