Produtores reclamam de embargo alarmista à carne brasileira 15/12/2012
- BBC
Representantes do setor agropecuário afirmam que restrições de China, África do Sul e Japão foram precipitadas.
Representantes do setor agropecuário brasileiro ouvidos pela BBC Brasil em Moscou consideram que a decisão da China, da África do Sul e do Japão de decretar um embargo sobre a carne bovina brasileira foi ''alarmista''.
A China e a África do Sul anunciaram na quinta-feira o embargo de carne bovina brasileira, após ter sido encontrado um foco da proteína da vaca louca em um lote de carne proveniente do Paraná. O Japão já havia anunciado um embargo de carne brasileira anteriormente, pelo mesmo motivo.
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As ações desses países, na opinião de João de Almeida Sampaio Filho, vice-presidente de Relações Exteriores do Grupo Marfrig, um dos maiores frigoríficos do Brasil, são ''alarmistas, desnecessárias''. Sampaio Filho foi um dos 80 empresários brasileiros que foram à Rússia junto com a delegação da presidente Dilma Rousseff, que faz uma visita oficial ao país.
O brasileiro Grupo Marfrig é uma das maiores empresas mundiais de produção de alimentos à base de carnes bovina, suína, de aves e de peixes. Sampaio Filho disse que o gesto dos três países foi uma precipitação, que não reflete uma ''ameaça real''.
''A OIE (Organização Mundial para Saúde Animal) disse que não era o caso de mudar o status brasileiro e nem de suspender nenhuma das operações brasileiras'', afirmou.
Na semana passada, um exame laboratorial conduzido pela OIE confirmou a proteína causadora da vaca louca em uma vaca morta em dezembro de 2010 em uma fazenda de Sertanópolis, no Paraná. Foi essa detecção que levou aos embargos dos três países.
Em entrevista à BBC Brasil, o veterinário Bernard Vallat, diretor-geral da Organização Mundial para Saúde Animal (OIE), disse que como o Brasil tem quase 200 milhões de cabeças de gado, ''não é um caso que vai mudar a avaliação da OIE sobre o país".
Outro representante do setor agropecuário presente em Moscou também fez críticas às nações que decretaram o embargo.
''Eu acho um absurdo eles terem feito isso, porque o Japão importa uma meia dúzia de latas, mas só que ele é meio traumatizado com o negócio da vaca louca", disse.
A África do Sul suspendeu a carne suína em 2005 e até hoje não voltou atrás. A África do Sul trata o Brasil muito mal'', afirmou Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipes).
A vaca que apresentou a doença no Paraná morreu em dezembro de 2010, com 13 anos, idade já avançada para o animal.
Desculpas
Nos primeiros exames, feitos no Brasil, não foi identificada a proteíncia que causa o mal da vaca louca, mas uma contraprova feita em junho teve resultado positivo. Uma terceira análise feita em um laboratório britânico no início de dezembro confirmou a doença.
Para o representante de produtores de suínos, como o Brasil é ''grande na agricultura, nas carnes, na soja, no açúcar, tem que dar uma retaguarda para isso, que é ter laboraratórios, vigilância sanitária, emergência sanitária, inspeção''.
''Ficou claro que está faltando tudo isso. Um exame não pode demorar um ano e meio. Sempre há desculpas, mas elas não estão sendo mais aceitas pelos compradores'', afirmou Camargo Neto.
Esperança em vão
A esperança dos produtores de que a Rússia poria fim ao embargo à carne proveniente de três Estados brasileiros - Paraná, Mato Grosso e Rio Grande do Sul - durante a visita oficial da presidente Dilma acabou não se realizando.
O embargo russo vigora desde junho do ano passado e não tem relação com o mais recente veto à carne brasileira em decorrência do mal da vaca louca, mas sim com supostas medidas sanitárias que as autoridades russas entenderam que os três Estados não vinham atendendo.
Em novembro do ano passado, o Ministério da Agricultura chegou a anunciar que o embargo russo estava encerrado. E que a única coisa que faltava para que a exportação para território russo fosse retomada seria que os produtores oferecessem certificados exigidos pelos russos.
Mas ontem, a própria presidente Dilma Rousseff desmentiu o anúncio do Ministério do Agricultura. ''Se eles anunciaram isso (o fim do embargo), eles se equivocaram.''
A carne suína brasileira também enfrenta um entrave imposto pela Rússia, mas de outra natureza. Os russos não querem importar carne que conte com o produto ractopamina, que estimula o crescimento de suínos e que é amplamente usada pelo setor no Brasil.
A substância é polêmica e foi banida em alguns países, como os da União Europeia, a Rússia e a China.
Os russos, além de exigirem que a carne vendida ao seu mercado não conte com a substância, também querem que o país apresente certificados assegurando a ausência da ractopamina.