Evangélicos atuam forte também em Assembleias Legislativas 21/04/2013
- Lourival Sant’Anna - O Estado de S. Paulo
Em quase todas as Assembleias Legislativas do Brasil, o número de deputados evangélicos cuja atuação política é marcada por sua religião é bem maior que o de católicos, revela levantamento inédito do "Estadão".
Em todos os Estados, aqueles que se declaram católicos ainda são maioria da população.
Assim como no Congresso, que tem uma frente evangélica oficial, nas Assembleias também são os pentecostais que trazem suas convicções religiosas e morais para o topo de sua agenda.
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É um fenômeno relativamente novo no Brasil, que resulta de uma mobilização de diversas igrejas pentecostais – principalmente a Assembleia de Deus, a Igreja Universal do Reino de Deus e a do Evangelho Quadrangular – para ocupar espaço no Legislativo, na mídia e na paisagem das cidades, com seus templos espalhados pelo Brasil (e por muitos países do mundo).
Dos Estados mais ricos e populosos, o Rio de Janeiro é o que tem a maior fatia de evangélicos militantes em sua Assembleia Legislativa: 21%, próximos dos 29% de evangélicos na população.
A de São Paulo também é expressiva: 11% de deputados evangélicos militantes para 24% de pessoas que se declararam evangélicas no Censo de 2010.
A região Norte é a que tem as maiores porcentagens. A Assembleia Legislativa do Acre apresenta a maior proporção de evangélicos militantes do País: 33% – exatamente a fatia de evangélicos na população. A do Amapá vem em segundo lugar: 25% dos deputados buscam o voto dos evangélicos, que são 28% da população.
Rondônia, com 17% de deputados evangélicos militantes, e Pará, com 12%, vêm atrás. Mato Grosso do Sul, Paraná, Distrito Federal, Goiás e Espírito Santo também se destacam.
Todos os Estados têm evangélicos militantes em suas Assembleias. Em contraste, em 13 parlamentos estaduais a reportagem não detectou nenhum deputado cuja fé católica seja relevante na sua atuação política.
Apenas no Rio Grande do Norte e na Paraíba há a mesma proporção de evangélicos e católicos militantes: 4% e 1%, respectivamente.
Mesmo nesses casos, a desproporção é muito grande quando se compara com o contingente de fiéis nas respectivas populações: dentre os potiguares, 76% se declaram católicos e 15%, evangélicos; dos paraibanos, 77% são católicos e 15%, evangélicos.
No Estado mais católico do Brasil, o Piauí, não foi identificado nenhum militante dessa fé na Assembleia, que tem 6% de evangélicos engajados politicamente – para 10% de evangélicos na população.
Desse levantamento foram excluídos os deputados protestantes e católicos cuja religião é conhecida, mas não fica explicitada na sua busca por votos nem na sua atuação parlamentar.
Esses números, obtidos por meio de entrevistas com jornalistas que acompanham de perto o dia a dia das Assembleias, pesquisas nos currículos e no noticiário, não obedecem a critérios científicos.
Mas eles dão uma noção do trabalho sistemático de algumas correntes evangélicas, que se aglutinam em organizações como a Associação dos Parlamentares Evangélicos do Brasil (Apeb) e o Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e Política (Fenasp).
Em suas reuniões e documentos públicos, essas entidades afirmam abertamente que seu objetivo é ampliar o número de representantes evangélicos nos legislativos municipais, estaduais e federal.
Em apenas três Assembleias – de São Paulo, do Paraná e de Pernambuco – há bancadas evangélicas oficiais, como a do Congresso Nacional. Nas outras, os deputados militantes evangélicos atuam como grupo de forma pontual.
Por meio de articulações políticas mais amplas, eles conseguem resultados que transcendem seus números.
Feliciano
O exemplo mais recente da crescente atuação política dos parlamentares evangélicos foi a eleição de Marco Feliciano (PSC-SP) para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.
Pastor da Igreja Assembleia de Deus – Catedral do Avivamento, o deputado é acusado de racismo e homofobia por ter publicado declarações no Twitter sobre africanos e homossexuais.
Manifestantes protestam há mais de um mês na Câmara e em várias cidades pedindo a renúncia de Feliciano do cargo. Deputados contrários ao pastor abandonaram a comissão.