O futebol paulista olha para Presidente Prudente à espera de um milagre que possa salvar um de seus gigantes. O futebol brasileiro olha para Presidente Prudente na expectativa de que o Fluminense possa se consagrar como o campeão brasileiro.

Bola por bola, time por time, a agonizante esperança verde deve ser a última a morrer. Não bastasse a diferença desproporcional para as tradições doPalmeiras e do Flu, acrescente-se o desespero alviverde diante da frieza tricolor.

Humilhado também pela previsível goleada imposta pela nossa caricata Justiça esportiva, o medo de perder parece torpedear a necessidade de vencer, embora o futebol seja capaz de tudo, até permitir que o lanterna ganhe do líder, como aconteceu com o próprio time carioca, em Volta Redonda, contra os atleticanos de Goiás. Mas ali jogavam os favoritos destacados, e relaxados, contra os franco-atiradores atrás de pregar uma peça.


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Hoje não.

Hoje jogam os campeões virtuais em busca de consolidar o que fizeram por merecer contra os virtuais rebaixados à procura de manter a teimosa chama da salvação, por mais que possa ser apenas a que prolongue o sofrimento.

O próprio Fluminense passou por situação parecida três anos atrás e se safou, mas, para o raio do futebol cair duas vezes no mesmo lugar, é preciso buscar fenômenos na Vila Belmiro.

Verdade que, para o tricolor carioca ser campeão, será preciso que o Vasco não perca, contra o Galo, sua sétima partida seguida, para o que conta apenas com a lei das probabilidades.

Outro tricolor, o São Paulo, joga um clássico de interesse mais nacional que estadual, porque à procura de ficar a só um ponto de diferença do Grêmio e, talvez, a dois do Galo, o que permitirá sonhar com o vice-campeonato brasileiro e a vaga direta na Taça Libertadores.

Em jogo que reúne a maior soma de pontos na rodada, o interesse pelo que os dois times possam mostrar se resume ao aspecto técnico, porque, nele, o papel do drama é secundário, inversamente proporcional ao duelo entre Barcos e Fred.

Seja como for, quem gosta de futebol está prestes a viver um domingo para torcedor algum menosprezar, pois, como diria o poeta andaluz Garcia Lorca, às cinco em ponto da tarde, não faltarão emoções.

Palmeiras e Fluminense já vibraram com títulos em 2012. As conquistas hoje vivem na penumbra imposta pelas emoções que os clubes vivem neste Brasileiro.

Os cariocas, campeões estaduais em maio, experienciam um frenesi: vibraram com os gols de Fred, ficaram aliviados com as defesas de Diego Cavalieri e celebraram as vitórias que levaram o time a fazer uma campanha histórica. Agora, torcem pelo terceiro troféu da Série A.

Os paulistas, laureados com o título da Copa do Brasil em julho, viram o drama aumentar rodada a rodada. As seguidas derrotas se somaram à queda de Luiz Felipe Scolari e à proximidade com a volta à Série B dez anos após o último rebaixamento.

Na tarde deste domingo, em Presidente Prudente, os dois clubes fazem, na 35ª das 38 rodadas previstas nesta edição do Brasileiro, a primeira decisão de título do torneio.

O Fluminense, porém, é o único que pode se sagrar campeão. Para isso, basta sair de campo com a vitória e torcer para que o Atlético-MG não derrote o Vasco.

Caso empate, terá de torcer para que os mineiros percam e para que o Grêmio não vença o São Paulo. Se uma das hipóteses vingar, a equipe poderá levantar a taça -- e fará isso de forma única.

As últimas quatro edições da Série A foram decididas somente na rodada derradeira. O São Paulo de 2007 foi o último a ganhar o título brasileiro de forma antecipada.

Mais: a pontuação do Fluminense (73 pontos) já é maior do que a de três dos seis campeões desde que a primeira divisão passou a ter 20 clubes, em 2006.

Com 71,5% de aproveitamento, o time caminha para brigar pela melhor campanha da história dos pontos corridos, que pertence ao Cruzeiro, vitorioso no primeiro ano do formato, em 2003, com 72,5% dos pontos possíveis.

"Tomara que a gente consiga ser campeão já neste domingo [hoje]. É bom para tirar esse peso logo das costas", disse Wellington Nem.

A final para o Palmeiras tem um gosto amargo. Seu único troféu é continuar na primeira divisão.

A possível queda da equipe também entrará para a história. Se rebaixado, o Palmeiras será o primeiro dos 12 grandes clubes brasileiros a cair duas vezes neste século.

Sua campanha neste ano também é pífia: com 32,3% dos pontos ganhos, só tem aproveitamento melhor do que de um gigante na era dos pontos corridos, o Grêmio de 2004, que fez 28,2%.

"Vestimos uma das maiores camisas do futebol, não tem como não ter motivação", afirmou o goleiro Bruno.

*Marcel Rizzo e Rafael Reis - Folha de S.Paulo

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