Exigência de visto para EUA acabará em pouco tempo, diz embaixador 27/01/2013
- Cíntia Acayaba - G1/Brasília
O embaixador norte-americano no Brasil, Thomas Shannon, afirmou em entrevista ao G1 que "em pouco tempo" os brasileiros não necessitarão mais de visto para ingressar nos Estados Unidos. Segundo ele, a extinção da exigência do visto é "um objetivo dos dois governos".
Shannon concedeu a entrevista por telefone na quinta (24) para falar sobre as relações entre Brasil e Estados Unidos no segundo mandato do presidente Barack Obama, que começou na última segunda (21).
"Estamos trabalhando nisso [a extinção de vistos para brasileiros]. Isso é obviamente um objetivo dos dois governos, do Brasil e dos Estados Unidos. Mas é um processo, uma série de acordos que temos que negociar para chegar a esse ponto", disse.
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Na quinta, chegou de volta ao Brasil uma estudante de 16 anos que ficou quase dois meses retida em um abrigo para adolescentes em Miami depois de ter o ingresso no país negado devido à suspeita de que tinha viajado com o objetivo de obter trabalho.
De acordo com regulamentação do Congresso norte-americano, para que se anule a necessidade de visto a cidadão de um país é necessário que ao menos 97% dos pedidos sejam aprovados. No ano passado, a taxa brasileira estava em 96%.
“Neste momento, o Brasil está com algo como 95%, ou seja, quase está chegando a esse ponto. Em pouco tempo, vai chegar lá", disse Thomas Shannon.
Mas, de acordo com o embaixador, os dois governos têm que negociar uma série de acordos que tem a ver com os documentos de identidade, a integridade desses documentos e a habilidade de trocar informações sobre as pessoas que estão viajando entre os dois países".
Segundo ele, "essas negociações são sempre complicadas porque envolvem informação que geralmente está protegida por lei de privacidade dos dois países".
Em 2012, foi instalado em Belo Horizonte, mais um consulado dos Estados Unidos para a emissão de vistos e outros serviços diplomáticos. Um novo consulado deve ser aberto em Porto Alegre e, com isso, o país passará a ter seis consulados.
No anúncio das duas novas sedes, a secretária de estado americana, Hillary Clinton, disse que o objetivo era “facilitar a retirada de vistos e as viagens, derrubar algumas barreiras que foram criadas e continuar a promover o contato interpessoal".
Shannon considera que as relações entre Brasil e Estados Unidos estão consolidadas, mas disse que, em um “mundo dinâmico", é necessário reforçá-las.
"As relações entre o Brasil e os Estados Unidos são excelentes, mas no mundo dinâmico temos que trabalhar todos os dias para reforçar as relações e procurar novas áreas de cooperação e colaboração. Eu acho que o grande trabalho da presidente Dilma Rousseff e do presidente Obama é procurar essas novas áreas de cooperação e colaboração", disse.
Universidades
Entre as “novas áreas”,ele citou, primeiramente, a educação. "Precisamos construir os laços e vínculos entre as universidades brasileiras e americanas para facilitar o intercâmbio de estudantes e professores. Para realmente construir uma nova parceria na área educacional para o bem estar dos Estados Unidos e do Brasil", disse.
O embaixador vê o programa do governo brasileiro Ciência sem Fronteiras como um “excelente começo” para melhorar o intercâmbio entre as universidades. O programa dá bolsas para jovens brasileiros estudarem fora do Brasil.
Para Shannon, também é preciso que mais norte-americanos estudem e falem português e mais brasileiros estudem inglês.
"Temos que aumentar a quantidade de americanos estudando no Brasil e por isso precisamos melhorar o ensino de português nos Estados Unidos. Acho que é nesse sentido, melhorar o ensino de inglês no Brasil e o ensino de português nos Estados Unidos que vai ser essencial nessa relação educativa", afirmou.
As relações entre o Brasil e os Estados Unidos são excelentes, mas no mundo dinâmico temos que trabalhar todos os dias para reforçar."
O embaixador também disse que é preciso investir mais no comércio e no investimento com o Brasil. “Cada dia há mais interesse na economia [brasileira]”.
Como os Estados Unidos enfrentam a pior seca desde 1956, e a safra de grãos, a maior do mundo, foi prejudicada, Shannon disse que o Brasil deve passar a exportar mais soja ao país.
“O Brasil passou os Estados Unidos em produção de soja e deve exportar mais”, afirmou.
Política externa e doméstica
Sobre a política externa norte-americana, principalmente no Oriente Médio e no norte da África, Shannon afirmou que os Estados Unidos, neste segundo mandato de Obama, vão seguir “oferecendo suporte e apoio à democracia na área”.
“Essa região está mudando, estão em processo de evolução. Vamos seguir com o apoio à democracia. É preciso ver que a Al Qaeda está procurando novos locais para suas operações. Também vamos seguir com o combate ao terrorismo”, disse.
Para Shannon, mesmo com um mundo em transformação, as empresas norte-americanas ainda são líderes, e "o papel dos Estados Unidos vai ser ainda mais importante no mundo para reforçar os processos de paz e de diálogo", disse.
“Os Estados Unidos ficam, os outros [como China e Índia], chegam”, disse Shannon.
O embaixador afirmou que Obama implementou uma “reforma histórica na saúde pública” e vai manter essa proposta no segundo mandato.
"[A posse foi] primeiro uma celebração da nossa democracia e também uma celebração da continuidade. Os segundos mandatos sempre são diferentes dos primeiros mandatos, mas acho que o presidente Obama em quatro anos fez muita coisa. Salvou a economia dos Estados Unidos, implementou uma reforma histórica na saúde pública e também começou uma transformação e uma mudança nas nossas relações com o mundo e ele vai continuar isso com mais profundidade", afirmou.
Shannon disse que gostou do discurso de posse de Obama, na última segunda-feira (21), porque, segundo ele, mostrou os desafios nacionais e internacionais do país.
"Eu gostei muito do discurso. Ele ligou os desafios que temos na área doméstica e internacional e mostrou claramente que os Estados Unidos têm que procurar maneira de expressar os valores democráticos que são base de nossa cultura política", disse.