Enem 2013: professores apontam temas para a redação 03/06/2013
- Raquel Carneiro - Veja.com
Parte essencial do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a redação costuma ser temida pelos candidatos que entendem que a boa avaliação de seus textos pode fazer a diferença na hora de conquistar uma das disputadas vagas no ensino superior. Para superar o famoso "medo da folha em branco", a combinação de treino contínuo e muita leitura é fundamental para, no dia da prova, executar a tarefa com confiança e tranquilidade.
"Os temas propostos para redação no Enem sempre têm caráter social, ou seja, são relacionados a questões coletivas da atualidade", diz a professora de redação Vivian D’Angelo Carrera, do Cursinho do XI. Por isso, a leitura de notícias em jornais, revistas e sites é indispensável para formar um repertório de conhecimento e, assim, alimentar ideias e argumentos.
Já a prática faz com que o candidato reconheça a diferença entre os tipos de textos e encontre sua forma de expressão. "É bom escrever o tempo todo, para lapidar o próprio estilo e o senso crítico, que são coisas que não se formam na sala de aula", diz Eclícia Pereira, professora de redação do Cursinho da Poli. A recomendação é válida, já que o texto cobrado anualmente pelo Enem é do tipo dissertativo, ou seja, deve desenvolver um debate crítico sobre o tema proposto com argumentos do aluno para justificar e defender um ponto de vista.
PUBLICIDADE
A pedido de VEJA.com, professores especialistas em Enem selecionaram temas a partir dos quais os estudantes podem se exercitar — o que inclui leitura e reflexão sobre os assuntos e, por fim, redação. São temas que, à luz das últimas edições do Enem, poderiam perfeitamente motivar a redação do exame de outubro. Por isso, vale a pena conferir quais são os temas e como, segundo os professores, é possível desenvolvê-los em uma boa dissertação. Aos tópicos agora exibidos, serão acrescentados outros até outubro. Boa preparação!
Temas que podem motivar a redação
1 - Casamento gay
Contexto: Algumas nações vêm reconhecendo o casamento entre pessoas do mesmo sexo, caso de Argentina, França e Uruguai — o assunto está ainda na pauta de Grã-Bretanha e de vários estados americanos. O tema também avançou no Brasil. Em 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a união estável homossexual. Em maio de 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma resolução que obriga os cartórios a realizar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo — a medida ainda pode ser contestada no STF. Até então, os cartórios podiam se recusar a reconhecer tais uniões, e os casais precisavam recorrer à Justiça.
O assunto pode motivar abordagens como a igualdade de todos perante a lei ou ainda os novos arranjos familiares.
Desenvolvimento: A questão da igualdade de direitos é de fato o primeiro ponto a ser avaliado, diz Eclícia Pereira, professora de redação do Cursinho da Poli. No caso, casais homossexuais passam a ter as mesmas garantias e obrigações dos demais perante a lei.
Outra questão a ser observada é a mudança da estrutura familiar em curso. Além do núcleo tradicional — formado por pai, mãe e filhos —, estabelecem-se outros arranjos, a partir dos casais formados por parceiros do mesmo sexo. Até mesmo a adoção de crianças por esses casais pode ser um tema abordado.
Tenha cuidado: Para a redação do Enem, não importa sua opção sexual. Essa é, aos olhos dos examinadores, uma questão privada. O imporante é reconhecer no assunto um fenômeno social, que tem consequências e desdobramentos na vida de muitos cidadãos.
2 - O petróleo do pré-sal
Contexto: Em 2007, a Petrobras anunciou a extração de petróleo a 180 quilômetros da costa e a 7.000 metros de profundidade, logo abaixo de uma espessa camada de sal. A estimativa inicial é que existam no chamado pré-sal brasileiro — área que se estende por 800 quilômetros do litoral, de Santa Catarina ao Espírito Santo — reservas de até 80 bilhões de barris. Apesar disso, a produção só começará dentro de alguns anos, pois são necessários grandes investimentos para realizar a extração submarina.
