Reinauguração do Maracanã, com amistoso entre Brasil e Inglaterra, vai colocar Brasil sob os olhares do mundo todo. Em jogo, a reputação do país no exterior.
No Maracanã, palco da final da Copa do Mundo de 2014, a seleção brasileira recebe a Inglaterra, uma das candidatas à conquista da taça no ano que vem.
Nas arquibancadas - ou melhor, nas cadeiras numeradas do estádio totalmente remodelado -, dezenas de milhares de torcedores, incluindo turistas europeus, asiáticos e latino-americanos hospedados no Rio de Janeiro.
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Nos camarotes, autoridades e convidados, e nas tribunas, jornalistas vindos de todas as partes do planeta.
Para auxiliar o torcedor, um batalhão de voluntários, e de olho em todos os detalhes, os representantes da Fifa e do Comitê Organizador Local (COL).
Imagina na Copa? O bordão está prestes a ficar obsoleto. O Mundial começa já neste domingo, com o amistoso marcado para as 16 horas (de Brasília) e com o primeiro grande teste do Brasil em sua missão de receber a grande festa do futebol internacional.
O evento, é claro, ainda não merecerá a mesma atenção dos jogos do Mundial. Será uma prévia do ensaio geral do torneio, a preliminar do grande teste que será a Copa das Confederações - ou seja, ainda há tempo para corrigir as falhas e amenizar os problemas estruturais.
Que não reste dúvida, no entanto, de que o país estará sob os olhares de todos já a partir deste fim de semana, e que um possível vexame terá impacto direto na reputação brasileira no exterior.
A primeira amostra disso foi vista na sexta-feira, com a confusão judicial que determinou, num intervalo de poucas horas, a suspensão do amistoso e a posterior liberação da partida.
Para os britânicos, provocou espanto o fato de uma juíza ter anunciado que não havia condições de segurança no estádio e essa decisão ter sido revogada no mesmo dia, sem que nenhuma providência adicional tenha sido tomada.
O governo do Rio de Janeiro garantiu a segurança do público no amistoso, mas ficou claro até a véspera da partida que o Maracanã, de fato, está muito longe de sua conclusão. E isso se repete em todas as outras seis sedes da Copa das Confederações.
Em Belo Horizonte e Fortaleza, as primeiras cidades na lista de estádios entregues, falta melhorar o acesso às arenas e aperfeiçoar a gestão dos novos palcos.
Em Salvador e Recife, o tempo foi escasso para colocar os novos estádios à prova.
Por fim, há Brasília, a casa da arena mais cara do torneio. O Estádio Nacional Mané Garrincha custou mais de 1 bilhão de reais, mas só recebeu um jogo antes da abertura do torneio da Fifa.
Nessa partida, realizada na semana passada, o torcedor pagou até 400 reais para enfrentar filas intermináveis nos portões de entrada.
Muita gente perdeu o início da partida entre Santos e Flamengo, a despedida de Neymar do país (pelo menos com a camisa de um clube: neste domingo, ele estará no gramado do Maracanã; logo depois da partida, embarca rumo a Barcelona, para ser apresentado à torcida de seu novo time).
A impressão, até agora, não foi das melhores, infelizmente. Ao comentar os preparativos para o amistoso e a Copa das Confederações, o jornal britânico The Guardian citou a "longa lista de atrasos, controvérsias e constrangimentos" acumulada pelos anfitriões do torneio.
"A nação abençoada com o melhor futebol do mundo é também amaldiçoada pela corrupção e burocracia", escreveu o correspondente do diário londrino.
É na morosidade da máquina estatal, aliás, que está uma das grandes armadilhas para o sucesso da empreitada brasileira rumo a 2014.
Nunca nenhum outro país-sede teve tanto tempo para construir seus estádios e concretizar os projetos de infraestrutura necessários para receber os visitantes durante o megaevento.
Os quase seis anos que já se passaram desde a confirmação da entrega do torneio ao Brasil não foram o bastante, pasme, para terminar obras similares às que o próprio país conseguiu concluir em prazos muito menores - e com recursos bem mais precários - no passado.
Quase todos os projetos ligados à Copa são públicos, com dinheiro do contribuinte. Não faltaram verbas nem apoio institucional. E nem assim escapamos da confirmação do velho clichê do jeitinho brasileiro, que prefere procrastinar e improvisar ao invés de se organizar e evoluir.
Em junho de 1950, o Maracanã abriu seus portões ao público pela primeira vez com andaimes sustentando a cobertura, grades soltas e montanhas de cimento e brita espalhadas pelos cantos. A torcida circulou em meio a tijolos e tábuas.
Em junho de 2013, depois de uma reforma bilionária, o principal estádio brasileiro repete em sua reinauguração alguns dos mesmos problemas de seis décadas atrás.
Imagina na Copa? Não mais. A partir deste domingo, será preciso encarar a realidade - e trabalhar para melhorá-la.