Inflação de 12 meses pode ir a 6% em junho 13/10/2012
- Márcia De Chiara - O Estado de S. Paulo
Economistas consideram o cenário inflacionário "delicado" e acreditam que os índices ficarão pressionados até meados do ano que vem. Em junho de 2013, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a medida oficial de inflação, pode acumular alta de 6% em 12 meses, preveem. Até o mês passado, o indicador tinha aumentado 5,28% em 12 meses.
"A inflação vai se acelerar até o primeiro semestre de 2013", prevê a economista da Rosenberg Consultores, Priscila Godoy. Essa também é a avaliação de Fábio Romão, economista da LCA Consultores.
Romão calcula que, depois do pico de 6% atingido em junho de 2013, o IPCA em 12 meses perderá o fôlego no segundo semestre e fechará o ano que vem em 5,1%. Isso porque a forte pressão exercida pelos alimentos no primeiro trimestre deste ano, quando a alta chegou a 2,15% no período, vai sair da conta do IPCA acumulado em 12 meses.
PUBLICIDADE
"A inflação vai incomodar até meados de 2013, mas é preciso qualificar essa alta", diz o economista. Boa parte dessa elevação, na sua avaliação, é choque de oferta, provocado pela subida nos preços das commodities. "Não se trata de choque de demanda", diz Romão.
Ele argumenta que dificilmente os preços dos produtos agrícolas vão repetir o cenário de restrição de oferta, provocado pela seca nos Estados Unidos e excesso de chuvas no Brasil, como ocorreu este ano.
Fabio Silveira, sócio da RC Consultores, projeta crescimento da inflação medida pelo IPCA nos próximos meses em razão do choque agrícola que ainda não foi totalmente absorvido pelos índices de preços ao consumidor. Porém, observa que essa pressão de preços das commodities já começou a enfraquecer nas cotações do atacado.
"A inflação de setembro foi fruto essencialmente da alta de preço agrícola no atacado ocorrida em julho. A inflação de dezembro será fruto essencialmente da baixa de preço agrícola no atacado que ocorre hoje", diz Silveira.
Além do alívio esperado dos preços agrícolas na inflação ao consumidor, Romão observa que, no ano que vem, a redução da tarifa de energia elétrica pode atenuar a alta da inflação. Originalmente a sua projeção era que o IPCA de 2013 atingisse 5,3%. Mas, levando em conta o impacto negativo de 0,70 ponto porcentual no indicador proporcionado pela queda na energia elétrica, e que a qualquer momento do ano que vem deve ocorrer um aumento nos combustíveis, com reflexo positivo de 0,5 ponto porcentual no indicador, o IPCA de 2013 ficará, nas suas contas, em 5,1%.
Romão considera também outros fatores. Um deles é o menor reajuste do salário mínimo, de 2% real no ano que vem, bem menor do que os 7,5% deste ano, o que deve atenuar a pressão inflacionária. Ele ressalta que a massa de salários deve ter um crescimento menor em 2013. Nas suas contas será de 5,3% em 2013, ante 5,8% deste ano.
Neste caso, o salário mínimo ajuda. Mas também o fato de várias empresas estarem hoje fazendo uma espécie de "poupança de trabalhadores", para estarem preparadas quando o ritmo de atividade ganhar impulso, deve fazer com que o número de contratações não tenha um grande crescimento e, portanto, a massa salarial não seja tão pressionada. "As empresas vão usar os trabalhadores que hoje estão subutilizados", explica Romão.
Contraponto. Já os economistas Newton Rosa, da SulAmérica, e Rafael da Costa Lima, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe, têm avaliações diferentes.
Para Rosa, a inflação inspira cuidados. Ele projeta um IPCA de 5,6% para este ano e de 5,5% para 2013, com viés de alta. Na análise do economista, o fato de a economia ter desacelerado e a inflação ter se mantido em patamares elevados mostra que o PIB potencial diminuiu por causa da queda no investimento. Ele não acredita que as empresas estejam fazendo uma "poupança de trabalhadores" para estarem preparadas quando a economia se acelerar. Pela sua análise, se a economia voltar a crescer vigorosamente, a inflação desanda.
Segundo Costa Lima, da Fipe, o cenário para 2013 é delicado porque a inflação acumulada em 12 meses começará o ano com um piso muito elevado, de 5%. Por isso, numa conjuntura de aceleração da atividade, fica difícil aliviar as pressões.