Em seus últimos dias de governo, o ex-presidente Lula sancionou a lei que estabelece o regime da partilha da exploração do pré-sal, definindo que estado e empresas dividirão a produção de óleo e gás — à União cabera capturar a maior parte da riqueza gerada com a atividade. A primeira licitação, que dará a um grupo privado o direito de explorar a área de Libra, na Bacia de Santos, será decidida através de leilão marcado para outubro.
O assunto pode motivar indagações como quais as vantagens e desvantagens de um país como o Brasil se tornar um grande produtor de petróleo ou ainda o destino que tal riqueza deve tomar. Governo e Congresso discutem a ideia de reverter parte dos royalties do pré-sal exclusivamente para a educação.
Desenvolvimento: Um encaminhamento possível para a dissertação é observar a questão do ponto de vista econômico. Ser um grande produtor de petróleo certamente terá efeitos positivos para o Brasil. Um caminho complementar é olhar o assunto pela óptica do meio ambiente. Aqui, emerge um detalhe importante: como combustível fóssil, o petróleo não gera energia limpa — caso da eólica e da hidrelétrica, por exemplo. Além disso, é uma energia não-renovável, ou seja, um dia vai se esgotar.
"Temas ambientais são comuns no Enem. Esta pode ser a oportunidade de o aluno apresentar conhecimentos de geografia, por exemplo, e conceitos sobre sustentabilidade", diz o professor de redação do Anglo Eduardo Calbucci.
Tenha cuidado: É importante entender que não existe uma postura certa ou errada no assunto. É possível apresentar visões diferentes de mundo, contanto que o ponto de vista seja defendido com bons argumentos. Deve-se redobrar a atenção para não ficar "em cima do muro" ou se contradizer durante a argumentação.
3 - A lei de cotas nas universidades
Contexto: A presidente Dilma Rousseff sancionou, em agosto de 2012, a lei das cotas, que reserva 50% das vagas de universidades federais a alunos oriundos de escolas públicas. A distribuição das 120.000 vagas a serem ocupadas dessa forma deverá observar ainda a cor da pele dos candidatos – sempre haverá, portanto, vagas reservadas a negros, pardos e índios na proporção dessas populações em cada estado. Metade dessas cotas é voltada a estudantes de famílias de baixa renda. As federais terão quatro anos para se adaptar às regras, sendo que, já em 2013, deverão reservar ao menos 25% das vagas.
Um tema como cotas poderia motivar diversas questões como as seguintes: as cotas universitárias podem minimizar desigualdades sociais no Brasil? Quais as prováveis consequências da adoção das cotas para as universidades brasileiras?
Desenvolvimento: A discussão sobre o sistema de cotas universitárias no Enem dificilmente discutirá se a adoção do mecanismo é certa ou errada, do ponto de vista do candidato. Isso porque as cotas já são uma realidade. Por isso, reflexões produtivas sobre o assunto devem se deter sobre as razões histórica da desigualdade entre os brasileiros e as ações possíveis para minimizá-la.
4 - Redução da maioridade penal
O aumento de crimes cometidos por jovens com menos de 18 anos reacendeu a discussão sobre a redução da maioridade penal para 16 anos. A mudança alteraria o código do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) — que prevê que um jovem seja considerado culpado por suas ações apenas depois dos 18 anos. Isso faz com que a privação de liberdade para menores de idade infratores não supere os três anos.
Os examinadores do Enem poderiam questionar, por exemplo, qual a opinião do candidato sobre a eficácia da redução da maioridade penal.
Desenvolvimento: Para começar a refletir sobre o tema, levante questionamentos como: o que leva pessoas jovens ao crime? Por que elas trilham esse caminho? É um problema social ou de caráter? Questões como essas ajudam a desenvolver um ponto de vista; a partir de então, fica mais fácil defender uma posição ou outra.
Tenha cuidado: As regras do Enem exigem "respeito aos direitos humanos". Sendo assim, qualquer tipo de incitação à violência pode levar à desclassificação do candidato.
...
Colaboraram: Eclícia Pereira (Cursinho da Poli), Filipe Couto (Curso Pré-Enem, da Abril Educação), Vivian D’Angelo Carrera (Cursinho do XI) e Eduardo Calbucci (Anglo Vestibulares)