Copersucar compra grupo dos EUA e vira líder mundial em venda de etanol 06/11/2012
- André Magnabosco - O Estado de S.Paulo
Os dois maiores mercados mundiais de etanol, Brasil e Estados Unidos, serão comandados por uma empresa brasileira. A Copersucar, cuja origem foi uma cooperativa de produtores de cana-de-açúcar, açúcar e álcool criada em 1959, anunciou ontem a conclusão de um acordo com a norte-americana Eco-Energy, a partir do qual se tornará líder mundial de comercialização de etanol.
A companhia brasileira realizará um investimento - cujo valor não foi divulgado - na Eco-Energy e, com isso, se tornará o controlador da empresa, que detém 9% do mercado de etanol dos Estados Unidos.
Maior comercializadora de açúcar e etanol do Brasil, a Copersucar vai incorporar uma trading com receita anual de aproximadamente US$ 3 bilhões e oferta global de 4,5 bilhões de litros de biocombustíveis, o que lhe garantirá a condição de terceira maior empresa do setor nos Estados Unidos. O grupo brasileiro, por sua vez, projeta comercializar 4,8 bilhões de litros de etanol na safra 2012-2013 e atingir receita de US$ 7,5 bilhões (R$ 15 bilhões), número que também inclui a venda de açúcar.
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A meta de crescimento da Eco-Energy é ambiciosa, segundo análise da própria Copersucar. O grupo norte-americano pretende dobrar a atual oferta de biocombustíveis para quase 10 bilhões de litros em um prazo de três anos. Para isso, porém, a companhia necessitava da injeção de recursos, situação equacionada a partir do acordo com a Copersucar.
O grupo brasileiro, formado por 48 usinas produtoras que, em 2008, decidiram criar a Copersucar S/A, assumirá o controle da Eco-Energy a partir desse aporte de recursos. De acordo com o presidente do Conselho de Administração da Copersucar, Luís Roberto Pogetti, o acerto não incluiu a aquisição de ações dos atuais controladores da Eco-Energy, mas sim a injeção de recursos e consequente diluição desses acionistas no capital da empresa. O efeito prático da operação, porém, é idêntico ao de uma aquisição.
Investimentos
Capitalizada, a Eco-Energy deverá realizar investimentos em logística e em outras áreas da operação, além de firmar novas parcerias locais. Esse modelo é um dos atrativos do negócio, que ainda permite à Copersucar ter acesso direto a fornecedores e clientes instalados nos Estados Unidos. "Passamos a contar com uma oferta que nenhuma trading do mundo tem. De imediato, passamos a ter uma mitigação de riscos", afirmou Pogetti. A explicação está na forte presença no mercado de etanol produzido com cana-de-açúcar (Brasil) e milho (Estados Unidos), "Falamos de duas regiões climáticas bastante distintas", complementou.
A operação deverá ser aprovada pelas autoridades regulatórias norte-americanas em meados de dezembro e, assim que for concluída, é esperado que a Copersucar divulgue detalhes adicionais do acordo. A princípio, a empresa brasileira se limitou a informar que a estruturação financeira da transação será viabilizada em um modelo de project finance, no qual o próprio projeto é utilizado como garantia do financiamento. "É um financiamento casado com a capacidade que o investimento tem de gerar retorno, de forma que não afetará o andamento da vida operacional da Copersucar no Brasil", afirmou Pogetti.
Ao assumir o controle da Eco-Energy, a Copersucar ganha musculatura para retomar o antigo sonho de ingressar no mercado de capitais. O momento, porém, não permite à companhia almejar uma eventual abertura de capital no curto prazo, segundo o executivo. Da mesma forma, a presença mais efetiva da Copersucar no mercado internacional coloca a companhia em uma posição de potencial consolidadora do setor. Perguntado sobre o interesse em novas aquisições ou parcerias, Pogetti destacou que a companhia brasileira está atenta a oportunidades.
A despeito de eventuais operações desse modelo, a Copersucar mantém planos arrojados de expansão no Brasil. A companhia planeja chegar a 2017 com uma oferta de 8 bilhões de litros de etanol, o que, somado à capacidade futura da Eco-Energy, elevaria a oferta da Copersucar para quase 18 bilhões de litros. Atualmente, com oferta de aproximadamente 10 bilhões de litros, Copersucar e Eco-Energy detêm aproximadamente 12% do mercado mundial de etanol.